Dólar cai 1,39%, para R$ 5,30, com alívio de tensão política e exterior

Dólar cai 1,39%, para R$ 5,30, com alívio de tensão política e exterior

Moeda norte-americana acumula valorização de 3,08% na semana

AE

Moeda norte-americana fechou em queda nesta quarta-feira

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Após três pregões seguidos de alta, em que acumulou valorização de 4,58% e alcançou o patamar R$ 5,38, o dólar recuou mais de 1% na sessão desta quinta-feira. Segundo operadores, o ambiente externo favorável a divisas emergentes e a assimilação do impacto dos ruídos políticos envolvendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriram espaço para movimento de realização de lucros no mercado doméstico de câmbio. Também teriam contribuído para a recuperação do real a atuação de exportadores, que aproveitaram a arrancada recente do dólar para internalizar recursos, e apetite externo por ações descontadas na bolsa.

Afora uma alta pontual e muito limitada nos primeiros minutos da sessão, o dólar trabalhou em baixa ao longo de todo o dia. Com mínima a R$ 5,2795 (-1,90%), registrada no fim da manhã, terminou o pregão cotado a R$ 5,3067, em queda de 1,39%. Apesar do alívio nesta quinta, a moeda ainda acumula valorização de 3,08% na semana - o que reduz as perdas em outubro a 1,63%, na véspera da formação da última taxa Ptax do mês e da rolagem de contratos futuros.

Já na reta final dos negócios, o dólar chegou a ensaiar aprofundar as perdas e foi negociado pontualmente na casa de R$ 5,28, sob impacto da notícia de publicação de carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à nação.

No documento, intitulado "Carta ao Brasil do Amanhã", o petista se compromete em combinar "política fiscal responsável" com "responsabilidade social e desenvolvimento sustentável" e fala em seguir "regras claras e realistas" para a gestão das contas públicas. Não há, contudo, detalhes sobre uma futura âncora fiscal para substituir o teto de gastos.

Embora o quadro político doméstico siga como principal vetor dos negócios, investidores absorveram nesta quinta uma agenda pesada no exterior. A leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA mostrou alta anualizada de 2,6% no terceiro trimestre, acima das expectativas (2,4%), mas não afastou a perspectiva de desaceleração da atividade nos próximos trimestres e eventual recessão em 2023. Com a consolidação da perspectiva de que o Federal Reserve, após uma nova alta de 75 pontos-base da taxa básica em novembro, desacelere o ritmo para 50 pontos em dezembro, as taxas dos Treasuries recuaram, dando fôlego a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo o real.

"Dia propício para a queda do dólar. Tem apostas de um Fed mais tranquilo lá fora. Aqui, ajudou a manutenção dos juros e sinais positivos da economia brasileira como queda do desemprego", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, em referência à decisão do Copom na quarta de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. "Fora isso, as altas dos últimos dias levaram exportadores a realizarem sua posição, o que ajudou a derrubar dólar. A briga continua entre o intervalo entre R$ 5,20 e R$ 5,40".

O sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, observa que mercado ajusta posições e corrige exageros embutidos na quarta à tarde na taxa de câmbio em razão do aumento das tensões políticas. "A gente vem de três dias de aversão ao risco e hoje há um alívio. O mercado absorveu os ruídos políticos de ontem e já precificou muito da piora do cenário", afirma Izac, ressaltando que as ações de estatais já apanharam bastante e que a temporada local de balanços têm sido positiva, o que traz ânimo aos investidores, em especial os estrangeiros.

Nas mesas de operação, comenta-se que, apesar de criticar a atuação do TSE no caso das inserções de propaganda política em rádios, o presidente Jair Bolsonaro adotou, em pronunciamento na quarta à noite, um tom menos belicoso que o esperado. Embora haja dúvida ainda sobre se o candidato à reeleição aceitará uma eventual derrota nas urnas no segundo turno presidencial, parecem diminuir os riscos de crise institucional.

Taxas de juros

Após subirem nas três últimas sessões, os juros de médio e longo prazos recuaram durante a sessão regular desta quinta-feira pós-Copom, embora o comunicado da política monetária não tenha trazido novidades capazes de alterar a expectativa para a Selic. As taxas curtas ficaram de lado e a queda das demais espelhou o movimento de baixa dos rendimentos dos Treasuries e a melhora no câmbio, além de algum alívio no pico das tensões com o cenário eleitoral atingido na quarta-feira. A opção do Tesouro por colocar lotes menores de prefixados para o leilão contribuiu ao não adicionar estresse.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,96%, de 12,983% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,91% para 11,83%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,66%, de 11,80%.

