Variáveis do mercado internacional devem reduzir plantio de trigo no RS

Variáveis do mercado internacional devem reduzir plantio de trigo no RS

Fórum na Expodireto Cotrijal debateu impactos no futuro da triticultura

Itamar Pelizzaro

publicidade

Na reta final da safra de verão, as variáveis que determinarão a implantação das culturas de inverno começam a ser ponderadas. Na Expodireto Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque, o 15º Fórum do Trigo analisou o cenário gaúcho e a conjuntura de mercado e oferta do cereal. “O sentimento inicial é de pessimismo e de redução de área a ser plantada. Temos produtores descapitalizados e desmotivados, com incerteza de preços”, disse o analista Elcio Bento, da Safras & Mercado, que entrou na programação do fórum em lugar do presidente da Federação Argentina da Indústria de Moagem. O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rogério Tondo, também foi escalado para falar no evento.

A triticultura gaúcha vem de quebra forte na última safra. A estimativa inicial de colher 5,4 milhões de toneladas foi frustrada pelos efeitos do El Niño, com chuvas e umidade excessiva, reduzindo a safra para 3,2 milhões de toneladas, com 80% dos grãos de baixa qualidade sendo destinados para a produção de ração. Considerando que o consumo dos moinhos gaúchos fica ao redor de 1,9 milhão de toneladas, consolidou-se maior dependência da importação, especialmente da Argentina.

Veja Também

Bento abordou os reflexos do que está sendo feito na Argentina após Javier Milei assumir o comando do país e o impacto da produção argentina no mercado brasileiro. Conforme o analista, a Argentina vive situação similar à época em que Mauricio Macri assumiu o poder, em 2015, com a promessa de isentar retenciones (impostos de exportação). “Naquele ano das eleições, os exportadores não venderam trigo, porque tinha retenciones de 23% e havia a promessa de que seriam zeradas”, afirmou. O país tinha estoque de 8 milhões de toneladas e exportou menos de 4 milhões de toneladas. “Este ano aconteceu algo parecido, mas a Argentina teve safra pequena, por efeitos climáticos”, afirmou.

A safra argentina de 2021-2022 foi de 22 milhões de toneladas, caindo para 11 milhões de toneladas no ciclo seguinte. Ante a quebra de 10 milhões de toneladas, o país poderia ter exportado até 5 milhões de toneladas, mas vendeu somente 3 milhões de toneladas. “Este ano, a situação climática era complicada, mas a produção subiu para 14,8 milhões de toneladas. Considerando que consome 6 milhões de toneladas, a Argentina tem saldo exportável de 10 milhões de toneladas, e o Brasil vai ser um grande comprador”, analisou.

Conforme Bento, a dificuldade para o produtor brasileiro é que o trigo argentino está muito barato, a partir da dinâmica mercadológica internacional. “A Rússia está enchendo o mercado de trigo, tem grande saldo para exportar, e há um efeito dominó, derrubando preços no mundo todo, inclusive na Argentina. Tem trigo argentino barato, câmbio abaixo de R$ 5, e isso achata os preços no Brasil”, destacou. O analista disse que o cenário aponta para desestímulo ao plantio no Brasil. “É difícil estimar um percentual de queda, mas é meio que consenso no mercado que vai ser menor”, disse. Apesar do pessimismo, o analista sinaliza para dois fatores positivos que podem ser vantajosos para o triticultor: o custo de produção em queda e a condição climática mais favorável pela possível ocorrência de La Niña. “Sem contar ainda que, ao final deste ano, começam a operar as indústrias de etanol de trigo no RS”, finalizou.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895