Com o aumento nas notificações de suspeita de contaminação por metanol — substância inodora, sem sabor e letal em bebidas alcoólicas adulteradas —, o Brasil volta seus olhos para a ciência. O Ministério da Saúde confirmou que já são 127 casos de intoxicação no País. A detecção dessa adulteração só é possível via laboratorial. Confira abaixo alguns exemplos:
Paraná
Uma das iniciativas mais imediatas partiu do Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que abriu suas portas para a população. O laboratório está realizando exames gratuitos em bebidas alcoólicas mediante agendamento.
O professor Kahlil Salome explica que o processo é semelhante a exames de saúde: "Colocamos o líquido em um tubo. A análise é muito rápida. A gente consegue analisar uma amostra a cada cinco minutos."
Basta apenas 0,5 mililitro da bebida. A detecção é feita por meio de um gráfico gerado pelo equipamento, onde uma linha específica indica a presença de metanol, mesmo em bebidas com corantes ou frutas.
O exame consegue apontar a quantidade que é inadequada para o consumo humano, como 10 microlitros de metanol em 100 ml de cachaça, vodca ou tequila.
São Paulo
Outro avanço importante veio da Universidade Estadual Paulista (Unesp), especificamente do Instituto de Química de Araraquara. Em 2022, pesquisadores desenvolveram um método patenteado (registrado no INPI) capaz de identificar adulterações em destilados em cerca de 15 minutos.
O método funciona por meio de reações químicas: os pesquisadores adicionam um tipo de sal ao líquido. Se houver metanol, a amostra se transforma em formol. Na sequência, um ácido gera mudanças na coloração da solução. Esse processo de mudança de cor é o que denuncia a presença da substância tóxica, garantindo um resultado rápido e eficaz.
Brasília
Um projeto nascido na Universidade de Brasília (UnB) em 2013, durante o mestrado do químico Arilson Onésio Ferreira, transformou-se em uma empresa de sucesso (Macofren). Inicialmente focado no combate a fraudes por metanol em combustíveis, o projeto se expandiu para oferecer kits de detecção a empresas privadas e instituições governamentais.
O químico chama a atenção para a letalidade do metanol, lembrando que a partir de 30 ml a substância pode levar uma pessoa à morte. Ele explica que a detecção do metanol na bebida é complexa devido à diversidade de formulações (com corantes e açúcares), o que exige testes que jamais podem gerar um falso negativo.
Segundo Ferreira, o kit de teste custa R$ 50, e o reagente para cada exame fica em torno de R$ 25. Desde o início da crise de intoxicação, a empresa está com alta demanda, com cerca de 200 empresas em fila de espera, incluindo produtores de eventos como casamentos.