PT monta estratégia para segundo turno sem palanque no RS

PT monta estratégia para segundo turno sem palanque no RS

Sem conseguir obter apoio de Leite, e com militância dividida entre votar branco, nulo ou no tucano, partido vai investir na campanha município a município

Flavia Bemfica

Em Sarandi, na quarta-feira, Pretto faz carreata e pede votos para chapa nacional

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Sem palanque para Lula (PT) entre os dois candidatos que passaram ao segundo turno da eleição para o governo do Estado, e ainda sem definição de data sobre viagem do ex-presidente ao RS nesta segunda etapa do pleito, o PT gaúcho lança oficialmente nesta quinta-feira, em Porto Alegre, sua estratégia de campanha para o segundo turno da eleição nacional. Para tentar aumentar a votação de Lula, que terminou o primeiro turno no RS com 438.351 votos a menos do que o presidente Jair Bolsonaro (PL), o partido vai apostar em arranjos locais, município a município. Além disso, vai reforçar a campanha em grandes colégios nos quais o petista tenha ficado na frente.

Para o primeiro ponto, a orientação é de que deputados, prefeitos, vices e vereadores da sigla busquem entendimento com lideranças do MDB, do PSDB e do PSD em suas cidades, e reforcem laços com PDT e PSB. A prioridade é que as articulações rendam votos. Por isso, elas não pressupõem a obrigatoriedade de manifestações públicas.

Institucionalmente, a estratégia dos arranjos locais parte de uma base estreita. Lideranças estaduais do MDB vêm repetindo que o partido, no RS, apoia majoritariamente Bolsonaro. Parte delas anunciou voto no candidato do PL. Em um universo de 497 cidades, PT e MDB venceram a última eleição municipal com dobradinhas de prefeitos e vices em oito, das quais apenas uma com mais de cinco mil eleitores. A candidata da legenda à presidência no primeiro turno, a senadora Simone Tebet, declarou voto e se engajou na campanha do ex-presidente. Mas, até esta quarta-feira, o diretório gaúcho não oficializou nenhuma posição sobre a corrida nacional, nem mesmo pela liberação de filiados.

No PSDB, o presidente estadual licenciado, o deputado federal reeleito Lucas Redecker, declarou voto em Bolsonaro na segunda-feira seguinte ao pleito, sem aguardar pela decisão do candidato do partido ao governo, Eduardo Leite, que oficializou a neutralidade em relação à corrida presidencial quatro dias depois, na sexta.

Após ver frustrada sua expectativa de que Leite pudesse fazer uma declaração de apoio a Lula, o PT gaúcho vai persistir no argumento de que está aberto ao diálogo. A diretriz em prol de uma frente ampla segue, mesmo que a distância, a estratégia nacional que mira conquistar eleitores de Simone e Ciro Gomes (PDT), além de indecisos e daqueles que não tenham muita convicção sobre o voto que deram no primeiro turno.

“Independente da posição dele (Leite), vamos construir com a base desses partidos (MDB, PSDB e PSD) movimentos de busca de apoio ao Lula. Se, em determinada cidade, para obter apoio de lideranças de um ou mais desses partidos, nossa turma entender que é importante apoiar o Leite, vai apoiar”, insiste o presidente do diretório estadual petista e mais votado da legenda para a Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta.

O dirigente admite, contudo, que na prática não houve nenhum movimento institucional do PSDB ou do MDB (que tem o vice na chapa tucana) em direção ao PT no Estado. E que, entre petistas, há três correntes em relação a eleição estadual. “Tem gente nossa defendendo voto nulo, tem gente nossa defendendo voto em branco e tem gente defendendo voto no Leite”, afirma.

Edegar: Leite não pode achar que o RS é uma ilha

Entre os que defendem que o mais importante é derrotar o candidato que, no entendimento dos dirigentes petistas, é o único representante de Bolsonaro na corrida estadual, o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL), há subdivisões. Há os que argumentam que, para isto, é possível apoiar Leite sem a necessidade de contrapartidas. Vão nesta linha as declarações de voto no tucano feitas pelos ex-governadores Tarso Genro e Olívio Dutra.

E há os que consideram que é preciso haver um movimento no sentido oposto. “Milhares de gaúchos e gaúchas estão olhando a atitude dele (Leite). Porque não pode continuar achando que o RS é uma ilha, que vive isolada do restante do país. Para que ele tenha uma declaração de voto minha, especialmente, ou nossa, é preciso que tenha um gesto em favor do presidente Lula, e que ele faça o gesto primeiro. Fizemos oposição ao projeto dele durante quatro anos. Nosso projeto é completamente distinto do dele”, elenca o deputado estadual Edegar Pretto (PT). Candidato da sigla ao governo, ele perdeu para Leite a vaga no segundo turno por uma diferença de 2.441 votos.

Internamente, as declarações de voto de Tarso e de Olívio geraram reações, mas o entendimento majoritário é de que este não é o momento de tratar de divergências em público. “O Olívio tinha deixado muito claro que iria respaldar a decisão do partido, e estava alinhado com o entendimento daqueles que consideram que existem condicionantes para um apoio ao candidato do PSDB. Entre a militância, é muito forte o sentimento de votar branco ou nulo na eleição estadual, não há como negar isto”, confirma um dos integrantes da direção estadual.

No dia 6 a executiva estadual lançou nota pública onde vinculou sua posição sobre o segundo turno no RS ao comprometimento das forças políticas em assumir a chapa Lula/Alckmin. No dia 10, após a neutralidade tucana, emitiu uma resolução assinalando que a eleição nacional é prioridade e orientando que, na estadual, nenhum voto deve ser dado a Onyx, mas não citou Leite. “Nossa prioridade é a eleição do Lula. É muito simples. Não vamos perder tempo para discutir a eleição estadual, porque não estamos no segundo turno”, completa o deputado estadual reeleito e líder da bancada do PT na Assembleia, Pepe Vargas.

A quantidade de eleitores gaúchos identificados como “à esquerda” que pode ir às urnas no próximo dia 30 para votar em Lula e anular o voto ou votar em branco na corrida estadual é uma possibilidade a ser considerada, na avaliação da cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (Ipo). “Do montante de votos recebidos pelo candidato do PT ao governo no primeiro turno, metade é base ideológica. Esta metade, a princípio, olha para o branco e nulo e pode fazer esta opção com mais facilidade. E metade é o voto personalizado, que tende a se movimentar com mais facilidade em direção ao candidato do PSDB”, explica Elis. 


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