“Temporal foi pior que o de janeiro”, diz moradora de Porto Alegre que teve grade destruída por árvore
Habitante da Ilha das Flores ficou presa na própria residência após queda de vegetal
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Porto Alegre vive nesta quinta-feira um dia de caos causado pelo temporal como há muito não se via. No período da manhã, havia bloqueios totais em quatro vias e parcial em uma, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), além de 59 semáforos fora de operação por falta de energia. No entanto, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) havia registrado, até as 11h50min, 75 ocorrências de quedas de vegetais. Escolas municipais não funcionaram e o South Summit precisou postergar em uma hora sua abertura.
O volume de chuva foi relativamente baixo, alcançando 10,3 milímetros no pluviômetro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Jardim Botânico e 9 milímetros no equipamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Assim, não houve registro de alagamentos na Capital. Já o vento alcançou 90 quilômetros por hora na Capital, também segundo o Inmet, citado pela MetSul Meteorologia.
No começo da manhã, o prefeito Sebastião Melo esteve no Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic), onde se reuniu com órgãos do governo e a CEEE Equatorial para avaliar a resposta à tormenta. Depois, afirmou à reportagem que esta era uma “prova de fogo” para a companhia de energia, depois dos temporais de 16 de janeiro, que causaram transtornos até um mês mais tarde, mas que a relação entre as partes havia “melhorado muito” desde então.
“Queremos trabalhar juntos para resolver os problemas”, disse ele. Ao todo, o temporal deixou 280 mil moradores de Porto Alegre sem energia. Das seis Estações de Tratamento de Água (ETAs) do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), quatro ficaram sem luz: Belém Novo, Menino Deus, São João e Ilha da Pintada, sendo que, até a metade da manhã, as três primeiras já estavam com o serviço normalizado. A situação afetou o abastecimento em 72 bairros. Além disto, 11 Estações de Bombeamento de Água Tratada (Ebat) também tiveram falta de luz.
No Arquipélago, foi necessário encaminhar caminhões-pipa. Conforme a chefia da ETA da ilha, o maior problema foi registrado em ilhas como dos Marinheiros e das Flores, mas não na própria Pintada, onde a reserva dos tanques era suficiente para abastecer os habitantes. Segundo a Defesa Civil Municipal, 35 ocorrências foram atendidas em razão do temporal, como casas destelhadas, atendimentos no Parque Harmonia e queda de vegetais sobre casas.
Um destes caiu sobre a grade da residência da cozinheira Cláudia Alves, na Rua do Pescador, na Ilha das Flores, bloqueando o portão da mesma e impedindo sua saída. “Esse temporal foi pior do que o de janeiro, o vento foi mais forte”, comentou ela, acrescentando que a ventania iniciou às 4h40min, e a árvore, que ficava na área externa e em cuja sombra os moradores locais utilizavam para realizar confraternizações eventuais, caiu 25 minutos mais tarde. “Só ouvi o estrondo. Trabalho em um hotel no Centro, e liguei avisando que não poderia trabalhar”, informou Cláudia.
Apesar da sensação de Cláudia, a MetSul Meteorologia destaca que a tempestade não foi pior que a de janeiro. No temporal do primeiro mês do ano, as rajadas foram menores que as registradas hoje nas estações do Instituto Nacional de Meteorologia, porém, outros eventos precisam ser avaliados para definir qual das duas foi pior.
"O temporal de hoje, então, foi pior que o de janeiro? De jeito nenhum! Em janeiro, embora registros menores em estações oficiais que hoje, o vento muito intenso durou muito mais tempo, aumentando os danos, e medições não oficiais na cidade indicaram vento até perto de 130 km/h. O temporal de janeiro ainda teve chuva extrema (60 mm em uma hora). Cada episódio de temporal tem sua própria história e o mais importante é sempre focar nos riscos que em comparações antes mesmo de os eventos ocorrerem. Porque mesmo eventos menores que o de janeiro podem trazer grandes impactos para a população, tal qual se vê hoje", publicou a MetSul.
Outra árvore caiu perto da fiação na rua Dr. Timóteo, bairro Menino Deus, deixando grande parte da região sem luz. Em uma churrascaria, o proprietário Fabrício Kuhn Aita estava preocupado com a interrupção do serviço, tentando, ainda sem sucesso, alugar um gerador. O local, de tradição familiar, abriu ontem pela manhã, mas não pôde funcionar. Carnes foram levadas a câmaras frias em estabelecimentos de amigos, distantes dali. “Nós ficamos apreensivos mais é com a falta de ação por parte da CEEE Equatorial, que parece não ter aprendido a lição. Talvez até tenha piorado”, relatou ele.
Na avenida Osvaldo Aranha, em frente ao Parque da Redenção, no Bom Fim, o porteiro Maicon Souza relatou que o edifício em que ele trabalha, com 65 apartamentos, também estava sem luz. Ali perto, agentes da EPTC orientavam o trânsito, porém eles não estavam em todos os lugares afetados, exigindo paciência e atenção redobrada aos motoristas. “Toda a região está sem energia”, comentou ele. Perto dali, o estudante Alejandro Alonso buscava um veículo de aplicativo. “As tarifas estão mais altas agora”, reclamou.