Investigação de abordagem a homem negro detido após ser esfaqueado será concluída em dez dias, diz Leite

Investigação de abordagem a homem negro detido após ser esfaqueado será concluída em dez dias, diz Leite

Governador também garantiu punição aos policiais envolvidos, caso seja comprovado que houve racismo na abordagem

Correio do Povo

Caso foi registrado no bairro Rio Branco, em Porto Alegre

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A investigação sobre a abordagem da Brigada Militar que resultou na detenção de um motoboy negro, de 40 anos, esfaqueado por um idoso branco, de 71, deve ser concluída em até dez dias, de acordo com o governador Eduardo Leite. O chefe do Executivo Estadual também não descartou a punição dos soldados envolvidos, caso fique provado que houve racismo. As declarações foram feitas nesta segunda-feira, durante a entrega das obras do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre.

"Determinei celeridade na sindicância e tenho a expectativa que será concluída em até dez dias. Estão sendo feitas oitivas das testemunhas e dos policiais envolvidos. Se ficar claro que houve procedimento fora do padrão, eles vão enfrentar consequências”, afirmou o governador.

Leite, no entanto, não comentou quais medidas vão ser adotadas se for constatada a má conduta dos soldados. Ele também ponderou que o episódio não pode inibir a atuação das forças policiais.

“Embora as imagens gerem uma impressão, não podemos fazer avaliações precipitadas. A crítica é que os policiais fizeram a abordagem por conta de um juízo precipitado e , possivelmente, preconceituoso. Não podemos fazer o mesmo. É preciso haver apuração, não cabe fazer punição sumária do caso. A polícia não é infalível, é um recorte da sociedade com suas qualidades e defeitos. Também não podemos descartar o que esses homens e mulheres fazem todos os dias pela segurança. Eles não podem atuar de forma acuada, isso traria consequências à sociedade”, disse.

A abordagem em questão ocorreu na rua Miguel Tostes, no bairro Rio Branco, no sábado. As filmagens do ocorrido circulam nas redes sociais. A gravação mostra o motoboy, sangrando, enquanto é detido por policiais militares. Testemunhas afirmam que ele foi esfaqueado após discutir com um homem branco e grisalho. Na versão delas, os soldados prenderam a vítima por motivações racistas.

Segundo o professor de filosofia Renato Levin Borges, que testemunhou e gravou o desentendimento, o agressor estaria incomodado com a aglomeração de motos em frente a calçadas e restaurantes. Durante o bate-boca, segundo o relato, ele teria desferido um golpe de faca no pescoço do motociclista.

“Os moradores e lojistas, assustados com a discussão, chamaram a Brigada Militar, que imediatamente prendeu a vítima. Depois de protestarmos, explicando que o homem negro tinha sofrido tentativa de homicídio, os policiais também levaram o agressor”, contou Renato.

O idoso alega que foi agredido com um chute. O motoboy nega a agressão e também afirma que não desrespeitou os policiais. "Não falei palavrão, não desrespeitei ninguém, mas acho que fui tratado como lixo. Até nas gravações que existem da abordagem é possível ouvir pessoas dizendo que o agressor estava rindo”, disse o motoboy.

Antes de ser detido, o agressor foi filmado conversando e rindo com os militares. Dentro da viatura, ele sentou no banco e o motoboy foi colocado no camburão.

Vítima e agressor foram conduzidos à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. Após realizarem depoimentos e perícias, ambos foram liberados. O idoso foi indiciado por lesão corporal e o motoboy, por desacato a autoridade. Em nota, a Brigada Militar destacou que abriu sindicância sobre a ocorrência.

Nas redes sociais, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, escreveu que vai acompanhar as apurações. A postagem também diz que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco acompanhará o caso.

“O caso do trabalhador negro, no RS, que tendo sido vítima de agressão acabou sendo tratado como criminoso pelos policiais que atenderam a ocorrência, demostra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes [...] Conversei com a ministra Anielle Franco e entraremos em contato com as autoridades gaúchas para acompanhar o caso e ajudar na construção de políticas de maior alcance”, publicou o ministro.

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