Hofmeister: "não vejo ameaça à democracia"

Hofmeister: "não vejo ameaça à democracia"

Cientista político alemão esteve em Porto Alegre e analisou a importância de se discutir a redução do número de partidos políticos

Felipe Nabinger

Hofmeister, cientista político analisou a importância de se discutir a redução do número de partidos políticos

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Ao redor do mundo, movimentos da geopolítica colocam em xeque democracias de diversos países. Nas eleições gerais deste ano, no Brasil, o tema da defesa da democracia também apareceu. No entanto, na visão do cientista político alemão Wilhelm Hofmeister, o país tem mecanismos que garantem o regime democrático. “Não vejo uma ameaça à democracia no Brasil. Todas as nossas democracias têm os seus pontos fracos. Podemos ter líderes que entendem melhor e, outros, pior o seu funcionamento”, analisa o cientista político. 

Para Hofmeister, que foi diretor do centro de estudos da Fundação Konrad Adenauer no Brasil, o primeiro bastião do regime é o próprio cidadão brasileiro, que, em sua visão, prefere a democracia a outras formas de governo. As outras salvaguardas seriam a liberdade e a independência da imprensa, que cumpre uma função de controle; o federalismo, que dilui o poder com gestões estaduais; uma Justiça Eleitoral atuante; e barreiras instituídas pelo Congresso Nacional.

Neste último aspecto, ele faz uma ressalva. Embora veja o parlamento como um aliado na defesa da democracia, Hofmeister critica seu fatiamento com uma gama muito grande de partidos. “É um problema para a governabilidade, apesar da nossa posição favorável ao pluralismo. Mas com 32 partidos no parlamento, é difícil de governar razoavelmente”, diz.

Esse tema foi o motivo da recente visita do cientista político a Porto Alegre, neste mês, quando participou de evento promovido pela OAB-RS, CDEA e Fundação Adenauer e Programa de pós-graduação em Ciência Política/UFRGS. Na ocasião, o atual conselheiro político sênior na Alemanha da fundação que já representara no país, ligada ao partido da ex-chanceler Angela Merkel, ele lançou, na OAB Cubo, o livro “Os partidos políticos e a democracia – Seu papel, desempenho e a organização em perspectiva global”. “Sempre há uma tensão entre a governabilidade e a democracia. Democracia perfeita não existe, mas acredito que para um regime democrático mostrar mais capacidade, tem que ter um parlamento que possa atuar de forma mais eficaz”, diz. 

Favorável a medidas como a formação de federações e da redução do número de partidos, Hofmeister entende que isso permitiria aos governos formar maioria sem precisar “comprar decisões por diferentes mecanismos”, mesmo com a manutenção de ideologias divergentes nesse quadro com menos agremiações.

“Os partidos são culpados da situação complicada da democracia, mas também são promotores. Por isso, insisto que os partidos têm que pensar no bem da democracia. Hoje há menos ideologias, mas os partidos precisam trabalhar, sobretudo entre as eleições, na elaboração de programas. Não somente da genialidade de um líder, mas através do debate com suas bases”, afirma.

Aliado a isso, o estudioso defende que esteja a preparação de candidatos, que precisam conhecer seu próprio partido e as funções para as quais concorrem. “É preciso uma formação, uma educação política mais contínua, mais organizada e estruturada. Isso vai produzir candidatos melhor preparados, que sabem do que estão falando quando entram na política. Ações como essa podem fazer com que os eleitores voltem a confiar nos partidos como instituições”, diz.

Atualmente, conforme o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação 53% dos brasileiros não confiam nos partidos políticos, enquanto que 18% dizem confiar pouco, 23% afirmam confiar mais ou menos e somente 5% afirma confiar totalmente neste tipo de instituição.


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