Dólar sobe a R$ 5,19 com temores de piora das contas públicas

Dólar sobe a R$ 5,19 com temores de piora das contas públicas

Pagamento de precatórios e reajuste do Bolsa Família pautaram negócios no mercado de câmbio nesta terça-feira

AE

Dólar fechou com alta de R$ 0,09 (+1,77%) nesta terça-feira

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Temores de deterioração das contas públicas na esteira da ameaça de uma onda populista do governo Jair Bolsonaro, em meio ao debate sobre o pagamento de precatórios e o reajuste do Bolsa Família, pautaram os negócios no mercado de câmbio no pregão desta terça-feira, 3, em mais um dia de muita volatilidade.

Depois do alívio ontem, quando o dólar caiu 0,86% devolvendo parte da alta de 2,57% na sexta-feira, a moeda americana voltou a subir com força por aqui, operando a maior parte do pregão acima de R$ 5,20 e registrando, no início da tarde, máxima de R$ 5,2746.

Ao longo do período vespertino, com a virada do Ibovespa para o campo positivo, acompanhando as bolsas em Nova York, e declarações do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), as pressões sobre o real diminuíram um pouco.

Lira negou que haja conversas em torno do aumento do Bolsa Família para R$ 400 na PEC dos precatórios e refutou a possibilidade de rompimento do teto dos gastos. "O Bolsa família virá por MP própria, dentro do Orçamento e do teto, com valor médio de R$ 300", afirmou, assegurando que não há possibilidade, no que depender da vontade do Legislativo, de estourar o teto.

Ainda assim, o dólar à vista fechou em alta firme (+0,53%), negociado a R$ 5,1927. A volatilidade foi, uma vez mais, extremada, com oscilação de quase 10 centavos entre a mínima e a máxima. Na B3, o dólar futuro para setembro apresentou giro forte, de mais de US$ 18 bilhões, o que pode sugerir ajuste expressivo de posições.

Lá fora, o índice DXY - que mede a variação da moeda americana ante seis divisas fortes - operava perto da estabilidade, na casa dos 92,000 pontos. Em relação a emergentes, o comportamento do dólar era misto, com alta frente ao peso colombiano e a lira turca, mas queda ante o rand sul-africano e o peso mexicano.

Para head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, o encaminhamento da questão dos precatórios e o desejo de aumento do Bolsa Família passam a sensação de um governo "displicente" com a questão fiscal. E o risco de deterioração das contas públicas deve aumentar cada vez mais, à medida que se aproximam as eleições de 2022. "Bolsonaro parece disposto a sacrificar o fiscal se for para garantir a sua reeleição, enquanto Lula já disse que vai acabar com o teto de gastos. Isso tudo pressiona a moeda", diz Netto.

Pela manhã, o ministro Paulo Guedes afirmou que o valor do pagamento de precatórios em 2022 chega a R$ 90 bilhões, o equivalente a 93% das despesas discricionárias. Para aliviar as contas, o governo quer emplacar uma PEC que permita o parcelamento de parte dos precatórios em até 10 anos. Guedes negou que haja calote, mas usou a expressão popular clássica dos inadimplentes: "Devo, não nego; pagarei assim que puder". Ao falar da questão, o ministro acrescentou que acha que não será preciso "nem mexer no teto de gastos".

O diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, afirma que os "sinais internos sugerem que a cena política fará os fundamentos econômicos sucumbirem", o que aumenta a volatilidade e impede que a taxa de câmbio vá para um nível compatível com a alta do juros internos. "Dentro de ambiente de normalidade, o preço do dólar tenderia a R$ 5 ou até menos, caso os investidores estrangeiros, em especial especulativos ancorados em operações de "carry trade", retornassem ao País em volume considerável", escreve Nehme, em relatório.

A expectativa predominante no mercado é a de que o Copom acelere o passo e anuncie amanhã uma alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 5,25% ao ano. Boa parte dos economistas já acredita em Selic na casa de 8% no fim do ano, em razão do aumento das pressões inflacionárias.

