Com medo de rejeição, ACM Neto ficará neutro na disputa nacional

Com medo de rejeição, ACM Neto ficará neutro na disputa nacional

Candidato ao governo da Bahia sustentará manutenção da estratégia adotada desde o início da campanha

AE

ACM Neto ficará neutro em eleição nacional

publicidade

O candidato do União Brasil ao governo da Bahia, ACM Neto, que disputará o segundo turno das eleições contra o ex-secretário estadual da Educação Jerônimo Rodrigues (PT), decidiu se manter distante da polarização nacional entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ele vai sustentar a mesma estratégia adotada desde o começo da disputa, quando saiu de favorito para vencer no primeiro turno para terminar atrás do rival até então desconhecido do eleitorado e que tem Lula como seu maior cabo eleitoral.

Para analistas ouvidos pelo Estadão, apesar de parecer contraditório, o plano do ex-prefeito faz sentido. Em um Estado em que Lula obteve 69,6% dos votos ante 24,3% de Bolsonaro, apoiar o atual presidente pode trazer mais prejuízos à candidatura do ACM Neto.

O ex-prefeito obteve 40,88% dos votos válidos e Jerônimo surpreendeu e ficou com 49,45%, faltando pouco para a vitória em primeiro turno. O resultado foi bem diferente das pesquisas divulgadas na véspera por institutos como Ipec e Datafolha, que mostravam ACM Neto com 51% dos votos válidos.

Mesmo evitando se aproximar do adversário, o ex-prefeito ganhou o apoio de João Roma, ex-ministro da Cidadania Bolsonaro. Ex-aliado de ACM Neto - hoje estão rompidos -, Roma ficou em terceiro lugar nas urnas, com pouco mais de 738 mil votos ou 9,08% do eleitorado. Em uma transmissão ao vivo pelo Instagram na terça-feira, o ex-ministro justificou que o "principal adversário na Bahia e no Brasil é o PT".

Apoio

Especialistas avaliam que para herdar os votos do ex-ministro de Bolsonaro é preciso que ACM Neto declare apoio formal ao presidente. No entanto, tudo indica que isso não deve ocorrer mesmo com sinais claros dados pelo presidente de que quer se encontrar com o ex-prefeito. Nesta semana, o candidato à reeleição disse que está "à disposição" de ACM Neto.

"Ele não podia apoiar Bolsonaro (no primeiro turno), senão, teria menos votos. Seria um suicídio", afirmou o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jorge Almeida. Para ele, a mesma desvantagem ocorreria agora em uma associação a Roma. De acordo com Almeida, seria "o beijo na serpente". "Vai ficar clara a identificação com Bolsonaro", disse.

Para o cientista político e professor da UFBA Cloves Oliveira, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), colocar-se "em cima do muro" pode ser sua única saída para ACM Neto.

"O partido dele (agora) não tem (candidato a) presidente para validar e mobilizar votos em favor, numa escala regional. Então, ele tem que de se articular numa função independente, porque Lula goza de enorme prestígio na Bahia, capaz de conseguir 70% dos votos", disse. A candidata do União Brasil à Presidência no primeiro turno foi a senadora Soraya Thronicke, que recebeu 600.955 votos.

Segundo o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB), "ACM Neto não vai procurar Bolsonaro". "Ninguém pede voto contra Lula na Bahia", afirmou.

"Grande erro"

Roma vê a neutralidade como "o grande erro" de ACM Neto. "Não definir uma visão para o Brasil faz ele perder força, porque as pessoas buscam um líder que aponte caminhos. A eleição geral está muito mais forte e ele tentou negar e fugir disso desde o princípio", afirmou ao <b>Estadão</b>.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895