Dado o acúmulo de prêmios desde segunda-feira, havia espaço para correção da alta nas taxas assim que surgisse algum gatilho lá fora ou que as tensões eleitorais parassem de escalar, mas o ajuste foi apenas parcial, com as taxas fechando nesta quinta ainda acima dos níveis do fim da semana passada.

Do exterior, a decisão e o comunicado de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) foram bem assimilados e, nos Estados Unidos, o foco ficou sobre a primeira leitura do PIB do terceiro trimestre. A economia americana cresceu 2,6% ante o período anterior, acima do consenso de 2,4%. Mais do que isso o índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) subiu à taxa anualizada de 4,2%, após avançar 7,3% no segundo trimestre. Já o núcleo avançou 4,5%, após alta de 4,7% no trimestre anterior. Em reação aos números, houve alívio na curva dos Treasuries, com a taxa da T-Note de 2 e 10 anos devolvendo em torno de 10 pontos-base. No fim da tarde, estavam em 4,30% e 3,90%.

Internamente, houve trégua no fluxo negativo do noticiário eleitoral, que vinha pressionando os ativos nos últimos dias. O desfecho dado pelo TSE ao imbróglio das inserções de propaganda acabou enfraquecendo os temores de adiamento da eleição e de crise institucional. "A questão de que se iria ou não haver eleição deu uma esfriada, se consolidando a ideia de que o segundo turno ocorrerá", disse o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

Nas mesas de renda fixa, comenta-se ainda que o tom moderado na quarta do presidente Jair Bolsonaro no pronunciamento à noite ajudou a tranquilizar os investidores, que temiam uma fala mais destemperada diante do revés junto ao TSE, que rejeitou dar seguimento à ação em que a campanha de Bolsonaro acusa rádios de privilegiar as inserções do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula divulgou no fim da tarde desta quinta uma carta aberta, em que se compromete a combinar "política fiscal responsável" com "responsabilidade social e desenvolvimento sustentável". A carta fala em seguir "regras claras e realistas" na política fiscal.

Divulgado com a sessão regular já encerrada, o documento provocou reação na etapa estendida do DI, com as taxas devolvendo parte da queda. Os agentes esperavam "algo mais concreto" e se decepcionaram com alguns pontos como as referência ao papel do BNDES, nova legislação trabalhista e política de crédito.

As taxas curtas pouco oscilaram com a decisão do Copom de manter a Selic em 13,75% amplamente precificada. Tampouco o comunicado gerou reação, tanto que, segundo Serrano, a precificação para o ciclo de corte da taxa básica em 2023 não mudou. "Para haver alguma mudança nesta expectativa a taxa do DI para janeiro de 2024 teria de mexer muito", explicou. Assim, grosso modo, a curva segue projetando início do processo de distensão monetária a partir de maio do ano que vem.

A decisão do Tesouro de reduzir a oferta de prefixados endossou a trajetória descendente das taxas neste último leilão do mês de outubro. A instituição ofertou 5 milhões de LTN, ante 14 milhões na semana passada, e 650 mil NTN-F, de 1 milhão na quinta-feira anterior. O lote da LTN foi vendido integralmente. Nas NTN-F, o Tesouro colocou toda a oferta de 500 mil para 2029 e rejeitou todas as propostas na oferta de 150 mil títulos para 2033.

Bolsa

No puro espírito volátil que se espera de uma reta final de apertada eleição, o Ibovespa chegou a tocar os 116 mil pontos perto do fechamento desta quinta-feira, quando o mercado tomou conhecimento da "Carta para o Brasil do Amanhã", de Lula. O texto do candidato acrescenta que o compromisso precisa ser compatibilizado com o "enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação".

A nuance do discurso fez o Ibovespa devolver rapidamente o salto de mais de mil pontos visto no espaço aproximado de um minuto: entre 16h42 e 16h43, passou de máxima do dia então renovada aos 115.045,79, para 115.606,78 e, logo depois, 116.235,76 pontos, em alta de 3,08% no pico do dia, no apertado espaço aproximado de 60 segundos. No fechamento, o Ibovespa mostrava ganho semelhante ao observado antes da divulgação da carta, ao encerrar em alta de 1,66%, aos 114.640,76 pontos.

Assim, quebrou nesta quinta a série negativa de três sessões que havia revertido o rali das estatais visto na semana passada. O dia foi de recuperação bem distribuída nas ações e nos setores de maior peso no índice, à exceção de Vale (ON -3,56%), que divulgará balanço trimestral após o fechamento da sessão. O giro financeiro desta quinta-feira ficou em R$ 32,8 bilhões, com o índice da B3 entre mínima de 112.765,24, quase idêntica à abertura (112.765,63), e a máxima de 116.235,76 pontos, perto do fechamento. Na semana, o Ibovespa ainda cede 4,41%, limitando o ganho do mês a 4,18% - no ano, sobe 9,37%.

