Solidariedade marca entrega de doações a desabrigados em São Leopoldo

Solidariedade marca entrega de doações a desabrigados em São Leopoldo

Cerca de 350 pessoas desalojadas estão no Ginásio Municipal Celso Morbach, onde voluntários trabalham para amenizar a situação

Christian Bueller

Casal José e Maria e o "membro da família" Beethoven esperam voltar para casa logo

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Um extenso e solidário cordão humano. A primeira imagem à vista de qualquer pessoa que chegava ao Ginásio Municipal Celso Morbach, em São Leopoldo, neste sábado, era de dezenas de voluntários - entre crianças, adultos e idosos -, lado a lado, que recebiam doações diretamente dos carros, do asfalto da rua Dom João Becker, no Centro, e as repassando, mão a mão, até a entrada do local.

Os destinatários são os desabrigados impactados pelo ciclone extratropical que atingiu o RS e que estão, provisoriamente, no ginásio até poderem voltar para suas casas. Algumas destas pessoas, perderam tudo e ainda não sabem para onde vão. O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, decretou situação de calamidade pública no município, castigado pelos 246 mm de chuva entre o meio da noite quinta-feira e a madrugada de sexta, um volume histórico nunca antes registrado na cidade.

Até o início da tarde de sábado, mais de 200 voluntários, entre funcionários públicos, integrantes de instituições, profissionais de empresas e membros da comunidade, recebiam roupas, edredons, alimentos, água, materiais de higiene, colchões e outros objetos que chegavam a todo o momento para auxiliar os desabastecidos. “Na sexta-feira, não eram tantas pessoas. Mas, hoje (sábado), o pessoal acordou com vontade de ajudar e começou a chegar, com este intuito”, disse o guarda municipal Elton Souza. Enquanto os desabrigados estão acomodados na quadra poliesportiva dentro do ginásio, os donativos são separados por características nas arquibancadas: cobertores e colchões de um lado, papéis higiênicos e fraldas em outro.

Segundo o secretário de Assistência Social de São Leopoldo, Fábio Bernardo, são 600 pessoas desalojas e divididas em cinco pontos. “O ginásio é o maior deles, com 350 desabrigados. Temos visto uma solidariedade incrível dos moradores, a quem agradeço. Montamos uma cozinha social, mas muitos pratos e cafés estão chegando prontos para servirmos os que estão aqui”, conta. Ele acredita que, entre domingo e segunda-feira, os impactos pela chuva começarão a voltar para suas moradias. “Vamos precisar de mais materiais de higiene e limpeza para que aqueles locais sejam limpos na intenção dos retornos”, lembrou o secretário.

Ediani de Azevedo, 43 anos, espera por momento com ansiedade. Ela, o marido e duas filhas precisaram sair da residência em que vivem assim que viram a água chegando às canelas quando acordaram na manhã de sexta-feira. “Começou a subir rapidamente, não deu para ficar”, lamenta a moradora do bairro Santos Dumont que ouviu a informação de que o Rio de Sinos voltará a elevar, aumentando o receio de voltar para casa.

Assim como Ediane, o casal Maria Carvalho, 62 anos, e José dos Santos, 60 anos só teve tempo de pegar algumas roupas e medicamentos. “Começou a chuvarada e quando vimos que não teria mais jeito, peguei a minha ‘receita’, saímos de casa e dormimos na rua”, conta a aposentada. Deitados em colchões doados, eles esperam reencontrar o lar assim que puderem. Em um papelão estirado ao Lado da cama improvisada, o cachorro Beethoven repousava calmamente. Ele foi resgatado por José quando o nível da água atingiu 30 cm. “Para chegar na casa, é pior, o volume ‘batia’ nos meus peitos. Não podia deixar o Beethoven, ele é como da família”, explica o José, que esperava a doação de um casaco para amenizar o frio.

José acredita que vai poder retomar a vida assim que retornar. Mesmo sorte não tiveram os ex-companheiros, mas ainda amigos, João Nascimento e Dinorá Fernandes, que perderam tudo. Eles moram em casas diferentes e passaram pela mesma situação: frágeis residências de madeira que não caíram, mas que foram tomadas pelas águas da chuva. Ambos exibiam sorrisos no rosto para um pequeno Tomás Miguel, de dois anos de idade, neto de João, que devorava um prato de arroz e feijão. “Foi bastante água. Não conseguimos trazer nada. Se foi cama, TV, geladeira, foi tudo”, disse o morador do bairro Chácara dos Leões, que ainda desconhece o que o futuro lhes reserva.

No ginásio, é realizada uma triagem e acolhimento. Se é verificada alguma anormalidade um atendimento médico é realizado no Ônibus da Saúde e são disponibilizados medicamentos através da Farmácia Móvel. Quem está com roupas molhadas recebe agasalhos e há espaço para os animais de estimação.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895