Terminais de ônibus sofrem com a precariedade em Porto Alegre

Terminais de ônibus sofrem com a precariedade em Porto Alegre

Oito destes espaços integram contrato de manutenção assinado pela Prefeitura na metade deste ano

Felipe Faleiro

Elevador e parede com pichações no terminal do Viaduto José Eduardo Utzig, no bairro São João

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Os terminais de ônibus são utilizados por milhares de pessoas todos os dias em Porto Alegre. São espaços de convivência pelos quais muitos circulam, embarcando e desembarcando em linhas que se movimentam por toda a cidade. Locais estes que deveriam estar em condições adequadas de uso. No entanto, não é o que acontece na maioria dos casos na Capital. Em agosto deste ano, a Prefeitura assinou um contrato de manutenção de oito deles, com validade de um ano, prorrogáveis por outros cinco. O investimento inicial é de R$ 2,2 milhões.

O primeiro a ser concluído foi o Princesa Isabel, no bairro Azenha, entregue no último mês de outubro. O próximo na lista é o Antônio de Carvalho, na Agronomia, cujas reformas estão em execução, de acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU). Na manhã da última quinta-feira, o terminal passava por pintura das vigas. “Acho que vai ficar muito bom quando estiver pronto. Antes estava horrível”, comenta a diarista Maria Regina Ribeiro, moradora da Restinga, e que aguardava um transporte por aplicativo no local. Ela disse frequentar diariamente o espaço.

O Mendes Ribeiro é um verdadeiro complexo de viadutos. Subindo por três níveis no cruzamento entre a Carlos Gomes e Protásio Alves, no bairro Petrópolis, o terminal tem a maioria das escadas rolantes fora de funcionamento, Alguns moradores de rua fazem abrigo junto às marquises dos prédios próximos, e em meio aos corredores escuros, há muitas pichações e o cheiro de urina é forte. Os banheiros, no entanto, estavam limpos, graças a funcionários da Cootravipa que estavam próximos. Os muros que ladeiam a avenida estão com a tinta descascando.

Frequentadores afirmam que há falta de segurança na área, coincidindo com um posto desativado do 11º Batalhão de Polícia Militar (11º BPM), ao lado de um posto de combustíveis também em ruínas. Um dos elevadores também estava desativado na quinta. Conforme um terceirizado que estava no local, eles são desligados propositalmente todas as noites, e religados no período da manhã, já que as linhas não circulam em todos os horários, e há risco constante de assaltos.

No terminal do viaduto José Eduardo Utzig, no bairro São João, uma das escadas rolantes também não funcionava na manhã de quinta, e algumas calhas apresentavam visíveis sinais de ferrugem. Um dos letreiros do nome do local tinha a inscrição apagada, e um elevador também estava estragado. Pichações eram visíveis por toda parte. Porém, o estado do terminal estava melhor no conjunto do que outros visitados pela reportagem.

O Terminal Cairú, no bairro São Geraldo, apresentava bom aspecto em geral. Ocupando um espaço menor e lateral à avenida Farrapos, ele é composto de diversas paradas de ônibus em área aberta, e não havia sinais evidentes de deterioração. Ele não está incluído no pacote de manutenções neste primeiro momento pela Prefeitura. Já o Triângulo, no Sarandi, também deve passar por reformas em breve, ainda que seu telhado tenha sido revitalizado há cerca de dois anos, em uma parceria com o Grupo Zaffari. 

“Como houve a parceria com a iniciativa privada, acredito que houve mais atenção. Está bem mais seguro agora. É uma área bastante comercial, então é bastante frequentado”, disse o analista gráfico Otávio Talgatti, que passava pelo terminal acompanhado da comerciante Deise Lima, também sua esposa, e que cuida de uma banca no Triângulo. Agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) inspecionavam o local.

No Centro Histórico, os terminais Parobé e Rui Barbosa, próximos um do outro, passam por situações distintas. Enquanto o primeiro integra o pacote da Administração, o segundo não está incluído. No Parobé, há vidros quebrados, alguma sujeira no chão e o pavimento é irregular. No Rui Barbosa, a iluminação é precária e uma das maiores reclamações está relacionada à falta de sinalização e o excesso de moradores de rua. "É um lugar sujo e com poucos fiscais. Em alguns momentos, é bem deserto, o que dá medo. A falta de placas também confunde", diz a assistente de RH Flora Bonilha, moradora do Sarandi.

O que diz a Prefeitura

O secretário adjunto da SMMU, Matheus Ayres, afirma que a gestão identificou desde o início que os terminais da Capital estavam em precárias situações. Segundo ele, os oito locais escolhidos para projetos de manutenção neste primeiro momento consideraram desde o número de passageiros até as condições dos mesmos e o período de tempo desde a última reforma. Passado este contrato, outros terminais serão contemplados.

“No Rui Barbosa, por exemplo, queremos desenvolver o trabalho de iluminação. No caso, o POP Center terão de nos ajudar também na manutenção”, revela ele, dizendo ainda que o planejamento deste segundo projeto deve ficar para o primeiro semestre de 2023, e a execução, “se tudo correr bem”, diz Ayres, para a segunda metade do ano. Os seis terminais contemplados no projeto atual e visitados pela reportagem têm seus projetos cumpridos em partes, conforme o secretário-adjunto.

“Identificamos graves problemas de segurança, como roubos frequentes de cabos e fios. Acreditamos que fazendo a manutenção, pintura, limpeza, e ainda preenchendo os espaços com ambulantes e comerciantes, vamos dar um passo adiante da situação que temos hoje. Estes espaços estarão revitalizados para receber permanentemente nossos agentes de fiscalização”, diz. A situação refere-se especialmente aos três terminais da 3ª Perimetral: José Eduardo Utzig, Jayme Caetano Braun e Mendes Ribeiro, cujas manutenções devem iniciar no próximo verão, e que deverão contar também com câmeras de segurança ao final do projeto.

Questionado sobre o posto abandonado da Brigada Militar no Mendes Ribeiro, Ayres diz que há um trabalho integrado do Fórum Transporte Seguro, formado por órgãos diversos, e que se reúne a cada 15 dias. Uma de suas atividades, diz ele, é “pensar em alternativas para realizar a manutenção dos espaços antes ocupados por forças de segurança”. “Trouxemos o fórum para dentro do projeto da revitalização dos terminais para que eles possam contribuir materialmente e consigam fazer pontos fixos de segurança neles”. Por meio dele, a Capital conseguiu reduzir, por exemplo, os assaltos a ônibus em 95% neste ano em comparação com 2016.

Quais são os oito terminais contemplados pelo atual contrato de manutenção

- Princesa Isabel (Azenha), concluído
- Antônio de Carvalho (Agronomia), em andamento
- Nilo Wulff (Restinga), não iniciado
- Parobé (Centro Histórico), não iniciado
- Triângulo (Sarandi), não iniciado
- José Eduardo Utzig (São João), não iniciado
- Jayme Caetano Braun (Petrópolis), não iniciado
- Mendes Ribeiro (Petrópolis), não iniciado


Correio do Povo
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