Na visão do economista-chefe Instituto Internacional de Finanças (IFF), Robin Brooks, não há banco central de país emergente que sobe os juros de forma tão proativa quanto o brasileiro. "Nós esperamos 7,5% no fim de 2021. Um ciclo de alta como nenhum outro atualmente, que vai beneficiar o real", afirma Brooks, no Twitter.

Para Netto, da Acqua-Vero Investimentos, o ciclo de aperto monetário já está incorporado às expectativas e não deve abrir espaço para uma rodada de apreciação do real. Netto vê um dólar forte nos próximos meses com a aproximação do debate eleitoral e a possibilidade crescente de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anuncie o início da redução de estímulos monetários.

Ibovespa

Com alguma descompressão sobre o câmbio nesta volátil véspera de decisão do Copom, o Ibovespa conseguiu se conectar de tarde ao dia positivo em Nova York, neutralizando as perdas observadas na B3 pela manhã - ao fim, os ganhos aqui superavam os de Wall Street, onde o S&P 500 renovou nesta terça-feira, 3, máxima histórica de fechamento. Após ter chegado a limitar a recuperação acompanhando desdobramentos em Brasília sobre reforma e situação fiscal, o Ibovespa mostrou fôlego na hora final, acentuando as máximas do dia, com dólar à vista a R$ 5,1927 no fechamento do câmbio, tendo chegado no pico desta terça-feira a R$ 5,2746.

No encerramento, o índice de ações indicava ganho de 0,87%, a 123.576,56 pontos, atingindo na máxima os 123.765,09 e na mínima os 120.807,02, menor nível desde 14 de maio, com abertura a 122.516,31 pontos. O giro ficou em R$ 32,3 bilhões - na semana e no mês, o Ibovespa avança 1,46%, com ganho a 3,83% no ano. Entre idas e vindas na sessão, os setores de maior peso no Ibovespa, como commodities (Petrobras PN +1,67%) e bancos (Itaú PN +0,98%) fecharam no positivo, à exceção de BB ON (-0,56%), com destaque para Vale ON (+3,41%) e Bradespar (+2,98%), na ponta do índice. Na face oposta do Ibovespa, Americanas ON cedeu 4,43%, Lojas Americanas, 3,30%, e Sul América, 2,65%.

"A combinação de política e fiscal segura a taxa de câmbio em patamar mais alto, com a discussão sobre pagamento de precatórios, Bolsa Família maior, em movimento de incerteza e aversão a risco em relação a Brasil reforçado pela retomada da CPI da Covid, depois do recesso", diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest. "A grande questão é quanto o eventual aumento de 1 ponto porcentual esperado amanhã por boa parte do mercado para a Selic, na reunião do Copom, pode minimizar esse aspecto de alta da taxa de câmbio - o quanto isso já está internalizado na taxa de câmbio. A meu ver, vai ajudar, mas será momentâneo. As questões políticas e fiscais vão falar mais alto ainda por bastante tempo", acrescenta a economista.

As idas e vindas em torno da proposta de tributação de rendimentos, com novas declarações do relator, o deputado Celso Sabino (PSDB-PA), na apresentação do texto, também continuam a ser acompanhadas de perto pelo mercado - e causaram algum ruído à tarde, embora passageiro. Ao fim, o que prevaleceu, sobre câmbio e ações, foram os comentários do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que o reajuste do Bolsa Família não resultará em ruptura do teto de gastos, e de que não há possibilidade de "calote" nos precatórios, apesar da dificuldade de conciliar seu pagamento sem atingir o teto.

Embora Sabino tenha indicado que, com as mudanças, a reforma do IR terá efeito neutro do ponto de vista fiscal, fatores pontuais, como a proposta de aumento de 4% para 5,5% na alíquota de compensação financeira pela exploração de recursos minerais (CFEM), não passaram despercebidos, bem como a retórica do relator sobre os "altos lucros das grandes mineradoras".

