O que os eleitores querem ver na propaganda no rádio e na TV

O que os eleitores querem ver na propaganda no rádio e na TV

Desejo é que candidatos mostrem saídas reais para a crise

Flavia Bemfica

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A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão que começa na sexta-feira e, conforme os estrategistas políticos, voltará a ganhar importância nestas eleições municipais já que as pessoas estão passando mais tempo em casa, vai exigir esforços extras das equipes de campanha. Porque, nas cidades do Rio Grande do Sul, a exemplo do que ocorre em todo o país, as sondagens qualitativas (que estudam as necessidades e as flutuações do comportamento do eleitor) contratadas por candidatos e partidos mostram que o eleitorado está com um conjunto extra de necessidades, decorrente do impacto do coronavírus.

Este bloco inclui uma preocupação muito grande da população com sua sobrevivência econômica nos próximos anos; com os efeitos da pandemia sobre a educação; e com medidas de assistência social que possa acessar. Por isso, os eleitores esperam por candidatos que demonstrem pulso firme, que consigam transmitir que de fato possuem capacidade de liderar a cidade por um complexo caminho de retomada, e que apresentem propostas realistas, ‘com começo, meio e fim’.

“O eleitor está cansado e estressado com a pandemia, cansado com a política, e com excesso de informações. Isto o tornou mais seletivo. Nas sondagens, os indicadores de dúvida, medo e ansiedade, todos pioraram. Todos querem saber como saímos, como tratamos as sequelas e como vamos em frente. Os candidatos vão precisar ser assertivos e falar de forma empática. E nunca a capacidade de gestão foi tão importante”, elenca a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (Ipo).

“É importante diferenciar o gestor que está no imaginário do eleitor agora daquele de algum tempo atrás. Agora, não é aquele que se apresenta para arrumar o estado inchado e ineficiente. O que as pessoas desejam ver nesta eleição é o gestor com visão social e capaz de encontrar soluções para a economia. É um líder confiável, que articula, que passa segurança. Candidatos com este discurso já aparecem bem avaliados”, completa o especialista em marketing político José Luiz Fuscaldo, presidente da agência Moove.

No caso específico de Porto Alegre, conforme Radmann, para além da importância concentrada no bloco ‘pandemia’ e os novos problemas que ela trouxe, zeladoria e infraestrutura da cidade aparecem como o grande tema exposto pelos eleitores nas sondagens comportamentais. Em uma segunda linha, de forma equivalente entre si, aparecem segurança e saúde, transporte e mobilidade. “E a educação surge como uma grande pauta a ser discutida. Para muito além do debate sobre o retorno, os eleitores estão preocupados com 2021, demandam diagnóstico e soluções bem amplas”, assegura ela.

Candidatos se preparam

Em Porto Alegre, onde seis dos 13 candidatos a prefeito concentram a maior fatia do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV (praticamente 80%), os eleitores demandam um pacote de necessidades apontado como complexo pelos cientistas sociais e especialistas em marketing político. Além dos novos problemas a serem enfrentados devido às consequências da pandemia, existem os problemas específicos da cidade, que já estariam postos, e que também acabaram se intensificando em função de efeitos provocados pelo contexto do coronavírus. Confira como os estrategistas das campanhas com os seis maiores tempos pretendem posicionar seus candidatos à prefeito na arrancada da propaganda no rádio e na TV.

Nelson Marchezan Júnior (PSDB)
Coligação: Mais Porto Alegre (PSDB, PSL, PL)
Tempo: 2min09seg

Fábio Bernardi, estrategista da campanha do prefeito à reeleição, diz que o governo tucano possui um déficit de comunicação muito grande e que a propaganda vai partir deste ponto para mostrar realizações que a população desconhece. “Nosso primeiro passo será recuperar este déficit, tanto na propaganda quanto nas inserções. Este déficit é até uma obviedade, todos sabem que ele existe.” Em relação a características pessoais do prefeito, enquanto os adversários o classificam como de temperamento explosivo e pouco conciliador, a campanha vai associar suas ações com coragem, seriedade e honestidade. Bernardi adianta que os programas terão o maior número possível de gravações externas.

