Arte & Agenda

De Lanthimos a Ari Áster, a diversidade da Mostra 2025

Ao percorrer sessões entre 16 e 31 de outubro, o espectador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo se depara com fractais narrativos

49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ocorre até 31 de outubro
49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ocorre até 31 de outubro Foto : Mario Miranda Filho / Agência Foto / Divulgação / CP

No pulsar da 49.ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em cartaz de 16 a 31 de outubro, surge um panorama variável e inquietante da produção cinematográfica contemporânea. Aqui destacam-se dois títulos de peso que, em sua diferença radical, simbolizam a rica diversidade da Mostra. Primeiro, o provocador e aguardado longa-metragem do grego Yorgos Lanthimos, “Bugonia” (2025), mistura de estilos com comédia ácida, ficção-científica e um toque provocador de crítica social. Depois, o explosivo quase-western satírico norte-americano “Eddington” (2025), de Ari Aster, com Joaquin Phoenix e Pedro Pascal, que escancara paranoias do presente.
Lanthimos retorna à forma mais radical: em “Bugonia”, com carga surreal e estilo de laboratório emocional, ele articula uma fábula sobre seres humanos presos ao desejo de terem controle, ou à falência desse controle. Na trama, dois primos assumem perfil conspiracionistas e sequestram a CEO de uma grande corporação, convencidos de que ela é uma alienígena que planeja destruir a Terra. Só se sabe no final do filme se isso é verdade ou não. Diálogos intensos, clima psicológico que revela personalidades conturbadas e se estabelece em uma agilidade narrativa. Temas contemporâneos e preocupações universais. A obra representa aquela fatia da Mostra voltada para o instigante, o experimental, o cinema que não busca agradar, mas provocar.
Já “Eddington” opera numa gama totalmente distinta, e é precisamente aí que reside a força da diversidade desta edição da Mostra de São Paulo . Na América profunda, em pleno 2020, um confronto visceral entre xerife (Phoenix) e prefeito (Pascal) numa cidadezinha do Novo México serve de lente para a paranoia, o populismo, o embate ideológico, a pandemia e os mitos contemporâneos. Aster, conhecido por seus filmes de horror elevado, aqui abraça o western híbrido: crítico, mordaz, politizado. E ainda que as recepções sejam mistas, “divisivo”, “autointitulado”, dizem alguns, o filme tem uma brutal clareza de proposição: refletir o tenso agora, o colapso do simbólico, a mídia, e a armação cultural. Tem COVID, sem ser sobre pandemia. Tem tiroteio sem ser western. Tem redes sócias, sem ser drama tecnológico contemporâneo. Inteligente, expõe, provoca e não dá todas as respostas.
O que essas duas obras têm em comum, apesar de tudo, além de Emma Stone, é uma vontade de desconfortar, de questionar. Mas também o que as distingue, forma, tom, alvo, cenário, desenha o porquê de inegável importância de uma Mostra que não se limita à “boa programação” ou ao filme de festival laureado. Entre os centenas de filmes da Mostra, cabe tanto o cinema de autor “difícil” quanto o comentário social com ambição de público; cabe o estranho que incomoda e o “mainstream” que provoca. E é essa amplitude que torna palpável a identidade desta edição.
Assim, ao percorrer sessões entre 16 e 31 de outubro, o espectador se depara com fractais narrativos como os de “Bugonia”, filmes que interrogam o humano em estado puro, e com peças crônicas da época como “Eddington”, que transformam a tela num espelho insuportável. A diversidade não está apenas nos gêneros ou nas origens geográficas (Europa vs. EUA), mas nos modos de ver o mundo, e isso, talvez, seja o grande triunfo desta Mostra: mostrar que o cinema internacional não é feito para confortar, é feito para mobilizar, debater, ferir e, quem sabe, transformar.

Veja Também

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta sexta-feira, dia 14 de novembro de 2025

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio