Saúde dos índios mobiliza autoridades de Tenente Portela

Saúde dos índios mobiliza autoridades de Tenente Portela

A Reserva do Guarita não conta com médico para atendimento à população indígena

Agostinho Piovesan

Índios vendendo marcela em Frederico Westphalen na manhã de hoje, como forma de garantir recursos.

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A necessidade de garantir melhores condições de saúde para os mais de 7 mil índios caingangues que vivem na Reserva do Guarita neste período de enfrentamento do coronavírus foi debatida durante reunião realizada nesta quarta-feira, em Tenente Portela.

No encontro, estiveram presentes integrantes da 19ª Coordenadoria Regional de Saúde (19ª CRS) com sede em Frederico Westphalen, além de representantes da administração pública local, lideranças indígenas e integrantes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde.

Segundo a titular da 19ª CRS, Marly Vendruscolo, a reserva indígena não conta com médico e isso obriga os caingangues a se deslocarem até o Hospital Santo Antônio (HSA) de Tenente Portela para buscarem atendimento para os diversos problemas de saúde. “Isso provoca um acúmulo no HSA, justamente neste período em que está sendo focada a realidade do coronavírus”, observa.

Marly informou que uma parceria entre o poder público de Tenente Portela, Sesai e HSA garantirá que um médico atenda diariamente em dois pontos da reserva, locais onde será feita uma triagem, verificando qual o atendimento específico e, se necessário, haverá o encaminhamento para o HSA. “Isso fará com que os caingangues permaneçam na reserva neste período de necessidade de isolamento, o que garante também um alívio para o Hospital Santo Antônio”, observa a coordenadora.

Ela informou que na reunião foram dados encaminhamentos para que os três poços artesianos já perfurados sejam colocados em funcionamento, garantindo água de qualidade para a população indígena. “É necessário proceder a instalação da rede de energia elétrica, possibilitando acionar o sistema de captação e distribuição de água para a comunidade”, disse.

Marly lembra que é preciso garantir água de qualidade e fortalecer a saúde dos índios. Lembra que na região registra-se uma forte estiagem, com baixa vazão das pontes e rios. Paralelamente a essa realidade, o problema da Covid-19 exige atenção de todos.

A coordenadora de Saúde informou que, nesta quarta-feira, outra reunião foi realizada em Frederico Westphalen com os titulares das quatro Promotorias de Justiça da microrregião do Médio Uruguai. Uma das preocupações dos promotores é quanto à circulação de trabalhadores de municípios gaúchos que se deslocam para o Oeste de Santa Catarina para trabalhar em empresas no estado vizinho.

Ao falar ao Correio do Povo, Marly anunciou que a pasta vai começar uma campanha para que toda a população comece a usar máscaras. “Todas as equipes da 19ª CRS utilizam máscaras e vamos mobilizar os meios de comunicação para que se oriente e se conscientize a população em geral a começar a utilizar máscara, mesmo caseiras, diariamente”, afirmou.

Venda de macela

Nesta quinta-feira, alguns índios caingangues da Reserva Indígena de Iraí comercializaram macela no calçadão da Praça da Matriz, em Frederico Westphalen. Segundo os indígenas, respeitando a distância entre as pessoas por causa do coronavírus, eles se deslocaram 30 km para comercializar o chá, disposto em maços.

Diante da ocorrência da Covid-19, os índios estão impossibilitados de realizar a tradicional venda de artesanato em feiras, já que os eventos foram cancelados. A venda de macela é uma tradição na Semana Santa.

O cacique da reserva, Jadir Jacinto, informou que, nesta sexta-feira, na aldeia será realizado um ritual com queima de ervas medicinais como forma de "espantar a Covid-19" e trazer boas energias para a população em geral. Na reserva de Iraí, vivem mais de mil pessoas.


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