"Temos uma nova data de nascimento", diz moradora de Caraá que teve a casa destruída pelo ciclone

"Temos uma nova data de nascimento", diz moradora de Caraá que teve a casa destruída pelo ciclone

Município do Litoral Norte é o que soma o maior número de pessoas desaparecidas neste sábado

Kyane Sutelo

Angela e Celso Quaresma não estavam na cidade no momento em que casa foi destruída pelo ciclone

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Sobre os escombros da casa em que moravam há um ano, Angela e Celso Quaresma tentavam localizar pertences na manhã deste sábado. No chão, a foto do casamento deles, era a lembrança do plano de passar os próximos anos fazendo companhia um para o outro na tranquilidade do interior de Caraá, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. "É uma coisa que não tem explicação. Tu olhar, perguntar 'onde está tua casa?' e não achar", relembra Angela. O município é o que registra maior número de desaparecidos: 18 pessoas até 16h de hoje.

A assistente social atribui o fato de ela e o marido estarem vivos a um milagre. Eles havia saído de casa para uma consulta médica em Novo Hamburgo, onde moram os três filhos do casal, e acabaram resolvendo outras questões e pegando a estrada de volta somente de noite. Mas não conseguiram chegar na cidade. "Quando chegamos na ponte do Carvalho, ela caiu na nossa frente", conta Angela. 

Foto: Guilherme Almeida

Eles fizeram retorno e escolheram outro acesso. Com medo de ficar sem gasolina durante a madrugada, dormiram no carro em um posto de combustíveis e aguardaram o local abrir. Chegaram no início da manhã de sexta-feira ao terreno. No lugar da casa, destroços. "Se estivéssemos aqui, estaríamos no quarto e não teríamos visto acontecer", diz ela. E afirma: "temos uma nova data de nascimento". 

Neste sábado, os filhos e alguns vizinhos ajudavam o casal a resgatar itens em meio à lama, como eletrodomésticos, utensílios de cozinha e brinquedos dos netos. Angela se emociona ao falar dos pequenos. "Eles adoravam vir para o sítio", lamenta a avó, lembrando de momentos de festa e alegria no local, que não poderão se repetir. Ela conta que ficarão hospedados temporariamente com os filhos, mas sonham em voltar. "Temos que ver se a prefeitura vai deixar construir novamente aqui", afirma.

Apesar da perda da casa e de praticamente todos os bens, foi a solidariedade que fez Angela chorar. "Olha a quantidade de gente que tem nos ajudando. Todos nós ofereceram casa para ficar", observa. Segundo Angela, receberam doações de roupa em grande quantidade e pretendem levar o excedente a quem também precisa.


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