Pesquisa revela quem são os meliponicultores do Rio Grande do Sul

Pesquisa revela quem são os meliponicultores do Rio Grande do Sul

Estudo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) detalhou o perfil de quem produz mel a partir da criação de abelhas sem ferrão no Estado

Lucas Keske

Federação das Associações da Meliponicultura do Rio Grande do Sul (Femers) reconhece crescimento do interesse do produtor nos últimos anos e atribui o movimento ao alto valor de mercado que o mel das abelhas nativas tem, entre R$ 80 e R$ 300 o quilo

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Uma pesquisa realizada pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) traçou o perfil dos meliponicultores do Rio Grande do Sul e conclui que a maior parte deles integra pequenas propriedades. O documento, lançado na última semana, aponta o interesse em produzir mel de meliponas, as abelhas-sem-ferrão.

Segundo os dados levantados pela secretaria, quase 70% das propriedades que trabalham com meliponicultura no Estado estão localizadas na mesorregião Noroeste do Estado, que tem longa tradição na produção de mel de abelhas apis mellifera e já foi responsável por mais de um terço da produção de mel gaúcho. Depois dela, destacam-se o Centro Oriental (12,4%) e a Região Metropolitana (10,1%).

De acordo com o estudo, cerca de 60% dos agricultores que estão na atividade possuem propriedades de até 10,99 hectares. Mais de 60% utilizam para o manejo da meliponicultura mão de obra de até duas pessoas e 93,7% não contratam mão de obra auxiliar. Entres os produtores consultados, 61,2% têm Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento que comprova a condição de agricultor familiar e possibilita o acesso às políticas públicas voltadas para o segmento. A pesquisa foi realizada em duas fases, primeiro contando com dados já apurados pela Emater/RS-Ascar e do IBGE. Na segunda fase, 111 meliponicultores do Rio Grande do Sul foram entrevistados pelos pesquisadores da Seapi.

Em relação à rentabilidade do investimento na meliponicultura, 55% dos entrevistados veem potencial de agregação de renda para suas famílias, mas 38,8% apontam não ter nenhum ganho financeiro com a atividade e 30% confessam desconhecer o potencial econômico que ela representa.

De acordo com a pesquisadora do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Seapi (DDPA/Seapi) Larissa Bueno Ambrosini, os números condizem com o apurado no estudo, já que muitos dos entrevistados nem mesmo têm a pretensão de que a meliponicultura seja rentável. “Pode ser gente que procura a atividade por hobby ou para um futuro (como fonte de renda)”, explica. A maioria, diz a pesquisadora, se considera meliponicultor amador (70,2%), enquanto 20,7% se entende como meliponicultores profissionais e 7,2% não se consideram meliponicultores. Outro dado relevante descoberto na elaboração é que a maioria dos produtores não tem sua renda proveniente da atividade agrícola A pesquisa classificou como “atividades não agrícolas” as pessoas que nem mesmo trabalham com agricultura, mas que investem na meliponicultura.

Um grupo que se destaca a partir da observação dos dados é o dos aposentados, que procuram a atividade para engordar rendimentos. Do total de entrevistados, 24,32% se apresentaram como aposentados. “A atividade é uma boa fonte de renda, mas quem sabe ainda não para a maioria”, considera Larissa. A pesquisadora ressalta que a procura pelo cultivo de abelhas-sem-ferrão registra um crescimento recente e que, por isso, decidiu estudar o segmento. Pelo menos um quarto dos entrevistados pratica a meliponicultura há mais de 20 anos (25,22%), 29,7% estão no ramo entre três e seis anos e 12,6% entraram na atividade há menos de dois anos. A espécie predominante é a jataí, que está presente em 95,5% das propriedades. A espécie tubuna está presente em 40,5%, e a mirim droryana, em 36,9%.

A Federação das Associações da Meliponicultura do Rio Grande do Sul (Femers), fundada no ano passado, reconheceo crescimento do setor e o atribui ao alto valor de mercado que o mel das abelhas nativas tem, que vão de R$ 80 a R$ 300 o quilo. O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da Seapi também identificou os maiores desafios que os agricultores encontram para a produção, citando o desmatamento e o uso excessivo de agrotóxicos como alguns deles. Entre os entrevistados, alguns meliponicultores argumentam que o setor também pode ser atingido pelas mudanças climáticas, já que as chuvas trazidas pelo El Niño desde o ano passado atrapalharam a florada da primavera e podem diminuir o volume de mel deste ano, já que os insetos ficaram sem alimento.

Larissa Bueno Ambrosini reforça que a pesquisa foi realizada com o intuito de ajudar nas decisões do segmento fornecendo dados científicos. Para o futuro, ela vê como pautas prováveis as revisões na legislação sanitária quanto ao comércio do mel proveniente de meliponas. “A legislação sanitária do mel foi desenhada para o mel de apicultura. Como o mel de meliponas é mais aquoso do que o de apicultura, ele pode estragar mais rápido”, explica, observando que tal diferença poderia motivar mudanças nas regulações.

Dos produtores, ainda, os pesquisadores ouviram que maior acesso à assistência técnica, incremento e melhoria nos canais de comercialização dos produtos e a criação de um programa de pagamento por serviços ambientais para os meliponicultores seriam ações que ajudariam a estimular a criação de abelhas nativas e incrementar os resultados no Estado.

A pesquisadora complementa que a meliponicultura, ainda em desenvolvimento já vem sendo afetado por questões externas.

O perfil

  • 70% dos estabelecimentos que têm melipolinicultura no Rio Grande do Sul estão na região Noroeste
  • 60% dos agricultores que estão na atividade possuem propriedades de até 10,99 hectares
  • 93,7% das famílias não contratam mão de obra para manutenção das caixas ou coleta de mel
  • 55% dos produtores dizem reconhecer as possibilidades financeiras que a criação de abelhas nativas podem trazer ao empreendimento
  • Na pesquisa da Seapi, que também considerou dados da Emater RS-Ascar e do IBGE, 111 produtores foram entrevistados
  • 70,2% dos produtores identificaram-se como meliponicultores amadores
  • 24,32% dos interessados em trabalhar com as abelhas nativas são aposentados
  • Pelo menos um quarto dos entrevistados pratica a meliponicultura há mais de 20 anos (25,22%), 29,7% estão no ramo entre três e seis anos e 12,6% entraram na atividade há menos de dois anos.
  • Segundo a pesquisa, as abelhas nativas predominantes são das espécies jataí (95,5%.), tubuna (40,5%) e mirim droryana, (36,9%).

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