Anselmo Cunha/PMPA/Divulgação

Sebastião Melo (MDB)
Coligação: Estamos Juntos Porto Alegre (MDB, DEM, SD, Cidadania)
Tempo: 1min36seg

A campanha do candidato optou por não se manifestar sobre a estratégia inicial para a propaganda eleitoral no rádio e na TV.


Foto: Divulgação / CP

Manuela D’Ávila (PCdoB)
Coligação: Movimento Muda Porto Alegre (PCdoB, PT)
Tempo: 1min14seg

O coordenador de marketing da campanha, Juliano Corbellini, adianta que os programas vão centrar em propostas claras, com execução bem explicada. Também manterão a ‘leveza’ observada nas peças de campanha das redes sociais. O foco é posicionar Manuela como alguém que apresenta o perfil para administrar a Capital “da forma como a cidade precisa.” Sobre características pessoais da candidata, que os adversários avaliam que foi “envelhecida” na campanha, para transmitir mais seriedade, Corbellini é taxativo: “Estamos retratando a Manuela em seu momento atual: uma mulher de quase 40 anos, mãe, autora de três livros, com uma trajetória política já extensa, e conhecida. Engraçado que essa pauta da idade/aparência só tentam colar em candidatas mulheres.”


Foto: Danilo Christidis

Juliana Brizola (PDT)
Coligação: Porto, Alegre de Novo (PDT, PSB e Rede)
Tempo: 1min10seg

A ideia é fortalecer a imagem de Juliana como herdeira dos ideais do avô, Leonel Brizola, mas, ao mesmo tempo, apresentá-la como política experiente, com bem mais a oferecer que o sobrenome ilustre. O rádio e a TV vão focar nas propostas de geração de emprego e renda e nas da educação (como escola de tempo integral e creches noturnas). A imagem de mãe que consegue se dedicar à família e ao mesmo tempo ser uma profissional reconhecida também ganhará destaque, com ênfase na formação da deputada, mestre em Ciências Criminais. “Mostraremos como a Juliana, em função destas suas características, é a líder capaz de conduzir as pessoas para a saída deste cenário de fragilidade atual”, resume o coordenador de comunicação e marketing da campanha, Fernando Vanelli.


Foto: Divulgação / CP

Gustavo Paim (PP)
Coligação: Porto Alegre pra Ti (PP, Avante)
Tempo: 54 segundos

O coordenador de comunicação, Cleber Benvegnú, adianta que o slogan a ser fixado para as chamadas da propaganda no rádio e na TV de Paim será direto, resumido na frase “Deu de Crise”. Segundo Benvegnú, as peças vão priorizar a apresentação de propostas concretas para recuperar a cidade, colocadas de forma bastante objetiva. “Vamos mostrar que o Paim tem um projeto que é realista e bem posicionado”, informa ele. Em relação a características pessoais do candidato, a ideia é dar bastante destaque a seu perfil de centro-direita no espectro político, mas sem nenhum viés de radicalidade. O que será assinalado é o contrário: um candidato conciliador e de diálogo. Nos bastidores, a linha é tratada como uma forma de explorar positivamente o rompimento entre o vice e o prefeito na gestão atual.  


Foto: Divulgação / CP

José Fortunati (PTB)
Coligação: Porto Alegre Somos Todos Nós (PTB, Patriota, Podemos, PSC)
Tempo: 53 segundos

O coordenador de marketing, Marcos Martinelli, informa que a estratégia para driblar o tempo escasso no rádio e na TV aliará objetividade e transparência. “O que o tempo não nos permitir explicar na TV, vamos detalhar nas redes sociais.” Ele destaca a percepção de que os eleitores estão “cansados de enrolação e cansados de briga”. Por isso, a propaganda vai assinalar que o petebista reúne as características que vão ao encontro dos anseios do eleitorado: a garantia de soluções, de um ‘norte’. “O Fortunati é um cara de papo reto, é transparente, dialoga, busca a união. Vamos mostrar isso muito bem. Da mesma forma, haverá uma prestação de contas, tudo o que ele fez enquanto prefeito, tudo o que concluiu e tudo o que deixou quase pronto, mas depois não foi adiante”, diz Martinelli.

Foto: Divulgação / CP

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895