“Viemos em busca de oportunidade e acontece isso”, lamentam venezuelanos vítimas de explosão em condomínio de Porto Alegre

“Viemos em busca de oportunidade e acontece isso”, lamentam venezuelanos vítimas de explosão em condomínio de Porto Alegre

Moradores relataram drama vivido após a explosão em apartamento causada por vazamento de gás em condomínio no bairro Rubem Berta

Rodrigo Thiel

Explosão em apartamento da torre 10 após vazamento de gás resultou em danos em diversos outros apartamentos do condomínio Alto São Francisco

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Desde agosto de 2023, quando receberam as chaves do imóvel próprio, a família de Yenmar Elena Ramirez estava na paz de viver uma oportunidade única depois de saírem da Venezuela em busca de dignidade. Mas a madrugada da última quinta-feira mudou tudo isso. Ela e o esposo Luis Guevara residem em um apartamento localizado exatamente na frente do imóvel onde foi registrada a explosão causada pelo vazamento de gás na torre 10 do Condomínio Alto São Francisco, no bairro Rubem Berta, na zona Norte de Porto Alegre.

Eles relatam que, por sorte, estavam dormindo no momento da explosão. “Destruiu tudo dentro de casa, pois os vidros furaram as paredes. Os cacos de vidro pareciam balas. Se tivesse alguém de pé, teriam atingido e machucado”, relembrou Guevara. Ele, a esposa e os três filhos estão temporariamente vivendo no salão de festas do condomínio.

Yenmar contou que o imóvel foi adquirido por financiamento e que vivem em uma "luta atrás da outra”. “Estamos chocados. Só trabalhamos. Viemos em busca de oportunidade e acontece isso", lamentou a moradora. Ela citou ainda o receio de, caso a torre 10 venha a colapsar, possa cair sobre o apartamento deles.

Drama parecido vive o também venezuelano Moisés Guerra. Ele e a esposa Kevis possuem apartamento ao lado do imóvel onde ocorreu o vazamento. Com o acidente, ele conta que perdeu tudo e que presenciou o momento da explosão. “Um vizinho passou gritando que era para sair dos apartamentos. Quando desci e os bombeiros chegaram, ocorreu a explosão. Vi um deles (bombeiro) voar. A parede do apartamento do lado caiu sobre minhas coisas. Está tudo destruído”, contou o morador, que está hospedado na casa de um amigo.

A moradora Adriane Santos da Silva, sua mãe Daiane e uma irmã pequena também estão temporariamente abrigados no salão de festa do condomínio. Durante a explosão, ela foi atingida por estilhaços do vidro da janela da própria casa, fato que resultou em um corte no seu braço esquerdo. O temor por novos vazamentos de gás no condomínio também é sentido por outros moradores, principalmente os que residem em torres não interditadas. Uma moradora relata que ela e o filho deixaram malas prontas ao lado da porta em casa de nova evacuação.

Este drama não demonstra ter fim para os moradores do condomínio Alto São Francisco. Na noite desta sexta-feira, uma evacuação de emergência foi ordenada pela Defesa Civil Municipal após um suposto novo vazamento de gás. Desta vez, a explicação foi de que um equipamento da válvula de alívio do gás central esquentou durante o dia e liberou pressão, junto com o cheiro do gás.

Os moradores foram informados ainda de que isto não causaria riscos ou danos, pois tratava-se de um procedimento normal realizado durante dias quentes. Entretanto, a moradora Laura Antoni Martins relatou que, após a explicação de ser algo rotineiro, o botijão do gás central foi trocado. Ela citou ainda que os moradores não foram autorizados a acompanhar o procedimento.

MPRS, Defensoria Pública e Câmara de Vereadores visitaram o condomínio

Ainda na sexta-feira, representantes do Ministério Público do Rio Grande do Sul, da Defensoria Pública do Estado e da Câmara de Vereadores de Porto Alegre estiveram no Condomínio Alto São Francisco para acompanhar a situação das famílias que tiveram seus imóveis interditados após a explosão. Estiveram no local o promotor Cláudio Ari de Mello, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Ordem Urbanística e Questões Fundiárias MPRS, o defensor público Rafael Magagnin e o vereador Giovane Byl.

Para o promotor Cláudio Ari de Mello, o mais importante é atender as demandas das pessoas que estão sem moradias, mas sem descuidar das etapas deste caso. “O MPRS vai atender as pessoas que foram vítimas e que estão desabrigadas. A primeira etapa é diagnosticar o que aconteceu. Entender o número de pessoas que se encontram, sem moradia e, então, traçar linhas de atuação, seja alcançar soluções consensuais com os responsáveis pelo empreendimento, seja no limite, se isso não for possível, ajuizar uma ação judicial. Sempre com o objetivo de, em primeiro lugar, obter novas moradias para as pessoas que estão desabrigadas até que se defina se é possível que elas retornem ou não para os blocos ou que se consiga novos empreendimentos”, falou.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895