Uma Porto Alegre “seca” com ritmo diferente

Uma Porto Alegre “seca” com ritmo diferente

Cenário é diferente em bairros que não foram afetados pelas enchentes

Mauren Xavier

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As imagens do avanço das águas cobrindo de marrom regiões de Porto Alegre localizadas às margens do Guaíba impressionam e assustam. Trazem desespero. São milhares e milhares de desabrigados. Pessoas que tiveram que fugir de casa.

Porém, basta caminhar algumas quadras e ver que a paisagem começa a mudar.
A água da calçada desaparece. Já a luz aparece. O trânsito flui com mais tranquilidade. O café tem clientes. Pessoas fazem exercício físico.

Não é que as regiões não afetadas pelas águas e seus moradores estejam ignorando o que está acontecendo. Ao contrário. Praticamente todas as conversas giram em torno disso. Todos de alguma maneira estão sendo impactados, mas o ritmo é diferente. O som é diferente.

E isso ficou bem evidente ao longo desta quarta-feira, tão atípica em Porto Alegre. Com as aulas suspensas, as crianças estão na rua e na praça. Ou ainda o comércio de bairro, que têm itens nas suas prateleiras, mesmo a ausência de água que impera em todos os lugares. O próprio abastecimento tem sido o serviço que acabou por impactar todos os porto-alegrenses de alguma forma.

Mas voltando ao caminho da saída da Cidade Baixa, passando pelo Parque da Redenção e chegando no bairro Bom Fim o clima muda. Mesmo sem água nas ruas, a região tem sentindo as consequências da enchente. Os mercados e supermercados têm falta de alguns produtos, como ovo e farinhas, sendo possível ver prateleiras vazias e filas naqueles mais abastecidos. de forma geral já sente as consequências da enchente.

Alguns estabelecimentos comerciais não estão operando, mas recebendo doações para ajudar os flagelados. Outras lojas, pessoas compram roupas e itens de higiene porque deixaram tudo para atrás na fuga do avanço das águas. A luz segue instável nos últimos quatro dias, dificultando uma "normalidade" na rotina. Além disso, muitos moradores estão recebendo amigos vindos de áreas atingidas, como a própria Cidade Baixa e o Menino Deus.

E quem buscou abrigo em bairros afastados da tragédia chega a se surpreender com a diferença da parte "seca" de Porto Alegre, com aquelas que vivenciaram na pele.
No bairro Jardim do Salso, bem afastado da região central, a oscilação do abastecimento de água tem sido o principal transtorno. Mesmo assim, segue o racionamento por parte dos moradores, num gesto de solidariedade com o restante da cidade.

Outro movimento foi um esvaziamento natural do bairro, com a migração de muitas pessoas para o litoral norte, apesar de não serem atingidos pelas águas. Já no bairro Petrópolis, uma região residencial e que fica a cerca de 20 minutos de carro do Centro, tinha na maior parte água e luz nesta quarta-feira. E muitos moradores têm recebido pessoas de outras localidades para dar suporte, como um banho ou mesmo um espaço para descansar.

Porém, basta olhar pela janela de um dos apartamentos e ver que a vida parece praticamente normal. A pracinha tem bom movimento de crianças em função, especialmente, do calor.
Algumas pessoas que estavam evitando sair de casa em função do colapso de Porto Alegre, a paisagem na rua assusta. Pouco movimento de carros em alguns bairros, o que quase traz a sensação de um "domingo", como no bairro Lomba do Pinheiro, na outra ponta da capital gaúcha.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895