PT decide se aceita fazer primárias com PSol para definir candidato a prefeito em Porto Alegre

PT decide se aceita fazer primárias com PSol para definir candidato a prefeito em Porto Alegre

Deputada vai propor que diretório defina na quarta-feira sobre espécie de prévia proposta pelo PSol como condição para formar uma frente de esquerda

Flavia Bemfica

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A deputada Sofia Cavedon encaminhará à votação, na reunião do diretório petista na quarta-feira (25), uma proposta de realização de primárias entre um representante da federação partidária composta por PT, PcdoB e PV e um da federação PSol/Rede, para definir um candidato comum à prefeitura de Porto Alegre nas eleições de 2024. Sofia e a deputada federal Maria do Rosário são as duas postulantes à indicação dentro do PT. A realização de primárias, um nome alternativo para as conhecidas prévias, e a garantia de que seu vencedor será o pré-candidato a prefeito, vêm sendo colocadas nas mesas de negociação como condições do PSol para a composição de uma frente de partidos de esquerda na disputa municipal do próximo ano. Dentro do PSol a proposição é antiga e o nome com mais peso para a disputa, por enquanto, é o da deputada federal Fernanda Melchionna.

Segundo Sofia, a proposta vem sendo trabalhada previamente com diferentes correntes da legenda. A parlamentar elenca o que considera as vantagens da ideia. “Ela dá maior unidade e nitidez ao processo, envolve as bases partidárias, cria uma mobilização prévia em torno da candidatura e demonstra que os partidos atuam de fato como um coletivo que dialoga”, aponta. Se a proposição for aprovada, os partidos deverão definir até o final deste ano os critérios do processo. A deputada, em particular, defende que, além dos filiados das siglas envolvidas, também possam votar integrantes de movimentos sociais não filiados a qualquer legenda.

Já a presidente estadual do PSol, Luciana Genro, diz que a proposta da sigla inclui, além da participação de filiados, também a de qualquer pessoa que apoie a frente e se inscreva para participar do processo. Segundo ela, pelo roteiro do PSol, quem obtiver mais votos fica com a cabeça da chapa. Mas a federação que ficar em segundo não precisa necessariamente indicar para vice-prefeito seu candidato que concorreu na primária, tendo a liberdade de apresentar outro nome no decorrer das articulações. “Já havíamos proposto na outra eleição, mas o PT não concordou. Agora, o que vemos, da parte deles, é uma sinalização de que podem aceitar. Defendemos a ideia porque entendemos que ela movimenta de um modo amplo o processo eleitoral e nos possibilita ouvir a cidade”, resume a parlamentar.

A deputada Maria do Rosário também se mostra favorável à realização das primárias. “Tudo o que possa inovar e democratizar o processo é muito bem-vindo. O objetivo é a frente estar unida”, assinala. Ela prefere, contudo, não avançar sobre qual o melhor formato para a definição dos votantes. Em campanha aberta pela indicação dentro do PT, a deputada busca vincular desde já sua imagem a de Lula e a inovações na participação de eleitores na elaboração de propostas. “Estou desenhando um projeto para apresentar aos movimentos sociais e aos partidos, de programa participativo de governo, que é espelhado no do presidente Lula.” No ano passado, Rosário integrou a coordenação do projeto da campanha petista à presidência da República para agregar sugestões da população ao plano de governo.

Sigla avalia prós e contras do processo 

Apesar de publicamente a ideia da realização de primárias entre candidatos de federações ou partidos ter a concordância de diferentes setores do PT, ela enfrenta resistências veladas de parte da sigla. Por isso, de forma reservada, um integrante da direção partidária admite que a proposta da deputada Sofia Cavedon deve “desentocar quem é contra, mas até agora não assumiu.” Há três possibilidades de desfecho para a proposição de Sofia na reunião do diretório da próxima semana. Além de poder aprová-la ou rejeitá-la, o colegiado pode optar por adiar a votação. A alternativa, contudo, tende a atrasar uma definição que todos os envolvidos gostariam de resolver logo, por uma série de motivos.

Há hoje uma avaliação consistente dentro do PT de que não é blefe a garantia do PSol de que só marchará para a composição de uma frente de esquerda a partir da realização das primárias entre candidatos das duas federações e, ainda, de algum outro partido que possa vir a participar de negociações para a composição de uma coligação na Capital. Além disto, o entendimento majoritário entre lideranças petistas é de que o lançamento de duas candidaturas diminuiria de forma significativa as chances de vitória para ambas.

O PT tem no retrovisor o que aconteceu com a chapa Edegar Pretto (PT)/Pedro Ruas (PSol) no primeiro turno da eleição para o governo do Estado no ano passado. Candidato de uma aliança que uniu as duas federações (PT/PcdoB/PV e PSol/Rede), Pretto perdeu para Eduardo Leite (PSDB) a vaga ao segundo turno por apenas 2.441 votos. A diferença estreita, destacada por petistas para indicar a força do partido, deixou evidente também o peso do aliado. E acendeu um sinal sobre a importância de fazer concessões. Se tivesse conseguido agregar qualquer uma das siglas do campo de centro-esquerda que também apresentaram candidaturas próprias, do PDT ao PCB, passando por PSB e PSTU, o candidato petista teria passado ao segundo turno.  

A concordância em realizar primárias, contudo, preocupa uma parte da legenda, que considera a chance de o PSol conseguir mobilizar a tal ponto não filiados que acabe vencendo a disputa, o que colocaria o PT em Porto Alegre em uma posição difícil, já que há uma orientação da direção nacional do partido para que ele apresente estrategicamente candidaturas próprias às prefeituras das principais cidades. Além disto, lideranças petistas que vivenciam as articulações na Capital admitem que o potencial eleitoral de PSol e PT são considerados equivalentes na cidade, constatação que é lembrada pelo PSol de forma recorrente. Na Câmara Municipal hoje o PSol tem quatro vereadores. O PT tem três (o PcdoB, que integra a mesma federação partidária, tem outros dois). Mesmo assim, o PT acredita que vence em função de sua bem maior estruturação partidária.


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