Conflitos e tensões raciais fazem parte da história dos EUA

Conflitos e tensões raciais fazem parte da história dos EUA

Com séculos de escravidão, desigualdade e racismo, país diversos episódios de revolta popular como o provocado pela morte de George Floyd

R7

Morte de George Floyd, por um policial, deu início a protestos em diversas cidades dos Estados Unidos

publicidade

A morte de um homem negro, George Floyd, por policiais brancos em Minneapolis (EUA), no início da semana, deu início a protestos por todo o país. Uma onda de protestos contra a brutalidade e condutas racistas da polícia tomou conta da cidade e teve saques a lojas e incêndios em vários prédios, incluindo a delegacia onde trabalhavam os policiais. Mas as tensões e conflitos raciais não são nenhuma novidade no país que, assim como o Brasil, tem um histórico de escravidão e desigualdade

Nos anos 1960, a luta contra a discriminação racial e pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos foi intensa. Eram comuns os protestos contra a segregação em espaços públicos e contra a Guerra do Vietnã, na qual muitos jovens negros eram obrigados a se alistar e morriam na linha de frente. A repressão policial contra essas manifestações também era pesada.

Em 1965, um jovem negro chamado Marquette Frye foi parado por uma patrulha policial em Watts, um bairro de Los Angeles. Quando os oficiais usaram de violência para dominá-lo, dezenas de vizinhos se envolveram e mais policiais foram chegando. Após a briga inicial, se seguiram seis dias de violência nos subúrbios da cidade, com saques, incêndios, muitas prisões e mais de 2 mil soldados da Guarda Nacional sendo mobilizados para combater os manifestantes.

Ao longo dos seis dias dos protestos em Watts, mais de 3,4 mil pessoas foram presas, outras mil ficaram feridas e 34 morreram. Os policiais acusaram os manifestantes pelos homicídios, mas investigações mostraram que 23 pessoas foram mortas a tiros pela polícia (16) ou pela Guarda Nacional (7). Dois policiais foram mortos por tiros acidentais disparados por outros oficiais e um bombeiro morreu soterrado em um incêndio. A maioria dos manifestantes não tinha registro criminal.

Uma das principais lideranças pelos direitos civis na década de 1960 era Martin Luther King, que pregava a não-violência e a desobediência civil como forma de resistência. Após seu assassinato, em abril de 1968, os Estados Unidos foram tomados por uma onda de protestos. Em algumas das principais cidades do país, como Nova York, Boston, Los Angeles e Indianápolis, a violência foi evitada por ações rápidas de ativistas e políticos, que conseguiram conter os ânimos.

Em 110 outras cidades, no entanto, a história foi diferente. Na capital do país, Washington, em Baltimore, Chicago e outras, a violência tomou conta das ruas. Os protestos, que em algum lugares duraram até maio de 68, terminaram com mais de 15 mil prisões em todo o país, cerca de 2.500 feridos e pelo menos 40 mortos. Na capital, os manifestantes chegaram a até dois quarteirões da Casa Branca antes de serem forçados a recuar.

Milhares de soldados foram espalhados por todo o país. Após o fim das revoltas, o presidente Lyndon Johnson conseguiu apressar, junto ao Congresso, a aprovação do maior pacote de leis sobre direitos civis da história do país. Segundo os relatos, Johnson não se surpreendeu com os protestos e teria dito: "Não sei por que você estão tão surpresos. Quando você pisa no pescoço de um homem e o segura assim por 300 anos e então solta, o que acha que ele vai fazer?"

Los Angeles voltou a ver dias de protesto e violência entre o fim de abril e o início de maio de 1992, quando quatro policiais foram absolvidos de um crime que havia chocado a Califórnia um ano antes. Em 1991, eles perseguiram um carro dirigido por Rodney King e quando a fuga terminou, espancaram violentamente o homem, que já estava rendido. Imagens gravadas por um cinegrafista amador e divulgadas pela imprensa mostraram que ele foi atingido por 56 golpes antes de ser algemado.

A prefeitura estabeleceu um toque de recolher e pediu ajuda da Guarda Nacional para conter a violência que durou seis dias. Os protestos terminaram com 63 mortos, 2.383 feridos e mais de 12 mil presos, além de mais de 1.100 prédios destruídos ou danificados por incêndios, o que gerou um prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão para a cidade.

Já em 2013, outra decisão judicial que absolveu um homem branco que matou um negro levou à criação do movimento Black Lives Matter. O vigia George Zimmerman não foi condenado à prisão por matar o adolescente Trayvon Martin, em 2012. O movimento ganhou ainda mais alcance nacional depois dos assassinatos de Michael Brown, em Ferguson, no Misouri, e de Eric Garner, em Nova York, ambos em 2014.

A morte de Eric Garner foi emblemática porque o registro em vídeo mostra Garner dominado no chão e sendo sufocado em uma chave de pescoço pelo policial Daniel Pantaleo, que depois foi absolvido. A frase que Eric repete várias vezes antes de morrer, "I can't breathe" ("não consigo respirar") virou lema da campanha e foi tragicamente repetida por George Floyd esta semana. O Black Lives Matter se tornou um importante movimento, mas a violência que ele combate continua até hoje.

Em abril de 2015, o jovem negro Freddie Gray foi detido pela polícia de Baltimore, no estado de Maryland. Testemunhas disseram que ele estava bem quando foi colocado na viatura. Horas depois ele deu entrada no hospital com sérios ferimentos na cabeça, pescoço e coluna. Após alguns dias em coma, Gray morreu.

Os protestos, que começaram ainda antes da morte de Gray, se intensificaram e a violência durou cerca de dez dias. Mais de 120 pessoas ficaram feridas e 486 foram presas, além de diversos atos de vandalismo, como mais de 150 veículos incendiados em toda a cidade. Os seis policiais que tinham a custódia de Freddie Gray foram todos absolvidos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895