Brasil volta às urnas para eleger o presidente

Brasil volta às urnas para eleger o presidente

Lula e Jair Bolsonaro disputam o segundo turno da corrida pelo comando do Palácio do Planalto

Mauren Xavier

Próximo presidente encontrará desafios

publicidade

Após uma campanha de segundo turno pautada por intensos embates, 156 milhões de brasileiros retornarão às urnas neste domingo para definir quem ocupará o Palácio do Planalto pelos próximos quatro anos. Na mesma oportunidade, 12 estados conhecerão seus novos governantes, completando assim o cenário político brasileiro a partir de 2023. Ao contrário do primeiro turno, quando os eleitores escolhiam candidatos para cinco cargos (deputado federal, deputado estadual, senador, governador e presidente da República), desta vez, o processo será mais rápido, apenas para presidente e governador nos locais em que os escolhidos não foram definidos na etapa inicial, o que deverá representar menos filas em comparação ao dia 2 de outubro. 

Na disputa presidencial, estão o ex-presidente Lula (PT), que terminou à frente no primeiro turno com 48,4% dos votos válidos e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que fez 43,2% dos votos. O segundo turno começou focado na busca de apoios, especialmente dos governadores já eleitos, assim como dos adversários na primeira etapa e de roteiros por regiões consideradas mais sensíveis pelos candidatos. Exemplo disso foi o elevado número de vezes que os candidatos promoveram atos de campanha em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. No primeiro turno, Lula conquistou a maior quantidade de votos. Para reverter esse resultado, Bolsonaro participou de diversas atividades nas cidades mineiras, além de ter recebido o apoio do governador reeleito Romeu Zema (Novo).

No Rio Grande do Sul, onde fez o maior número de votos, Bolsonaro participou de atividade com apoiadores em Pelotas, e, faltando quatro dias para o pleito, a primeira-dama Michelle Bolsonaro também participou de ato na Capital. Já o ex-presidente Lula, que ficou oficialmente sem palanque no Estado, realizou uma caminhada na região central de Porto Alegre durante o segundo turno. 

As campanhas investiram bastante no Nordeste, reduto tradicional dos petistas, e no Sudeste, onde há a maior concentração de votos do país. Além disso, em São Paulo, maior colégio eleitoral brasileiro, a disputa nacional está reproduzida, por meio de Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad, respectivamente, apoiados por Bolsonaro e Lula. 

Candidatos buscam diminuir abstenções

No primeiro turno, 123,6 milhões brasileiros votaram, sendo que, destes, 118,2 milhões foram considerados válidos, quando não são levados em considerações os brancos (1,9 milhão) e nulos (3,4 milhões). Além disso, 32,7 milhões de eleitores não votaram. Nesta segunda etapa, com a disputa ainda mais acirrada, as campanhas dos dois candidatos buscaram mobilizar suas bases e incentivar os eleitores a comparecerem às urnas. A preocupação ocorre porque tradicionalmente o segundo turno tem índice de abstenção maior. Além disso, ao contrário da primeira etapa, não haverá segundo turno em 14 estados, o que faz com que as mobilizações sejam menores em torno do processo eleitoral. 

Próximo presidente encontrará desafios

O presidente eleito neste domingo terá pela frente uma série de desafios a partir de 2023. A economia ainda segue em ritmo de recuperação diante de diversas medidas de estímulo. Porém, os juros básicos continuam em patamares elevados, com o cenário ainda impactado pela pandemia. Outro assunto que deverá estar na agenda do próximo presidente é o funcionalismo, com a discussão sobre o reajuste dos servidores e as propostas de reforma administrativa. 

Uma das funções do presidente da República é a indicação dos ministros ao Supremo Tribunal Federal (STF). A previsão é de que o próximo eleito indique dois ocupantes, diante das aposentadorias dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber em 2023. No atual governo, Bolsonaro indicou dois: Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Na atual formação, três ministros foram indicados por Lula, quando este ocupou a presidência. São eles Lewandowski, Cármen Lúcia e Dias Toffoli.

O que faz?

Cabe ao presidente da República apresentar o planejamento de gastos públicos, que tem aprovação do Congresso. A execução é feita em parceria com um conjunto de ministros. Ele tem poder de aplicar ou vetar leis aprovadas pelo Legislativo, além de editar medidas provisórias e novos projetos de lei. Exerce comando sobre as Forças Armadas e é responsável por estabelecer as relações com outros países. Também nomeia o procurador-geral da República e ministros para os tribunais superiores, quando houver vaga, como é o caso do Supremo Tribunal Federal. O presidente da República tem mandato de quatro anos e pode permanecer no cargo por dois mandatos consecutivos, caso seja reeleito.

Quem disputa?

Lula (PT)

Foto: Ricardo Stucker/Divulgação/CP

Após 12 anos, o ex-presidente Lula tenta retornar ao Palácio do Planalto. Lula ocupou a presidência da República por duas vezes, sendo eleito em 2002, com quase 53 milhões de votos, e, reeleito, em 2006, com 58 milhões de votos. No cargo, um dos seus projetos foi reduzir as desigualdades, com foco em projetos de distribuição de renda, como o Bolsa Família; de habitação, com o Minha Casa, Minha Vida; e o de investimentos, com o Programa de Aceleração do Crescimento. 

Metalúrgico, Lula passou por várias fábricas no ABC paulista, e, na década de 60, começou a ter contato e ingressou no movimento sindical. Em 1975, foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, representando 100 mil trabalhadores. No cargo, esteve à frente de grandes mobilizações e greves. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais e outras lideranças. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do país para a Assembleia Constituinte.

O PT lançou Lula para disputar a Presidência em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Perdeu a disputa. Em 1994 e 1998, Lula voltou a se candidatar e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso. Mas elegeu-se na quarta tentativa.

Nascido em Garanhuns (PE), em 27 de outubro de 1945, Lula casou-se este ano com Rosângela, mais conhecida como Janja. Sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello, o ex-presidente tem cinco filhos. 

Jair Bolsonaro (PL)

Foto: Rafael Vieira/Estadão Conteúdo/CP

Eleito em 2018, Jair Bolsonaro é o atual presidente da República e busca a reeleição. No último pleito, ele conquistou 57.797.847 dos votos, o que representa 55,13% do eleitorado brasileiro, após três décadas de vida política. Na presidência, defendeu, entre outras bandeiras, a liberdade econômica, o direito à legítima defesa e a posse de arma de fogo para cidadãos sem antecedentes criminais e pautas de costumes, relacionadas à família e à religião. Bolsonaro elegeu-se pelo PSL, mas deixou a sigla, e filiou-se, no início deste ano, ao PL, partido pelo qual tenta a reeleição.

Sua carreira política começou em 1988, quando concorreu à Câmara Municipal do Rio de Janeiro e foi eleito. Dois anos depois, conquistou o primeiro dos sete mandatos consecutivos no cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro. Em seus mandatos parlamentares, destacou-se especialmente pela defesa dos direitos dos militares ativos, inativos e pensionistas.

Antes de ingressar na política, Bolsonaro começou a sua trajetória militar em 1973, quando ingressou na Escola de Cadetes de Campinas (SP). Após, seguiu para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ). Tornou-se capitão do Exército, entre 1979 e 1981. 

Nascido em Campinas (SP), em 21 de março de 1955, Jair Bolsonaro é casado com Michelle. Filho de Percy Geraldo Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro, ele é pai de cinco filhos. Flávio, Carlos, Eduardo, Renan e Laura.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895