"Tenho pesadelos com afogamentos", diz moradora de Porto Alegre após casa ser destruída por chuvas

"Tenho pesadelos com afogamentos", diz moradora de Porto Alegre após casa ser destruída por chuvas

Thamires da Cruz dos Santos, marido e duas filhas foram encaminhados para abrigo na Ilha Grande dos Marinheiros

Felipe Faleiro

Ilha da Pintada é um dos locais ainda afetados pela enchente

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Quando chove mais forte, o bairro Arquipélago concentra a maior parte dos locais com maior acúmulo de água nas ruas e casas em Porto Alegre. Uma base da Defesa Civil Municipal foi montada na Escola Estadual Alvarenga Peixoto, na Ilha Grande dos Marinheiros, tanto como ponto de partida das ações pontuais, como disponibilização de água e doações, quanto abrigo para 15 pessoas na manhã desta sexta-feira.

Uma mulher, moradora da Ilha do Pavão, chegou a ser encaminhada ao Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul com suspeita de tuberculose, segundo a Prefeitura, mas seu diagnóstico foi negativo. “Uns três dias antes da enchente aqui, começamos a monitorar a situação na Serra, já que se sabia que esta água desceria para cá. Anteontem, o rio chegou ao limite de alerta, que é de 1,90 metro na Ilha da Pintada. Ontem, chegou a dois metros, e algumas pessoas pediram para sair de casa, principalmente nos Marinheiros e Pavão”, contou o chefe do grupo de Reação e Assistência da Defesa Civil de Porto Alegre, Lindomar Constante.

O pedido de retirada foi porque a água já estava ingressando nas casas. Há muitos locais em que só é possível ingressar de barco, e, nestes, há quem já esteja acostumado à situação, e opta por permanecer em casa, mas não deixa de receber assistência. Ainda que mais associadas às ilhas, as enchentes, contudo, afetam também a população da mancha urbana. Moradora da Vila Areia, uma das áreas mais carentes de Porto Alegre, Thamires da Cruz dos Santos, 24 anos, foi levada para lá, junto com o marido, Paulo Ricardo Lopes dos Santos, 21, e as duas filhas, Maria Clara, dois anos, e diagnosticada com autismo, e Maria Antonella, de nove meses.

O drama da família foi contada pelo Correio do Povo em julho deste ano. Na ocasião, o ciclone extratropical que se abateu sobre o estado um mês antes arrasou a casa simples em que vivem, junto a um açude repleto de plantas aquáticas e lixo. De lá para cá, a situação não melhorou. “Quando iniciou a chuva, acordava a noite toda, só consegui tirar um cochilo. Quando vi que estava entrando em casa, chamei a Defesa Civil, e fiquei esperando eles por mais de uma hora na chuva, em uma areazinha. A água estava na altura do meu joelho”, relatou ela.

Eles foram resgatados, porém só conseguiram sair da casa com fraldas, lenços e a roupa que vestiam. Vídeos gravados por Thamires mostram a água descendo pelo telhado improvisado por sobre as crianças. “Chegando aqui no colégio, tomamos um banho e comemos alguma coisa. Dormi, mas acordo com pesadelos com água e afogamentos até agora. E só choro. Não queria estar do jeito que estou. Minha pressão está alta”, comentou ela, que tem depressão e faz uso de medicamentos controlados. Assim como em julho, tanto ela quanto o marido estão desempregados. A base tem o apoio de equipes da abordagem social da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Guarda Municipal, Brigada Militar (BM), entre outros órgãos. 

“A ação conjunta com a Defesa Civil foi bem-sucedida. Conseguimos atender as emergências e as equipes seguem em alerta”, afirmou o presidente da Fasc, Cristiano Roratto. Há 12 anos na Defesa Civil e há dois na chefia de Reação e Assistência, Constante afirma que esta não é a pior enchente que já enfrentou, também em razão de que a força das águas não é comparável ao que ocorreu no Vale do Taquari, por exemplo. “A gente chega para ajudar as pessoas daqui e elas se compadecem. Lá nos Vales, eles estão muito pior do que nós. Tenho sentido que as pessoas têm muito mais se solidarizado com o que está acontecendo lá”, observou ele.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895