Eleições 2024: eventos climáticos e inteligência artificial vão desafiar candidatos no RS

Eleições 2024: eventos climáticos e inteligência artificial vão desafiar candidatos no RS

Especialistas detalham as expectativas do eleitorado que já aparecem nas sondagens e os temas que devem pautar as disputas pelas prefeituras gaúchas neste ano

Flavia Bemfica

Cleber Benvegnú (Critério), Rodrigo Sousa Costa (presidente da Federasul) e Elis Radmann (IPO) durante o Tá na Mesa

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As eleições municipais de 2024 vão trazer pelo menos dois novos desafios aos candidatos que disputarão prefeituras no RS. Eles precisarão apresentar soluções concretas de prevenção para eventos climáticos extremos, uma prioridade apontada por eleitores que quase não aparecia em pleitos passados. E deverão ter ferramentas de proteção contra a utilização da inteligência artificial para disseminação de informações falsas, entre elas a divulgação de áudios e vídeos inverídicos, que usam técnicas como a deepfake. Os primeiros casos do uso da inteligência artificial para a produção de conteúdo falso, mas altamente enganoso, já começaram a aparecer.

“Os gestores vão precisar ter capacidade de combate a enchentes e alagamentos. Não basta mais ao prefeito ficar junto quando ocorre a tragédia. Independente da cidade, todos estão sofrendo com as questões climáticas, e não querem mais as desculpas de outrora. Vão ter que existir, inclusive, secretarias de defesa para a população, e também de prevenção. Em Porto Alegre, por exemplo, isto significa fazer com que o Projeto Dilúvio vá para a rua”, elencou, nesta quarta-feira, a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).

Radmann abordou o tema durante a reunião almoço ‘Tá na Mesa’, da Federasul, na qual ela dividiu a bancada com o consultor político Cleber Benvegnú, sócio fundador da Critério – Resultado em Opinião Pública. Os dois especialistas falaram sobre os cenários e as tendências das eleições municipais deste ano no Estado. Benvegnú, ao tratar da importância das redes sociais, alertou sobre o uso da inteligência artificial. “O maior desafio desta eleição, do ponto de vista das redes, é o uso da inteligência artificial para o mal, a deepfake. É uma fake news 2.0. E será necessário um esforço conjunto forte para que seja combatido.” Ele considerou, contudo, que o uso das redes, no conjunto, é benéfico. “Não pode ser satanizado”, resumiu.

Ao longo de suas exposições, os dois analistas discorreram sobre uma série de fatores que influenciarão os eleitores. Benvegnú classificou como “ledo engano” acreditar que o acirramento entre direita e esquerda será o único elemento decisivo. Radmann chamou a atenção para as diferenças nas preferências do eleitorado conforme grupos e regiões do Estado.

A diretora do IPO assinalou ainda a insatisfação da população com as entregas na área da saúde que aparecem nas sondagens, e disse que a verticalização (associação com a polarização nacional) não está em jogo na maioria dos municípios. “Mas isto não significa que não haverá uma influência do bolsonarismo. Haverá. Porque temos que entender que 70% dos gaúchos são conservadores ou tradicionais. O conceito de valores sociais e morais, estou falando aqui do que a gente conhece por bons costumes, família, isto está em jogo.”

Radmann alertou que o primeiro semestre abrigará discussões muito polêmicas no Supremo Tribunal Federal (STF). “Aborto e porte de drogas para uso pessoal vão rachar a sociedade gaúcha. Não estão na agenda dos municípios. Mas quando começarem a ser discutidos, vão entrar nas nossas casas”, lembrou. Benvegnú acrescentou que os debates sobre a regulamentação das redes, tanto no Supremo como no Congresso, são a terceira pauta com potencial para acirrar posições e promover ‘rachas’.

O consultor também fez uma avaliação específica sobre o cenário que se projeta hoje na Capital, Porto Alegre. Segundo ele, dificilmente haverá uma candidatura que consiga se posicionar com força para além do prefeito Sebastião Melo (MDB) e da deputada federal Maria do Rosário (PT). “Estão muito constituídos, como bloco político, com histórico e consistência na cidade. São duas figuras políticas, nomes muito fortes e posicionados, com todo o simbólico envolvido. Vai muito além da questão da polarização, e será acirrado. Não tem como não ser.”


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