Em Nova York, a decepção suscitada por resultados de 'big techs' divulgados nesta semana resultou em giro das carteiras em direção às chamadas ações de valor, associadas à economia tradicional e concentradas no blue chip Dow Jones, que fechou nesta quinta em alta de 0,61%, moderada em direção ao fechamento - negativo para o índice amplo, o S&P 500, que cedeu nesta quinta exatamente 0,61%. Por sua vez, o tecnológico Nasdaq caiu 1,63%. Divulgada pela manhã, a primeira leitura sobre o PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre ficou acima do consenso, sugerindo que a elevação dos juros pelo Federal Reserve não tem restringido a economia a ponto de lançá-la em recessão.

Em meio ao processo de elevação dos custos de crédito no país, a resiliência mostrada pela atividade econômica nos Estados Unidos vem em momento no qual os rendimentos dos Treasuries mostram moderação, após terem assustado recentemente os mercados globais com a escalada dos juros longos, de 10 anos, acima da marca de 4%. Para dezembro, o mercado tem se posicionado recentemente para uma desaceleração do ritmo de alta da taxa de referência do BC americano, os Fed funds, a meio ponto porcentual na última deliberação sobre os juros no ano.

"É cedo para dizer: ainda há muitas leituras de dados a serem acompanhadas pelo Fed antes de decidir por uma recalibragem ou sobre até onde irá com os juros, onde o ciclo terminará. Com o rendimento da T-note de 10 anos abaixo de 4%, vê-se agora alguma acomodação nos Treasuries. Mas vale lembrar que, além de muitos dados ainda por vir, a tradição do Fed é mais pelo 'oversight' eventual excesso de zelo do que por deixar de agir quando a situação exige, contra a inflação", diz Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez.

A dúvida sobre a extensão e o grau de elevação dos juros de referência nos Estados Unidos se combina a um momento menos propício para commodities como o minério de ferro, a que a B3 tem grande exposição - a exceção parece ser o petróleo, que mostra recuperação. A concentração de poder observada na renovação do mandato de Xi Jinping na China, em momento no qual a segunda maior economia se acomoda a um ritmo de crescimento bem inferior ao que acostumou o planeta nas últimas décadas, é outro dado que passa a ser observado de perto pelos investidores globais, atentos também a fraturas geopolíticas que voltam a dividir o mundo entre Ocidente e Oriente, o que envolve também a Rússia.

Se o cenário externo é desafiador, o doméstico será pautado no curto prazo pelas escolhas e pelo comportamento de quem sair vitorioso - ou no caso oposto, derrotado - da eleição do domingo, 30. "O pior cenário possível seria um terceiro turno, uma disputa prolongada após a eleição, caso haja desacordo, não aceitação dos resultados. A Bolsa ainda está barata, mas sofreria numa situação como essa", diz Henrique Tavares, analista de investimentos da DVInvest. A curva de juros tende a ser mais sensível a eventual vitória do PT, pela falta de compromisso com o teto de gastos: o risco fiscal, nesse caso, contribui para um "juro estrutural mais alto", acrescenta o analista, a menos que venha uma definição rápida de quem ocupará o Ministério da Fazenda, e o nome seja bem aceito.

A mudança de dinâmica observada na semana final da eleição - com aparente perda de fôlego na recuperação esboçada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na semana anterior - furou o kit de estatais, notadamente Petrobras e Banco do Brasil, que havia dominado a preferência do investidor até o dia de ira de Roberto Jefferson. Nesta quinta-feira, um kit de educação e consumo, setores que tenderiam a ser beneficiados em eventual novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, começou a emergir, com ações como Yduqs (+11,14%), Magazine Luiza (+7,93%) e Cogna (+6,71%) na ponta do Ibovespa na sessão, ao lado de IRB (+8,14%), Qualicorp (+7,25%) e Soma (+6,72%).

No lado oposto, destaque nesta quinta-feira para Vale (-3,56%) e Bradespar (-3,29%), antes da divulgação do balanço da mineradora, nesta noite. Petrobras (ON +0,30%, PN +0,76%) e Banco do Brasil (ON +1,26%) mostraram, ao fim, sinal mais fraco do que o observado no começo da tarde, ainda cedendo 12,58%, 12,62% e 13,63%, respectivamente, na semana - neutralizando, desde quarta, o avanço visto nessas ações na semana anterior. Entre os setores de maior peso no índice, destaque na sessão para os grandes bancos, como Bradesco (ON +1,96%), todos com ganhos acima de 1% no fechamento desta quinta-feira.


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