"Temos que ser fortes e continuar", diz gestante alojada em barraca na Ilha das Flores

"Temos que ser fortes e continuar", diz gestante alojada em barraca na Ilha das Flores

Moradores recebem auxílio da Prefeitura de Porto Alegre, porém temem por escorpiões nos locais improvisados enquanto esperam voltar às suas casas

Felipe Faleiro

Andriele, Janice e Jéssica: amigas estão alojadas às margens da BR 290, na Capital

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Os moradores do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, temem que a chegada de novas chuvas, previstas para esta terça-feira, atrase os trabalhos de limpeza das casas e ruas, afetados pelos mais recentes episódios históricos de precipitação. Para estes, a reconstrução é lenta e requer paciência, depois de a água ingressar nas casas, causando prejuízos incalculáveis. O número de pessoas nos dois abrigos temporários da Prefeitura soma 44 famílias e 148 pessoas.

Ocorre que há tempos, o asfalto não é visível em trechos da avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, na Pintada, situação que tende a permanecer e voltar a se agravar com a continuidade das chuvas intensas. Na Ilha das Flores, dezenas de famílias ainda estão em barracas às margens da BR 290, recebendo auxílio da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) em uma tenda, bem como da Guarda Municipal e Brigada Militar, tendo à disposição dois banheiros químicos para uso comum. Temem ainda pelo excesso de escorpiões na área.

Os habitantes relembram com angústia dos momentos da tormenta, em que precisaram sair de casa somente com a roupa do corpo, em alguns casos. A dona de casa Janice dos Santos, grávida de 37 semanas, é um destes casos. Ela terá um menino, se somando a outros quatro filhos, com idades entre 6 e 13 anos. “Temos que ser fortes e continuar. Na verdade em nenhum momento procuramos demonstrar tristeza, porque, para eles, tudo é uma festa, porém eles não têm noção do que está acontecendo”, comentou ela, que estava abrigada na manhã desta segunda-feira em uma das estruturas improvisadas com lonas, precárias, e onde a chuva ingressa.

Também dona de casa, Jéssica Silva, amiga de Janice, tem três filhos, entre 9 e 17 anos. Além das crianças, ela se disse preocupada com seus animais, sendo que um cãozinho deles foi atropelado no domingo na rodovia e morreu, depois de se soltar da família. Agora, eles convivem com algumas cabras e galinhas, e por conta de cuidar deles, recusou ir a um abrigo oferecido pela Prefeitura. “A gente só conseguiu sair de casa com o que foi possível. Até estamos recebendo auxílio e está sendo bom, mas nos dois primeiros dias, não tínhamos recebido nada”, comentou ela.

Sem conseguir trabalhar em alguns casos, os moradores passam as horas confraternizando entre si, conversando e buscando a oportunidade para voltar às suas casas. Há pontos em que a água ainda está nas residências, impossibilitando um retorno seguro neste momento. A moradora Andriele Benitez Machado, mãe de dois filhos de 10 e 7 anos, e também está alojada nas lonas temporárias. “Temos esta esperança do retorno”, afirmou Andriele.


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