Entre desistir e tentar: a luta para respirar
Drana de Gabriela motiva o desenvolvinmento de novas soluções para casos complexos
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De volta ao hospital que lhe salvou a vida, Gabriela Aline Tavares, de 31 anos, se viu cercada por residentes e alunos do Serviço de Pneumologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Todos queriam conhecer a história da jovem que contrariou muitos prognósticos pessimistas para permanecer viva. “Eu dei trabalho”, disse ela, com um pequeno sorriso.
Gabriela iniciou a jornada no Clínicas em março de 2019, depois de passar por médicos e centros especializados em três municípios. Tinha tanta dificuldade para respirar que, ao tentar escovar os dentes, quase perdeu as forças. Depois de meses com uma tosse seca, perdendo peso e cuspindo sangue, ela finalmente havia sido diagnosticada com tuberculose.
Mas a demora para o diagnóstico permitiu que a doença deixasse cicatrizes, que prejudicavam a passagem de ar pelos brônquios. A doença levou ao fechamento quase completo da comunicação da traquéia com os pulmões. O procedimento para retomar o calibre inicial, chamado de broncoscopia, foi realizado por 52 vezes e com risco aumentado, já que Gabriela também tem asma grave.
"Não lembro de nenhum caso assim”, relatou o professor do Serviço de Pneumologia, Hugo Oliveira. Ele foi o responsável pela colocação de um stent, desenvolvido no HCPA, como uma das tentativas de manter os brônquios com largura suficiente para que Gabriela pudesse respirar. Mas o dispositivo acabou se deslocando e precisou ser retirado.
Em 12 de junho de 2023, após uma infecção pulmonar por vírus respiratório sincicial, Gabriela precisou internar na UTI, teve sepse - uma infecção generalizada e grave -, e passou por uma traqueostomia. Em mais de uma oportunidade, a equipe de Cuidados Paliativos foi chamada para discutir se ainda havia o que fazer. Permaneceu viva, também, graças aos cuidados da equipe da UTI do HCPA.
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Surge uma solução
Havia uma solução, mas ela não era simples: implantar um stent, desenhado sob medida pelo professor, que se molda a via aérea e evita que ela se feche novamente. Por ser bioabsorvível, a peça evitaria a rejeição. Um dispositivo semelhante só havia sido colocado uma vez na América do Sul, também pela equipe do professor Hugo, em um paciente transplantado.
A peça é fabricada sob medida por uma empresa na República Tcheca. Para importá-la foi preciso vencer barreiras junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Receita Federal. "A gente tem que se preparar, para ter convicção do tratamento que está propondo”, afirmou o professor para os alunos e residentes que acompanhavam o relato, a essa altura, já com lágrimas.
O implante foi feito em 23 de fevereiro de 2024 e no dia 10 de abril Gabriela foi para casa. Ela faz revisões semestrais e hoje respira sem dificuldade. "Eu tive azar de ser tuberculose, mas sorte de ter o professor Hugo”, comemorou ela. “Esses sucessos são importantes para a gente continuar lutando em situações difíceis”, retribuiu o professor.