Marco Aurélio critica fala de Bolsonaro sobre pai do presidente da OAB

Marco Aurélio critica fala de Bolsonaro sobre pai do presidente da OAB

Ministro do STF considerou que presidente da República "deve perceber a envergadura da cadeira que ocupa e adotar uma postura de equilíbrio"

Correio do Povo

Ministro também comentou a iminente nomeação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos EUA

publicidade

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou nesta sexta-feira as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a morte de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira – pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz –, durante a ditadura militar. “O pronunciamento não contribuiu para a harmonia que deve haver na sociedade e também para a segurança jurídica. Deve perceber a envergadura da cadeira que ocupa e adotar uma postura de equilíbrio, harmônica, que é espera do presidente da República”, afirmou em entrevista ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba.

“Precisamos avançar, virar certas páginas, e não há espaços para saudosismo”, completou. Ele reforçou que o desaparecimento do homem, ex-integrante do grupo Ação Popular (AP), está comprovado por documentos. “Há uma certidão revelando que foi vítima do próprio Estado repressor. E houve um crivo da Comissão da Verdade nesse ponto. Nós não podemos retroceder quanto aos fatos. Precisamos é avançar”, afirmou. Ele ainda disse que não se pode tocar o Brasil “a partir de crises criadas, ao que tudo indica, pelo próprio Planalto”.

Hoje, Bolsonaro afirmou que não falou "nada de mais" sobre o tema, mas revelou que enviará ao ministro Luís Roberto Barroso, também do STF, cópias das declarações em que criticou o militante de esquerda. Ontem, o ministro de um prazo de 15 dias para o presidente, se quisesse, apresentar esclarecimentos sobre sua fala.

Ao comentar a iminente nomeação de Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador nos Estados Unidos, Mello considerou que a matéria possivelmente chegará ao plenário da Suprema Corte caso a indicação seja aprovada pelo Senado. “Há o questionamento se configura ou não o nepotismo. Em relação aos prefeitos que têm nomeado como secretários mulher, cunhado, sogro, eu tenho dito que há configuração do nepotismo, mas vamos esperar”, disse.

“Há de se distinguir o presidente como pai e como ocupante da cadeira maior da República. Na ocupação desta cadeira, se o ato incumbe a ele como presidente, precisa observar o figurino constitucional”, avaliou Mello, que é ministro do STF desde junho de 1990. Ele foi nomeado pelo então presidente da República Fernando Collor de Mello, seu primo.

Investigação de colega

O magistrado também reiterou suas críticas às revelações do jornal "Folha de S.Paulo" e do site The Intercept Brasil de que o procurador Deltan Dallagnol , da força-tarefa da Operação Lava-Jato , incentivou investigações acerca das finanças do presidente da Corte, Dias Toffoli. “A organização do direito vai por água abaixo, porque atua junto ao Supremo o procurador geral da República, não um procurador de primeira instância. O episódio só revela que vivenciamos uma quadra estranha e que há perda dessa organicidade”, afirmou.

Sobre eventuais medidas contra Dallagnol e os rumores de que a Corte estaria articulando para afastá-lo, classificou as informações como “invencionice”. “Não cabe ao Supremo atuar de ofício. Primeiro, o STF atua como órgão do judiciário mediante provocação. Segundo, o tema teria que ser equacionado no âmbito administrativo, não jurisdicional. Isso depende de uma iniciativa que incumbirira ao Conselho Nacional do Ministério Público ou à procuradora-geral da República.”

Por fim, acrescentou que todos devem se submeter ao arcabouço normativo “principalmente, o fiscal da lei que é o Ministério Público". "Eu penso que está de bom tamanho o escancaramento da questão e que devemos atuar com temperança. Que sirva de advertência a outros integrantes do MP que não podem atuar segundo critério de plantão estabelecido por eles”, concluiu.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895