"Uma grande companhia aqui, no segundo trimestre desse ano, anunciou um lucro de R$ 40 bilhões e tem um preço de equilíbrio do minério de US$ 45 por tonelada, e o valor do minério está em US$ 200 por tonelada", disse Sabino, sem citar o nome da Vale, cuja ação chegou a se acomodar em nível menor, antes de se recuperar para fechar o dia em alta de 3,41%, a R$ 112,64. Sabino disse que, só para o Pará, a mudança na contribuição renderá mais de R$ 1 bilhão - o aumento da CFEM será proposto em PEC que tramitará com a reforma.

Sabino confirmou a isenção sobre lucros e dividendos de empresas enquadradas no Simples nacional, mas apontou que, a despeito do efeito fiscal neutro da reforma pretendida, a carga pode subir. "Há algumas exceções, de grandes recebedores de lucros e dividendos", observou.

Pela manhã, sem conseguir acompanhar Nova York, o Ibovespa mostrava perdas que o colocaram no pior momento no menor nível intradia desde 14 de maio, refletindo, por um lado, o retraimento do investidor estrangeiro observado desde julho e, por outro, a nova fornada de preocupações domésticas, sobre precatórios e a busca de abertura de espaço orçamentário para acomodar Bolsa Família de até R$ 400 sem ferir o teto de gastos. Hoje, Lira negou haver conversas sobre elevação do auxílio a este patamar.

"A volatilidade que vimos hoje reflete o grau de incerteza, de ruído, sobre o fiscal a partir do nível político, em circunstância na qual o investidor estrangeiro já vinha retraído, e assim deve permanecer até que se tenha clareza maior. Por outro lado, a temporada de balanços, positiva, tem contribuído para segurar o índice", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual.

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 2,127 bilhões da B3 na sessão da última sexta-feira (30). No dia, o Ibovespa encerrou a sessão em baixa de 3,08%, aos 121.800,79 pontos, com giro financeiro de R$ 38,2 bilhões. Em todo o mês de julho, foram retirados R$ 8,250 bilhões de investimentos externos da Bolsa que, no acumulado do ano, registra fluxo de entrada a R$ 39,756 bilhões.

Juros

A melhora de humor no mercado externo e declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negando o aumento do Bolsa Família a R$ 400 e o risco de rompimento do teto dos gastos aliviaram a pressão nos juros à tarde, limitando o impacto das preocupações com o cenário fiscal, que voltaram a pesar justamente nesta terça-feira em que o Copom deu início à sua reunião de política monetária de dois dias.

A curva abriu estressada com o agravamento das tensões entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o presidente Jair Bolsonaro e rumores de que o governo poderia elevar o valor do Bolsa Família para R$ 400.

Piorou ainda mais depois da live do ministro da Economia, Paulo Guedes, na qual apresentou os principais pontos da proposta para pagamento dos precatórios. A ideia de parcelamento não agradou aos investidores. "Devo, não nego. Pagarei assim que puder", disse Guedes.

Ainda que o ministro tenha negado que se trate de um calote, o mercado não se convenceu e a declaração pegou muito mal nas mesas. "O mercado não vê isso como uma boa solução. É no mínimo uma postergação de dívida", disse o diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, Rogério Braga.

Desse modo, à tarde, fala do presidente da Câmara conseguiu acalmar os ânimos. Lira negou conversas em torno do Bolsa Família de R$ 400 na PEC dos precatórios e a possibilidade de furar o teto dos gastos.

As apostas em torno de um aumento de 1 ponto porcentual na Selic amanhã estão consolidadas, mesmo com a produção industrial de junho abaixo da mediana das estimativas. É dada como certa não só no DI, mas também nos Departamentos Econômicos, hoje com mais casas revisando suas projeções, caso do Banco MUFG Brasil, que antes esperava alta de 0,75 ponto, e agora prevê 1 ponto.

No fim da sessão regular, as taxas preservavam apenas um viés de alta. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,34%, de 6,321% ontem, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 7,856% ontem para 7,885%. A do DI para janeiro de 2025 encerrou na mínima de 8,79%, tendo rompido a faixa de 9% nas máximas de manhã, de 8,775% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,11%, de 9,084% ontem.


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