Risco de mortandade é iminente no rio Gravataí em Porto Alegre, alerta comitê

Risco de mortandade é iminente no rio Gravataí em Porto Alegre, alerta comitê

Nível de um dos principais cursos d'água da região Metropolitana chegou a praticamente zero no ponto de medição nos últimos dias

Felipe Faleiro

Mato já nasce na terra rachada junto ao Barco-Escola Rio Limpo, em Gravataí

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Esta segunda-feira é mais um dia de mananciais baixos e preocupação com a estiagem, tanto no Guaíba, quanto nos rios que o abastecem. De acordo com o Boletim de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, mantido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), o local chegou ao nível mínimo, de somente um centímetro, na área de captação da Corsan de Gravataí, mas já havia atingido anteriormente nos últimos dias a cota zerada. Gestores públicos continuam monitorando a situação.

Na semana passada, além de a estatal de abastecimento proceder com a construção de um barramento de um metro de altura no bairro gravataiense do Mato Alto, algo inédito para a área, foram ainda identificados na última quinta-feira pontos suspeitos em uma barragem que abastece uma lavoura de arroz, na região de Águas Claras, em Viamão. De acordo com a Prefeitura de Gravataí, a ação envolveu o Grupamento Ambiental da Guarda Municipal de Gravataí, a Guarda Florestal da Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande e a Patram.

Somente em uma das bombas, a vazão estimada pela equipe de fiscalização foi de cerca de 200 litros por segundo, equivalente à metade da capacidade da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Gravataí, responsável por abastecer grande parte do município. O local foi fechado. Tal captura de água contraria uma portaria da Sema de 2020, que cria um gatilho de suspensão da captação aos produtores rurais assim que o nível da régua da Corsan em Gravataí atinge menos do que 50 centímetros da lâmina de água, ou inferior a 1,30 metro na captação em Alvorada.

No Balneário Passo das Canoas, próximo a ERS-118, o nível no começo da tarde desta segunda-feira estava mais alto, de 61 centímetros, porém ainda oscilante. “Nosso grande desafio hoje é tentar conseguir com que a água dos arroios consiga chegar ao leito do rio Gravataí. Onde ela está parando? Acreditamos, nós, mais a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Departamento de Recursos Hídricos da Patram, que esta água está sendo represada dentro das propriedades”, pontua o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy), Sérgio Cardoso.

É que mesmo com este barramento feito pela Corsan, segundo ele, o nível do rio não aumentou, e está acumulando material orgânico. “É importante chamar a atenção para isto. As algas estão se proliferando pelo acesso de esgoto e falta de oxigenação do rio, que não tem mais correnteza”, comenta ele. Com isto, há “risco de mortandade de peixes iminente no trecho de Porto Alegre”, de acordo com Cardoso, que diz ainda acreditar que isto não deve ocorrer na área de Gravataí.

“Pedimos também o apoio para todos que souberem onde há um arroio sendo bloqueado, que faça contato com sua Prefeitura, Patram, órgãos ambientais do Estado e do município, para que haja desobstrução dos arroios e permita que a água chegue no rio Gravataí, para ela não faltar à população”, prossegue ele. Ainda não é totalmente incomum ver moradores de Gravataí extraindo água do rio com pequenos baldes, como na região onde está situado o Barco-Escola Rio Limpo, onde o Gravataí está igualmente baixo.

No final do ano passado, a Fepam determinou a redução em 30% no lançamento de efluentes líquidos no curso hídrico da bacia do Gravataí, sempre que o nível do rio estiver abaixo da vazão de referência, que é de 3,74 metros cúbicos por segundo, medida no Balneário Passo das Canoas. Hoje, no local, o nível estava em 0,49 metro cúbico por segundo. A medida atende a uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e é justificada pela falta de chuva e consequente redução do regime hidrológico da bacia.


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