Restos de sete casas seguem nas águas do Guaíba após enchente de setembro em Porto Alegre

Restos de sete casas seguem nas águas do Guaíba após enchente de setembro em Porto Alegre

Comunidade Mauá, sul da Ilha da Pintada, foi uma das áreas mais afetadas da Capital

Felipe Faleiro

Pescador e morador Rubens Liemes Ribeiro conta que pensou em evacuar família da área

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A presença do vento sul nas primeiras horas da manhã deste sábado novamente preocupava moradores das ilhas de Porto Alegre, alguns dos quais não veem o solo das vias há bastante tempo. Nas margens ribeirinhas, a água insiste em invadir as vias, provocando inúmeros transtornos. Na comunidade Mauá, sul da Ilha da Pintada, uma das áreas de menor altitude da Capital, os danos são visíveis e o cenário é de guerra ao menos desde a grande cheia de setembro, que foi inferior a mais recente, de novembro, porém trouxe mais problemas aos habitantes.

Toda a área é inacessível de carro, com acesso apenas pela ponte provisória para pedestres. E em um canto desta localidade, onde se pode chegar somente por uma série de trapiches de madeira acima da água, estão visíveis apenas os restos de sete casas destruídas pela enchente de quase três meses atrás. “As ondas batiam nas casas, e ouvi tudo caindo. Em um momento, perto das 23h, disse para minha esposa: ‘precisamos evacuar daqui’. Já sabíamos que a enchente ia acontecer, porém não imaginamos que seria tão devastadora”, comentou o pescador Rubens Liemes Ribeiro. 

A casa dele somente resistiu pois é de alvenaria e foi construída mais alta do que as que haviam. Muita madeira das residências destruídas e inclusive eletrodomésticos podem ser vistos na água. “Vamos recolher, mas estamos aguardando a água baixar”, conta ele. No sábado pela manhã, ele mexia em redes, única atividade possível enquanto há o período da piracema, até o começo de fevereiro, para estas pessoas cujo sustento é baseado a vida toda na pesca. 

A esposa de Ribeiro e os quatro filhos, bem como os moradores das outras residências, conseguiram o Bônus Moradia da Prefeitura, e estão vivendo em outros locais, como a própria Pintada. “Não sei quanto tempo vai durar isto. Eu não posso sair daqui, preciso trabalhar”, comenta Ribeiro. Em 27 de setembro, a água do Guaíba no outro lado do curso d’água, no Cais Mauá, no Centro Histórico, subiu a 3,18 metros, marca potencializada pelo vento sul, que represa as águas, e pelos temporais que se abateram sobre Porto Alegre na ocasião. 

As ondas altas que ajudaram a demolir as residências vizinhas da Mauá e chegaram nas janelas da casa de Ribeiro, foram causadas, segundo ele, pela movimentação de navios próximos na área do Guaíba. Já em novembro, quando a marca chegou a 3,46 metros, a área não registrou novos danos significativos, primeiro porque as casas já haviam sido destruídas anteriormente, e depois por não haver o represamento causado pela ventania.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895