Exemplo que inspira o futuro nos tambos

Exemplo que inspira o futuro nos tambos

Casal mostra que manejo e tecnologia geram produtividade e renda na atividade leiteira

Itamar Pelizzaro

Com assistência técnica adequada, Tiago e Lousie planejaram cada passo nas finanças para melhorar produtividade e ter renda

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A trajetória de Tiago Pires Oliveira, 34 anos, é um exemplo de como os produtores de leite gaúchos podem avançar em produtividade e eficiência e se tornarem mais competitivos. Ele e a esposa, Louise Tainá Contri, 32 anos, transformaram uma propriedade rural estagnada em um modelo que impressionou o presidente da cooperativa CCGL, Caio Vianna, e deve inspirar outros produtores desalentados pelas provações geradas pela importação de lácteos do Mercosul, que achatou a renda dos produtores brasileiros. Com assistência técnica adequada nas questões agronômicas, zootécnicas e econômicas, Tiago e Lousie apostaram em melhora das pastagens, genética, sanidade e bem-estar animal, além de planejar cada passo nas finanças e na atividade leiteira.

O casal vive em uma área de 30 hectares em Carajazinho, localidade rural de Eugênio de Castro, município onde a maioria dos menos de 3 mil habitantes se dedica à agricultura e à pecuária de corte e de leite. Aos 18 anos, Tiago decidiu sair da terra dos pais, Clóvis e Antônia Terezinha. Na cidade, viveu em uma república e ficou dois anos percorrendo de moto 600 quilômetros semanais, como vendedor de refrigerantes. Em 2010, Clóvis decidiu se aposentar do tambo, que no auge rendia de 3 mil a 4 mil litros ao mês, numa média produtiva de 10 litros ao dia por animal. Clóvis e a esposa rumaram para a cidade e deixaram um encarregado pela ordenha.

Tiago e Louise fizeram o caminho inverso e se bandearam para Carajazinho, a 30 quilômetros do centro, para assumir a propriedade, à época com 17 hectares. “Vi que era uma oportunidade de ser dono do meu negócio”, lembra Tiago. “Bastante gente dizia que não ia dar certo”, completa Louise. As irmãs Ana Cláudia e Aline também já tinham deixado a colônia e já viviam em cidades da região, exercendo outras atividades profissionais. A realidade nas terras do pai era desafiadora. “A propriedade estava parando, tinha de 8 a 10 vacas, em fim de ciclo”, lembra Tiago, que logo se associou à cooperativa CCGL e passou a receber orientação do assistente técnico André Tomaz Steffler, à época técnico agrícola e formado em Agronomia nesta semana.

Grandes desafios

“O Tiago pegou uma propriedade totalmente descapitalizada. Tinha apenas as vacas em lactação, não tinha novilhas e apenas um touro”, recorda Steffler. Com obstáculos evidentes, começaram a trabalhar. “Começamos do zero, desde fertilidade do solo, escolha de materiais, manejo da pastagem e adubação. Batalhamos para recuperar as áreas, fazer produzir, com foco em ter menos área, mas melhor cuidadas para gerar renda”, revela o agrônomo. “Eram desafios grandes. Tínhamos área, mas não tinha manejo. Fomos fazendo seleção de terneiras, criando a partir das próprias matrizes, comprando animais”, comenta Tiago.

No começo, a gestão “era conforme dava”. Hoje, o casal ainda toma notas, mas tem o suporte das funcionalidades da plataforma SmartCoop para a gestão e a tomada de decisões. Os recursos que arrecadavam com o leite eram canalizados para a subsistência e novos investimentos. Para qualquer dilema, fosse sobre agronomia, nutrição ou finanças, buscavam a opinião do assistente técnico. “Pensamos em desistir várias vezes, por imprevistos e pela pouca renda”, recorda o produtor. A assistência técnica da CCGL abriu caminho para o crescimento em qualidade e produtividade.

O casal perseverou, tecnificou a propriedade e cuidou de cada detalhe. “De acordo com as possibilidades, fomos reinvestindo, analisando onde daria mais resultado, melhorando pouco a pouco cada ponto”, conta. Um dos investimentos foi em inseminação artificial. “Agora os frutos estão sendo colhidos”, revela Steffler. “Nos últimos anos, fechamos uma média anual de 26 litros/dia por vaca”, conta Tiago. “Isso que pegamos duas secas que nos arrebentaram e a todo o Rio Grande”, completa o agrônomo. Diante do clima severo e da queda do preço do leite, buscaram alternativas. “Tentamos produzir mais para diluir os custos”, destaca.

Investimentos

No ano passado, o casal resolveu aplicar em um galpão de alimentação e em uma nova sala de ordenha. Instalou sistema de extração automática que faz medição da produção individual das vacas. Para a nutrição, buscou as melhores variedades para a pastagem e faz suplementação de silagem com orientação do profissional da cooperativa. “E fazemos as contas para ver se é viável”, ressalta Steffler. A melhoria dos processos produtivos foi acompanhada pelo aumento da área. Quando largou a moto para voltar ao tambo, o casal tinha disponível os 17 hectares pertencentes ao pai e que faziam parte de um todo maior que o avô de Tiago legou aos filhos. Ao longo do tempo, Tiago e Louise adquiriram uma gleba de um tio e mais naco de terras de um vizinho. Também já compraram quatro hectares do pai e pretendem adquirir mais.

Eles estão em grupo seleto de produtores de leite que acredita na tecnificação para se manter e evoluir no segmento. Nos arredores da propriedade, alguns vizinhos estão bem, outros desmotivados e desistindo, em uma tendência de enxugamento da bacia leiteira em que só se manterão na atividades os mais eficientes. Quando Tiago decidiu voltar ao campo, a propriedade tinha um trator antigo e uma plantadeira que se desmancharia se fosse colocada a rodar no campo.

Agora, o casal conta com duas plantadeiras, de inverno e verão, dois tratores, sistema de irrigação, guincho, roçadeira, lancer, carreta basculante e ensiladeira. Construiu uma nova estrutura para comportar 60 animais em lactação, em dois anos, e investiu em aspersores para o conforto térmico do gado leiteiro. Também mantém um funcionário para não deixar o tambo parar. E ainda uma boa caminhonete para passear com a filha Isabela, de cinco anos. Tudo conquistado com a renda do leite, extraída com boa gestão, controle e determinação e o acompanhamento técnico. “É bonito ver o que eles conseguiram fazer e que inspira outros produtores da cadeia”, elogia Caio Vianna, dirigente de uma cooperativa gaúcha que exporta, conquista nichos de mercado e valoriza o produtor gaúcho, sem nunca importar lácteos.

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