Eleições 2024: Porto Alegre tem cenário ‘emblemático’, dizem especialistas
Calamidade pública travou articulações políticas e adiou definições
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O cenário eleitoral na Capital, Porto Alegre, é apontado por analistas políticos como emblemático da configuração gerada pelo calamidade climática. Até abril, as articulações vinham ocorrendo em um ritmo entre o usual e o acelerado para anos eleitorais, e alguns atores já haviam até antecipado definições, de forma a aumentar seu período de exposição e garantir aliados.
Foi o caso das federações formadas pelo PT/PCdoB/PV e PSol/Rede, que decidiram ainda no ano passado por uma aliança. E fecharam depois uma chapa com a deputada federal Maria do Rosário (PT) na cabeça e Tamyres Filgueira (PSol) de vice. Movimento semelhante fez o Novo: no início de março lançou a pré-candidatura do deputado estadual Felipe Camozzato. Ainda em março, PDT, União Brasil, PSB e Avante optaram por formar um bloco para negociar em conjunto seu caminho em Porto Alegre.
O prefeito Sebastião Melo (MDB), por sua vez, assumiu oficialmente a pré-candidatura à reeleição no início de abril. Mas as articulações em torno da manutenção da aliança que o sustenta ocorriam há muito tempo. E a prioridade, naquele mês, era chegar a um consenso para escolher um vice. Por fim, o governador Eduardo Leite se empenhava pessoalmente em tentar encontrar um nome que representasse o PSDB na Capital.
Calamidade travou articulações
Com o desastre climático, a definição do vice de Melo atrasou, as negociações do bloco integrado por PDT, União, PSB e Avante travaram, e a busca de um nome do PSDB ficou desarticulada. Agora, dirigentes partidários de diferentes siglas admitem em reservado que a catástrofe expôs desafios em sequência para o próximo prefeito da Capital, e exige um perfil mais “específico”, o que pode resultar em uma disputa com poucos postulantes.
“A existência de uma profusão de partidos faz as tratativas se estenderem ainda mais, porque cada um precisa fazer suas próprias avaliações sobre como se colocar a partir do desastre e, então, ajustar as negociações”, explica o professor Sergio Simoni Junior.
Como a tragédia embaralhou o cenário, tanto os articuladores de Melo como os de Rosário receiam que, na última hora, apareça um candidato carismático, que se apresente como uma terceira via, capaz de aglutinar as parcelas consideráveis de eleitores que rejeitam a ambos, e ofereça um discurso de soluções inovadoras.
Estes entendimentos, somados a diferentes sondagens eleitorais, trouxeram de volta aos holofotes o nome da deputada federal Any Ortiz (Cidadania). Mas Any é aliada de primeira hora de Melo. E o Cidadania está federado com o PSDB. Interlocutores da deputada asseguram que ela não entrará na disputa. Há quem, entre adversários, considere que sua candidatura poderia auxiliar Melo, tirando votos de Rosário. Já partidários do prefeito têm a estratégia como arriscada: poderia acabar deixando o emedebista de fora.
À esquerda há ainda um temor extra: o de que um candidato de extrema direita se apresente sob a bandeira da terceira via. “De fato, esta possibilidade existe. É preciso prestar atenção nas rejeições do prefeito e da deputada”, alerta a professora Luciana Papi.