Gonet recorre para reverter decisão de Toffoli que suspendeu multa bilionária da Odebrecht

Gonet recorre para reverter decisão de Toffoli que suspendeu multa bilionária da Odebrecht

Empresa afirma que foi pressionada a fechar acordo

Estadão Conteúdo

Gonet recorre de decisão de Toffoli

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou nesta quarta-feira, 14, um recurso contra a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu, por tempo indeterminado, o pagamento da multa do acordo de leniência da Odebrecht (atual Novonor).

O procurador-geral Paulo Gonet sugere duas alternativas: que o ministro reconsidere a própria decisão ou que submeta o recurso para análise no plenário do STF. A Odebrecht assumiu o compromisso de pagar R$ 3,8 bilhões ao longo de 23 anos para encerrar investigações da Operação Lava Jato. As autoridades responsáveis pela negociação, homologada em 2016, projetaram que o valor corrigido chegaria a R$ 8,5 bilhões ao final do período.

A empresa agora afirma que foi pressionada a fechar o acordo para garantir sua sobrevivência financeira. Também alega que foi vítima de "chantagem institucional" e que a Lava Jato usou "técnicas inquisitórias de condução processual". Toffoli reconheceu que há "dúvida razoável sobre o requisito da voluntariedade".

Em seu recurso, Gonet afirma que os argumentos da Odebrecht são "precários" e não poderiam ter fundamentado uma decisão dessa magnitude. "A presunção de que goza todo o negócio jurídico é o da sua validade", afirma. "É óbvio que o particular estará sempre numa posição de pressão. Seria ingênuo supor que alguma grande empresa se apresentaria ao Ministério Público Federal para fechar um acordo de leniência se não percebesse a probabilidade de sofrer danos intensos aos seus interesses se optasse por não colaborar”.

O PGR também argumenta que a empresa não voltou atrás na versão que deu às autoridades. A empreiteira mencionou 415 políticos de 26 partidos em seu acordo. "Não deixa de ser significativo que o peticionário não esteja arguindo que mentiu ao indicar casos de corrupção e de malfeitos de que participou. A prática de crimes foi efetivamente reconhecida pela empresa e por seus executivos, em confissões e com entrega de documentos comprobatórios", segue Gonet.

O procurador alerta ainda para o impacto da decisão e afirma que ela pode abrir caminho para a suspensão de outros acordos de leniência. "A decisão, pelo seu efeito de espelhamento futuro, e tendo em vista os tantos acordos de leniência e de colaboração já celebrados e homologados, é apta para afetar previsões orçamentárias de órgãos do Poder Público e a sua capacidade financeira de concluir metas de ação", escreve o PGR.

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Os pagamentos foram suspensos enquanto a empresa analisa documentos da Operação Spoofing, que prendeu os hackers da Lava Jato, em busca de mensagens que possam indicar atuação irregular dos procuradores da força-tarefa.

Gonet afirma que, embora as mensagens possam mostrar "comportamentos censuráveis de agentes públicos, não revelam prática de nenhum ato que componha o conceito de coação moral irresistível". "A empresa e os seus executivos sempre puderam dispor da melhor assessoria jurídica, administrativa, contábil e de relações públicas”. Gonet já havia recorrido da decisão de Toffoli que beneficiou o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, em condições semelhantes.


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