Covid-19 exige atenção especial aos garimpeiros do Norte do Estado

Covid-19 exige atenção especial aos garimpeiros do Norte do Estado

Ametista do Sul possui 140 locais de garimpo e concentra 60 por cento dos 1,4 mil garimpeiros

Agostinho Piovesan

Máscaras de proteção são distribuídas aos garimpeiros.

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A partir do surgimento do novo coronavírus, aumentou a preocupação com a saúde dos garimpeiros, trabalhadores que durante sua atividade ficam expostos ao pó do basalto no interior das furnas subterrâneas em oito municípios da microrregião do Médio Uruguai, no Norte do Estado.

Além disso, a região possui 274 pessoas acometidas de silicose, doença causada pela inalação de finas partículas de sílica cristalina e caracterizada por inflamação e cicatrização em forma de lesões nodulares nos lóbulos superiores do pulmão. Neste caso, a Associação de Portadores de Doenças do Garimpo (Amparo), com sede em Ametista do Sul, garante acompanhamento direto às pessoas, a maioria obrigada a parar de trabalhar em razão da saúde debilitada.

Ametista do Sul possui 140 locais de garimpo e concentra 60 por cento dos 1,4 mil garimpeiros. Outros 70 pontos de extração estão localizados em Planalto, Frederico Westphalen, Cristal do Sul, Rodeio Bonito, Irai, Trindade do Sul e Gramados Loureiro.

O presidente da Amparo, Alcione Arruda, disse que, a partir do surgimento do Covid-19, aumentou a preocupação com essas pessoas que possuem os pulmões afeados pela sílica. “Já vínhamos desenvolvendo uma ação forte em prol desse grupo, mas agora está sendo feito um trabalho mais intenso, inclusive com distribuição de máscaras e outras orientações, tudo para que ninguém seja afetado pelo vírus, o que seria muito perigoso”, disse.

Arruda afirma que a pessoa afetada pela silicose tem limitada a sua capacidade respiratória. “E agora, com o surgimento do Covid-19, todos ficam ainda mais inseguros e se mantem em casa, com proteção máxima”, observa. Ele afirma, ainda, que as demais pessoas que atuam em garimpos da região também recebem orientação da Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai (Coogamai), e mesmo que trabalhem de forma individual, devem se proteger da melhor forma. “Eles também são afetados pelo pó de basalto, nesta que é uma atividade insalubre realizada no interior de furnas subterrâneas, onde são localizadas as pedras preciosas, após a remoção do basalto”, afirma.

O presidente da Amparo informou, ainda, que há várias semanas máscaras estão sendo distribuídas aos portadores de silicose atendidos pela entidade. Também é realizado um trabalho de acompanhamento por uma psicóloga. Arruda lembra que a Prefeitura de Ametista do Sul disponibilizou um automóvel para a associação realizar seu trabalho. “Além disso, o prefeito Gilmar da Silva confirmou que, a partir do próximo mês, o município vai repassar R$ 1 mil mensais para a associação cobrir despesas com seu trabalho”, informou Alcione Arruda, que também foi afetado pela silicose. A associação desenvolve, ainda, um projeto denominado de Vida e Saúde para os Garimpeiros, o qual é apoiado financeiramente pelo Sicredi Alto Uruguai.

Cuidados 

A direção da Coogamai informou que os garimpos mantêm atividade normal, mas com todos os cuidados de proteção individual, em razão de se constituir numa atividade insalubre. O engenheiro de minas da cooperativa, Anderson Oliveira, lembra que os garimpeiros trabalham de forma individual nos locais de extração. “Além da proteção normal por uma atividade que exige muitos cuidados em si, com o surgimento do Covid-19 a atenção com a saúde redobrou por parte da Coogamai, dos municípios e da própria Associação de Portadores de Doenças do Garimpo.

Oliveira cita, ainda, que a partir do início do coronavírus no mundo, os compradores de pedras de várias partes do mundo, especialmente da China e da Ásia, não chegaram mais na região para comprar as pedras. “Mais de 80 por cento da economia de Ametista do Sul depende da atividade garimpeira – pedras ametistas (90%), gipsitas, calcitas, quartzo e citrinos – e todos esperam que aos poucos a situação volte ao normal, a partir da contenção do vírus”, afirma.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895