Economia

Mudança de cenário cria oportunidades para pequenos exportadores do RS

Tarifas dos EUA afetam vendas brasileiras e levam empresas gaúchas a buscar alternativas no exterior

Empresa de sofwares projetava expandir vendas para os americanos, mas foi surpreendida pelas taxas adicionais
Empresa de sofwares projetava expandir vendas para os americanos, mas foi surpreendida pelas taxas adicionais Foto : Julio Soares / Divulgação / CP

Com o atual cenário global da economia, que inclui as tarifas de até 50% aos produtos brasileiros exportados aos EUA, os pequenos empreendedores gaúchos, que destinam parte da produção ao mercado externo têm procurado diversificar os mercados para reduzir a dependência e se distanciar da instabilidade ou das barreiras comerciais mais rigorosas.

Segundo a última apuração do Sebrae-RS relativa a 2024, o Rio Grande do Sul tinha 3.246 empresas exportadoras, sendo 660 microempresas e MEI, 665 de pequeno porte e 1.921 médias e grandes. Esses empresários estão optando por direcionar suas exportações para lugares como Europa e América Latina, em detrimento dos Estados Unidos. A escolha, segundo eles, é reflexo do atual cenário, que além da taxação americana, também é marcado por variações cambiais e uma longa história de variações econômicas entre os países da América do Norte e Sul. A guerra comercial entre EUA e China também tem impactado o fluxo de mercadorias e redirecionado parte da produção chinesa para mercados como o Brasil, onde compete com produtos nacionais.

Para Lucas Benite, analista de Competitividade Setorial do Sebrae RS, “o tarifaço surge como uma oportunidade para as empresas brasileiras encontrarem outros mercados e aproveitar a guerra comercial entre EUA e China para, justamente, acessar o gigante mercado internacional”. As exigências regulatórias, certificações e custos logísticos mais elevados tornam o mercado norte-americano menos acessível, especialmente para empresas de menor porte. Nesse contexto, empresas menores têm priorizado rotas com menos barreiras tarifárias e menor custo logístico.

O empreendedor Leandro Eberle, fundador da Xtratus Endurance - marca de suplementos naturais para atletas de alto rendimento - relata que abriu operação na Espanha pela facilidade de comunicação com o país e fornecedores espanhóis. O brasileiro firmou um contrato de exclusividade e viabilizou a distribuição no país estrangeiro também via e-commerce. Segundo Eberle, a partir da Espanha é possível entregar produtos em praticamente qualquer país europeu em um dia.

Em contraponto, Benite afirma que os conflitos entre China e os Estados Unidos criam a questão de desvio de comércio dos produtos que iriam para o país americano e acabam vindo para países como o Brasil, competindo com os produtos brasileiros e afetando as pequenas indústrias brasileiras. No caso da Casa A Móveis - produtores de mobiliário de alta qualidade - o sócio Gilberto Filho relata que a maior motivação para entrar no mercado estrangeiro é o excesso de concorrência no mercado interno. Apesar do mercado global não ser fácil e a concorrência acirrada, a empresa de pequeno porte opta pelo desafio.

A experiência com exportações de Tales Bolson, empreendedor da Comlink, que projeta e fabrica equipamentos eletrônicos e softwares, mostra o reflexo das relações internacionais. Focado em países como Argentina, Chile, Peru e México, o sistema Mercosul facilita as exportações na América Latina, além da proximidade territorial. A empresa tinha planos de expandir seus negócios para o Norte da América em 2025, quando começou o tarifaço. “Foi um choque para nós, porque quando finalmente conseguimos uma empresa que estava interessada em nos representar e comprar nosso produto para distribuir, veio essa barreira”, diz Tales.

A perspectiva dos empreendedores, entretanto, é otimista, para eles, as tarifas irão chegar em níveis mais realistas. “Nós precisamos deles, mas eles também precisam de nós”, afirma o empreendedor da Comlink. Apesar de o Brasil ter iniciado negociações com os Estados Unidos na última semana, a insegurança de atuar nesse campo, tem colocado os pequenos exportadores na espera de uma definição.

Exportadores gaúchos (fonte Sebrae-RS)

2023

  • Microempresas e MEI: 670
  • Empresas de Pequeno Porte: 647
  • Empresas Médias e Grandes: 1.937
  • Total: 3.254

2024

  • Microempresas e MEI: 660
  • Empresas de Pequeno Porte: 665
  • Empresas Médias e Grandes: 1.921
  • Total: 3.246

Mudança na logística por conta das barreiras alfandegárias

Empresas de todo o porte são afetadas pelo atual cenário econômico internacional. No caso da indústria do RS, as exportações para os Estados Unidos despencaram 51,1% (-86,8 milhões de dólares) em setembro, totalizando 83,2 milhões de dólares em receita. Foi o segundo mês de vigência das tarifas de até 50% impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros, apontou a Fiergs.

Além disso, o enfraquecimento das exportações brasileiras para os Estados Unidos começa a provocar uma reconfiguração significativa no comércio exterior e no setor logístico nacional. Com a imposição de tarifas mais altas e o aumento do custo de produtos brasileiros no mercado norte-americano, diversas empresas estão revendo contratos, redirecionando embarques e buscando novos destinos comerciais, segundo a IBL World, que atua no transporte aéreo e marítimo. O volume de embarques para o país caiu cerca de 30% nos últimos meses na empresa.

*sob supervisão de Karina Reif

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