*Por Flávia Simões e Rafael Renkovski
O Correio do Povo continua a série de entrevistas com os quatro candidatos à prefeitura de Porto Alegre de partidos sem representação no Congresso Nacional. Em meia hora, Fabiana Sanguiné (PSTU) fala dos desafios da sua candidatura e dos problemas da cidade. A seguir, os principais trechos.
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Quem é Fabiana Sanguiné?
Sou uma moradora da periferia. Nasci e me criei na Lomba do Pinheiro. Sou mãe solo do Matheus. Sempre digo que sou mãe do Matheus e sogra da Ana, que é para ganhar uns pontos em casa. Sou trabalhadora da saúde desde os 18 anos, no município de Porto Alegre há 25 anos, e sempre trabalhei no SUS (Sistema Único de Saúde). No postão da Cruzeiro e, hoje, no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Sou vacinadora. Quando meu filho cresceu, consegui participar mais dos movimentos sociais, dos movimentos políticos e me encontrei no PSTU. Venho militando no movimento de mulheres, no sindical, no social e estamos construindo essa luta.
Como foi o teu ingresso na política e o que representa essa tua candidatura?
A minha primeira experiência foi em 2022, quando fui candidata ao Senado. Essa é a minha segunda experiência. A minha experiência na vida política vem pelos movimentos sociais desde 2010. O nosso objetivo é poder apresentar para a classe trabalhadora, para a população com quem sempre trabalhei. Sou do SUS, a minha família usa o SUS, meu filho nasceu no SUS. Eles não têm plano de saúde. O nosso objetivo é trazer propostas que atendam as necessidades da maior parte da população, que são os moradores da periferia, os trabalhadores, em especial aqueles que são mais pobres e que foram os mais afetados pelas enchentes. É para isso que me propus a aceitar essa tarefa.
Então, marca uma posição política?
É para todos os eixos da cidade. Mas a gente sempre diz que temos um lado nessa história. A gente tem propostas para resolver os problemas da classe trabalhadora. A gente vê que tem um projeto de governo, que não é só do governo municipal, é um projeto de país, do governo federal, estadual e municipal, que é de muito privilégio para aqueles que já são bilionários. Agora na enchente, isso ficou mais gritante. A gente sabe de todos os avisos que o município teve, inclusive documentado. Em 2023, a gente teve duas enchentes na cidade. O sistema avisou, ficou muito evidente toda a falha. A questão da saúde, por exemplo, está praticamente 100% entregue à iniciativa privada e isso é uma catástrofe. A nossa população estava enfrentando uma pandemia que de início era mortal. Não tinha leito, não tinha vacina, não tinha oxigênio e as pessoas morrendo sem ar. Dois novos bilionários no Brasil despontaram na lista da Forbes ligados à saúde privada. Eles fazem negócio para acessar os serviços públicos.
Objetivamente, caso eleita, quais serão as prioridades?
Nessa questão da enchente, a gente defende também para uma ação para moradias, uma empresa pública de obras, um plano público de obras públicas. Inclusive, a gente pode utilizar tudo o que já se tem de conhecimento do próprio Demhab (Departamento Municipal de Habitação), que há décadas não tem planejamento de moradia popular e acabou se resumindo a assinar licenças para grandes empreiteiras. A gente defende uma empresa pública municipal, estatal, controlada pelos trabalhadores para tocar as obras de reconstrução, porque não possível que os moradores de bairros inteiros tenham que esperar ainda cinco anos dentro de um abrigo para as grandes negociatas com as empreiteiras que estão ganhando milhões em cima disso.
Tu citou a criação de uma empresa de obras municipais. De onde viriam os recursos para ela?
A gente defende um IPTU fortemente progressivo. Isso quer dizer o quê? Que quem tem mais, quem tem propriedades mais caras, mais valiosas, vai pagar mais. Quem tem menos, vai pagar menos. O fim da Lei Kandir, mesmo que não seja possível a nível municipal, é uma defesa política nossa. A gente defende cobrança imediatas das dívidas dos sonegadores e o confisco dos seus bens. Só daí viriam bilhões, porque têm empresas gigantescas que não pagam impostos e que depois são perdoadas.
Caso haja um segundo turno e a senhora não esteja, pretendes apoiar alguma candidatura?
A gente acha cedo para se posicionar. A gente quer discutir com os trabalhadores, apresentar o nosso programa e, inclusive, um dos pontos centrais da nossa defesa são os conselhos populares. Os bairros atingidos pela enchente precisam se organizar para poder decidir os rumos da política.
Caso a senhora, no dia 27 de outubro, em eventual segundo turno, seja eleita. O que gostaria de ver na capa do Correio do Povo?
Gostaria de ver que, finalmente, Porto Alegre tem um governo em que os trabalhadores vão decidir a política e o orçamento. É esse o nosso objetivo. A gente não quer o poder para nós, a gente não vai inventar a roda, a gente quer que as comunidades tenham o poder de decidir os rumos da sua vida. É essa a questão, porque, na realidade, a gente vota, vota, vota, a cada dois anos, e nada muda. A gente vota em quem tem um discurso muito bonito, que tem um marketing e que chega lá e acaba fazendo outra coisa.