Conab adia anúncio de compras públicas de leite
Aquisição é uma das medidas de apoio esperadas por pecuaristas familiares, prejudicados pelo aumento das importações de produto do Mercosul
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O adiamento do anúncio de compras públicas de leite pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) frustrou representantes de produtores rurais gaúchos. Prometido pelo presidente da estatal, Edegar Pretto, o anúncio estava previsto para esta quinta-feira (10) e era aguardado como uma das respostas aos pedidos de auxílio dos pecuaristas, que vêm sofrendo com a disparada das importações de leite de países do Mercosul neste ano. Na avaliação das lideranças, no entanto, a medida não será suficiente para trazer alívio ao setor.
Na sexta-feira passada (4), Pretto esteve em Porto Alegre e reuniu-se com lideranças de produtores familiares, acompanhado do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin. Na ocasião, disse que o governo federal havia autorizado a Conab a realizar R$ 100 milhões em compras de leite no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), como forma de reduzir a oferta do produto e revigorar os preços pagos aos pecuaristas. De acordo com a assessoria de imprensa da Conab, o anúncio foi protelado por problemas de agenda dos envolvidos.
“É importante, mas não resolve. Vai dar para comprar em torno de 5 mil toneladas de leite em pó, mas só o que entrou (no Brasil) em junho são 20 mil toneladas. Esse leite vai ficar estocado, mas em algum momento vai entrar no mercado de novo”, disse o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Eugênio Zanetti. Segundo o dirigente, o setor suspeita também de triangulação do leite procedente da Argentina e do Uruguai e pressiona o governo federal a estabelecer cotas de importação para limitar a entrada do produto.
De janeiro a julho, o Brasil importou cerca de 135,5 mil toneladas de leite, creme de leite e lácteos (exceto manteiga e queijo), um salto de 211,8% na comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com dados do MDIC. No último dia 1o, pecuaristas mobilizados pela Fetag-RS bloquearam com tratores o acesso à aduana do porto internacional de Porto Xavier, na fronteira com a Argentina. Após contato com Pretto, as lideranças da entidade decidiram dar ao governo um prazo 30 dias para o anúncio de medidas de apoio.
O deputado Elton Weber (PSB) defende um novo fechamento da fronteira com os países vizinhos caso não saia nenhuma ação concreta até o início da 46a Expointer, que ocorre de 26 de agosto a 3 de setembro em Esteio. “Até agora não temos uma medida efetiva que recupere o preço. Pedimos mais uma vez aos governos o estabelecimento de cotas de importação e o corte de benefícios fiscais (a empresas importadoras)”, disse Weber, por meio de sua assessoria de imprensa.
O coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-RS), Douglas Cenci, afirmou que a entidade planeja fazer manifestações na Capital no próximo dia 15. “É uma pena que o governo tenha adiado o anúncio (das compras públicas de leite) e a operacionalização destes recursos que são importantes, mas que não reestabelecem a condição para os agricultores sobreviverem na atividade”, destacou.
