Eleições 2022: Leite prepara anúncio sobre disputa nacional

Eleições 2022: Leite prepara anúncio sobre disputa nacional

Ante estratégia de protelamento adotada pelo tucano, aliados se antecipam e fazem suas próprias escolhas, e PT emite nota com posição sobre eleição estadual

Flavia Bemfica

Candidato ao Piratini deve se manifestar nesta sexta-feira

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É aguardado para esta sexta-feira o anúncio do candidato do PSDB ao governo, Eduardo Leite, sobre como vai se colocar em relação à disputa nacional. A tese que prevalece é a de que é impossível abrir voto ou palanque para Lula, e será tentada uma estratégia de busca dos votos de eleitores à esquerda com um discurso genérico de defesa da democracia.

Até o final desta quinta-feira Leite não havia feito nenhum movimento em direção ao PT gaúcho, que desistiu de uma possibilidade de acordo. “Ele perdeu o ‘time’. Também não é verdade que o PT nacional está atrás dele. Isto não existe”, resumiu um dirigente com trânsito nacional. No final da tarde, o PT do RS lançou uma nota na qual estabelece que sua posição em relação ao segundo turno das eleições no Estado está “balizada pelo comprometimento com a democracia e a campanha da chapa Lula/Alckmin.”

Foi mais uma definição em uma semana tensa, que começou com tucanos e emedebistas externando a dificuldade em entender o resultado do primeiro turno. Com o passar dos dias, a estratégia de protelamento adotada pela chapa encabeçada pelo PSDB desde o domingo em relação a disputa nacional também foi se tornando insustentável, por uma série de fatores. Um dos principais foi a pressão interna, que veio acompanhada do risco de que Leite acabasse perdendo o protagonismo na condução das articulações. Isto porque desde antes de as direções nacionais do PSDB, MDB e União Brasil decidirem liberar os diretórios regionais para apoiarem Lula (PT) ou Bolsonaro (PL), lideranças locais deram início a um movimento de anunciar suas opções, a começar pelo presidente licenciado do PSDB gaúcho, o deputado federal reeleito Lucas Redecker. A ele seguiram-se diversos emedebistas, como o federal mais votado do partido no RS, Alceu Moreira, e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. O MDB tem o vice na chapa, Gabriel Souza.

Os três, Redecker, Moreira e Melo, abriram voto em Bolsonaro. “O MDB gaúcho estará massacradamente com Bolsonaro. Não tem nenhuma possibilidade de aproximação com o PT aqui”, resume Moreira. O problema é que Leite precisa dos votos do PT. Depois de superar o então candidato petista ao governo, Edegar Pretto, por uma diferença ínfima (2.441 votos), o tucano chegou ao segundo turno com 679.211 votos a menos do que o candidato do PL, Onyx Lorenzoni. “Eduardo se encontra no clássico ‘dilema do prisioneiro’. Por isso, adotou o protelamento, aguardando para onde vai o debate nacional. Se for para o lado mais programático, ele é favorecido, sua estratégia de focar em propostas para o Estado ganha fôlego. Se for para o de valores morais, é prejudicado, e praticamente obrigado a entrar na polarização”, explica a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (Ipo).

A pesquisadora confirma, contudo, que o tempo é bastante curto. “O mais adequado seria uma definição nesta semana em que estamos, de forma a não ser entendido como oportunista, e porque o início do horário eleitoral funciona como uma espécie de limite. Se a decisão é protelação com estratégia programática, mas o eleitor resolve que este não é o tema da eleição, a partir da metade do jogo ele não volta mais”, alerta.

A pressão regional sobre a chapa PSDB/MDB veio acompanhada do ritmo frenético da disputa nacional, na qual tanto Lula quanto Bolsonaro correram para anunciar apoios, em uma movimentação característica dos segundos turnos das eleições, onde vale a máxima destacada por Elis, de que o tempo é exíguo. Na corrida, a hipótese de o PT e o PSDB conseguirem um acordo no qual tucanos apoiassem de alguma forma a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo e, em contrapartida, o PT gaúcho abrisse apoio oficial ao PSDB no RS (sem que ninguém subisse no palanque de ninguém lá ou aqui), daria a Leite a justificativa de ‘acordo nacional’, mas acabou atropelada pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). Após ficar em terceiro na disputa, Garcia abriu o voto para o candidato do PL ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (PL), gerando um racha na legenda. Na outra ponta, lideranças históricas do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o padrinho político de Leite, o senador Tasso Jereissati, declararam voto em Lula.

Além da confusão nacional, no cenário local tucanos e emedebistas tiveram que absorver a escolha do PP. Por unanimidade, o partido optou por Onyx, jogando por terra a possibilidade aventada por Leite de que lideranças da legenda, a começar por prefeitos, lhe abririam apoio, e poderiam carregar parte dos 271.540 votos obtidos pelo candidato do PP ao governo no primeiro turno, Luis Carlos Heinze. Conforme integrantes dos núcleos de campanha tanto de Onyx como de Heinze, o entendimento de apoio mútuo no segundo turno para quem entre os dois saísse vitorioso da primeira etapa da eleição estava dado desde o ano passado, quando começaram as articulações para a composição das alianças.


Correio do Povo
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