Saiba como estão as vítimas um mês após tragédia no litoral norte de SP

Saiba como estão as vítimas um mês após tragédia no litoral norte de SP

Moradores afirmam que governo e prefeitura não mostram a realidade. Um deles diz que a vida tem sido "miserável"

R7

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“Acharam um corpo perto da minha casa. Tem uma plaquinha vermelha na minha porta indicando risco, e eu não tenho dinheiro para pagar um aluguel ou para onde ir. Estou nas mãos de Deus”, declarou, com a voz embargada e lágrimas nos olhos, uma idosa conhecida como ‘dona Naná’, que é uma das fundadoras da Vila Baiana, que hoje é chamada de Barra do Sahy, uma das regiões mais afetadas pelas fortes chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo no fim de semana do Carnaval.

A declaração de Naná ocorreu em meio a uma manifestação de moradores da cidade de São Sebastião, angustiados com a falta de resposta e apoio das autoridades públicas. A tragédia deixou ao menos 65 pessoas mortas, de acordo com a última atualização do governo estadual, fora as 1.096 pessoas desabrigadas.

O vídeo de desabafo da idosa foi feito por Larissa Vitória e enviado ao R7. A mulher, que é mãe solo, também perdeu tudo na tragédia e segue na busca por seus direitos. Segundo ela, que não só tem vivido, mas acompanhado o drama das centenas de famílias vítimas deste desastre, “o que parece é que o governo e a prefeitura têm enrolado o povo”.

Durante a manifestação, cartazes com perguntas como “onde está todo o Pix que foi doado?”, “Qual será o destino de todo esse dinheiro?”, “Estamos sem casa, o que vamos fazer agora?”, chamaram a atenção nas ruas da cidade.

Como são os abrigos?

As pessoas que saíram vivas dos desabamentos e deslizamentos foram, inicialmente, abrigadas em escolas da cidade. Depois de algumas semanas, a prefeitura e o governo estadual disponibilizaram vagas em hotéis e pousadas gratuitamente, tanto para essas vítimas, quanto para aquelas que moravam em áreas de risco.

“Sem privacidade, sem respostas de como será depois e na muvuca”, são as descrições feitas por um pedreiro, que preferiu não se identificar, sobre o tempo que ficou abrigado em uma escola. Agora, na pousada, segundo ele, a sensação é a mesma, isso porque um quarto precisa ser dividido para duas ou três famílias.

“Todos estão desconfortáveis, a gente perdeu tudo, nosso lar, nossas coisas, agora a gente vive de doação e com a ajuda do governo, que a gente nem entende ao certo o que está fazendo. Estamos na miséria, infelizmente. O prefeito, o governador e até o presidente não querem mostrar isso, mas essa é a verdade que estamos vivendo na pele”, afirmou o pedreiro, de 52 anos.

A funcionária doméstica Rosimeire Nascimento dos Santos, também passou pelo abrigo da escola e, depois, ela e a família foram encaminhadas para a pousada. Longe do trabalho e sem auxílio para o transporte, a mulher, o marido e o filho juntaram o que tinham ganhado de doação e foram morar com o patrão dela, em um quartinho pequeno.

No tempo em que estava na pousada, Rosimeire revelou que presenciou algumas brigas e que, apesar da situação em que todos deveriam ter empatia, não é fácil que diversas famílias morem no mesmo lugar, sejam obrigadas a dividir tudo, “sem falar no abalo que só Deus sabe o que cada um está sentindo com tudo isso”, completou.

Famílias abrigadas em pousadas são obrigadas a ir para moradia popular

Ainda segundo Larissa Vitória, algumas famílias passaram a ser obrigadas a sair das pousadas em que estão abrigadas, na sexta-feira (17), e irem para a moradia popular construída em Bertioga. A mulher explica que, boa parte dos desabrigados moravam na Barra do Sahy, Barra da Una, Baleia Verde, Juquehy e Camburi, e tinham vidas estabelecidas nessas regiões, como trabalho, escola e creche dos filhos. Com a mudança, a rotina dessas famílias será alterada mais uma vez.

No entanto, este não é o único problema. Segundo as vítimas, a moradia popular em Bertioga tem cerca de 300 apartamentos e não deve dar para a quantidade de famílias que perderam as casas.

Larissa conta, ainda, que haviam pessoas que esperavam na fila para conseguir um apartamento na moradia popular de Bertioga há mais de 14 anos e, agora, com o caos que as chuvas instauraram em alguns bairros, as vítimas da tragédia estão sendo prioridade para receber o lar.

Ela esteve presente em uma manifestação do grupo que aguardava para conseguir o apartamento. Um vídeo enviado à reportagem mostra diversas pessoas gritando “queremos nossa chave” em frente aos prédios.

O R7 pediu um posicionamento sobre o caso para a Prefeitura de São Sebastião e para o Governo do Estado de São Paulo, mas, até o momento, não obteve retorno.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895