Superlotação e demora no atendimento na saúde de Porto Alegre é realidade

Superlotação e demora no atendimento na saúde de Porto Alegre é realidade

Reportagem percorreu quatro locais de atendimento e constatou de perto o cansaço, desespero, sentimento de impotência e revolta dos pacientes e de seus familiares

Paula Maia

A reclamação na fila de espera era sobre a demora no atendimento e a falta de comunicação.

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A superlotação e demora no atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e de Pronto Atendimento de Porto Alegre é uma realidade. A reportagem do Correio do Povo percorreu quatro locais de atendimento, na noite desta quarta-feira, e constatou de perto o cansaço, desespero, sentimento de impotência e revolta dos pacientes e familiares.

O Postão da Cruzeiro foi o primeiro na rota. A dona de casa Adriana Moraes, de 53 anos, revelou que chegou com o neto de 2 meses, às 18h. "Ele foi encaminhado para a emergência e, até agora, duas horas depois, ainda não sei de nada. Ele tá ali no oxigênio e ainda não sabemos se vai ser internado em algum hospital pediátrico”. Adriana é moradora da região há mais de 20 anos e diz que a situação é a mesma ano após ano. “Eu estou de coração apertado com toda essa situação, mas a realidade do posto é essa. Sempre lotado”, desabafou.

Adriana Moraes afirmou que estava com o coração apertado esperando informações sobre o neto de dois meses | Foto: Fabiano do Amaral

Logo na chagada à Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus, no bairro Bom Jesus, o motorista de aplicativo Nedis Camargo Nunes, afirmou que a lotação na Unidade de Saúde é diária. “Isso é uma vergonha. As pessoas vêm aqui, reclamam e ninguém faz nada. Faz oito anos que trabalho aqui e é sempre assim”, desabafou.

A cuidadora Elisiane da Silva, de 42 anos, revelou que estava com o marido José Carlos, de 52 anos, há mais de 12 horas, no local. “Ele está sentando lá dentro, em jejum, com suspeita de apendicite e nenhum médico olha os resultados dos exames para saber. Vou ali e pergunto e só dizem que falta o médico”. Ela ainda afirmou que durante a tarde, na UBS Bom Jesus, a situação estava ainda mais crítica. “Isso aqui estava pior mais cedo. Teve mãe que estava desesperada aqui. Quase deu tumulto”.

A autônoma Daiana, de 38 anos, disse que chegou perto das 15h com o filho de 11 anos, apresentando febre e tosse, e recebeu alta cinco horas depois. “Na segunda-feira trouxe meu filho caçula, de cinco anos, e foi a mesma coisa, aqui na Bom Jesus”, revelou

Na UBS Bom Jesus, os relatos eram de mais de 12 horas de espera | Foto: Fabiano do Amaral 

Uma funcionária do posto da Lomba do Pinheiro, que não quis se identificar, disse que por noite costuma atender de 70 a 80 pessoas e já faz algum quase um mês que o atendimento está três vezes mais do que o normal. A servidora também comentou que cinco médicos estavam naquele plantão noturno. A cozinheira Jéssica Lima, 30 anos, afirmou que chegou às 15 horas com a filha de 13 anos. “Ela estava com muita dor de estômago. O atendimento para a triagem demorou duas horas e agora, perto das 20 horas ainda estamos aguardando a reavaliação do médico”, explicou.

A Unidade de Pronta Atendimento Moacyr Scliar, na zona Norte, foi a única que estava distribuindo máscaras para os pacientes assim que chegavam. Lá o movimento era menor, comparado com os outros locais. A auxiliar administrativo Michele Bauermam, que estava acompanhando sua mãe, disse que estava há uma hora esperando o rertorno da avaliação. Antes de vir aqui fui na Bom Jesus e estava lotado”.

Em nota, a  Secretaria Municipal de Saúde afirmou que "acompanha diariamente a movimentação das portas de urgência e emergencia da capital. O grande movimento vem de fatores como o acúmulo de casos de doenças crônicas que ficaram sem acompanhamento na pandemia - como diabetes e hipertensão. Somasse a isso a demanda de municípios da região metropolitana que vem sofrendo com fechando e redução de serviços, trazendo para a capital pacientes que antes eram atendidos nestes municípios. Casos leves tem sido os que levam mais tempo para serem atendidos. Por isso a orientação é para que os pacientes busquem os 16 postos de saúde que atendem até as 22 horas."

 


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