Feira do Livro

Debate sobre diversidade marca o 8º Encontro de Influenciadores Literários e Leitores na Feira do Livro de Porto Alegre

Evento contou com a participação de Aione Simões, Bianca Jung, Clara Alves, Mayra Sigwalt e Tiago Valente

Convidados falaram sobre o mercado editorial, representatividade e os desafios de escrever a partir das próprias vivências
Convidados falaram sobre o mercado editorial, representatividade e os desafios de escrever a partir das próprias vivências Foto : Pedro Piegas

O 8º Encontro de Influenciadores Literários e Leitores, realizado no domingo, dia 2, Teatro Petrobras Carlos Urbim da 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, reuniu autores, criadores de conteúdo e leitores para uma conversa descontraída e divertida sobre o mercado editorial, representatividade e os desafios de escrever a partir das próprias vivências. A mesa, marcada pela troca de experiências e pelo tom de acolhimento, contou com a participação de Aione Simões, Bianca Jung, Clara Alves, Mayra Sigwalt e Tiago Valente.

Como já é prática no evento, que pela primeira vez ocupa um auditório da Feira do Livro de Porto Alegre, o começo foi marcado por dinâmicas e brincadeiras com o público que ao participar garantiam kits de livros. O encontro é organizado e mediado por Tamirez Santos (@resenhandosonhos) e Joi Cardoso (@estantediagonal) e contou com a presença de mais de 30 influenciadores gaúchos. O público lotou o espaço e esgotou as senhas para a entrada.

Logo no início da conversa, os convidados destacaram o caráter único da Feira. “Do meu conhecimento, nenhum outro lugar do Brasil tem um evento desse, aberto, gratuito e imenso. E que seja de livreiros e editoras locais. Isso é fantástico”, comentou Aione.

Identidade, criação e pertencimento

Para alguns dos autores, o retorno à feira teve um significado pessoal. “Para mim é como voltar para casa, porque ninguém sabe, mas eu sou de São Leopoldo, aqui do ladinho. Vim várias vezes quando era criança, essa feira é muito tradicional, faz parte da nossa vida”, contou a escritora Bianca Jung, autora de “O Veneno na Montanha” e “O Chamado do Abismo”.

Clara Alves, autora de “Conectadas” e Cupidos Não Se Apaixonam”, reforçou a importância de se ver representada nas histórias que lê e escreve: “Quando comecei a escrever livros LGBT, foi pela falta que senti por muito tempo de não me encontrar nas histórias. Escrever foi a minha forma de lidar com essas inseguranças.”

Já o escritor e criador de conteúdo Tiago Valente, autor de “Expresso Fantasma”, falou sobre o processo de autoconhecimento que a escrita pode trazer. “Eu vi no meu livro expostas todas as minhas inseguranças da época em que eu estava escrevendo. Mesmo num ambiente acolhedor, ser uma pessoa LGBT no mundo reverbera para outras inseguranças”, afirmou.

A autora e criadora Mayra Sigwalt, que também integra o debate sobre representatividade indígena e LGBT, provocou o público: “Quem aqui leu um livro de autor indígena esse ano? Levanta a mão. [...] Se a gente não é publicado, como é que vai ser lido? É exaustivo falar para o vazio, mas é por isso que a gente precisa de ajuda, porque senão a gente cansa.”

8º Encontro de Influenciadores Literários e Leitores encheu o Teatro Petrobras Carlos Urbim | Foto: Pedro Piegas

Representatividade em pauta

O debate também abordou a recente matéria em que uma agente literária falou sobre a “volta dos romances hétero”. O tema polêmico gerou reações no grupo. “A declaração é basicamente a volta dos que não foram”, afirmou Aione. “A gente sempre teve publicações de homens cis, hétero. Talvez nos últimos anos a gente tenha conseguido uma brecha para outras vozes e agora parece que isso está diminuindo.”, completou.

Bianca Jung destacou a importância de autores brancos reconhecerem seus lugares de fala ao escrever personagens racializados. “Eu escrevo fantasia e minha protagonista é negra. Trabalhei com profissionais negros para entender como traria essa personagem. Ainda assim, não é eu que vou ocupar esses espaços. A gente precisa de mais autores negros escrevendo fantasia com protagonistas negros.”

Para Tiago Valente, o impacto da discussão foi ambíguo, mas necessário. “O lado bom dessa matéria é que ela escancarou algo que já vinha acontecendo. [...] E me fez retomar a vontade de falar sobre diversidade na literatura. Às vezes a gente acha que já conquistou o espaço, mas precisa reconquistar tudo de novo.”

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A escrita como reflexo

Os autores refletiram ainda sobre como suas experiências pessoais atravessam suas obras. “Tudo o que a gente coloca no papel tem um pouco de nós”, disse Aione, autora de comédias românticas publicadas pela editora Harlequin. “Não tem como se dissociar. É um ato de vulnerabilidade se abrir, mas quanto mais a gente se coloca ali, mais capaz se torna de se conectar com alguém.”

Clara Alves completou: “A literatura sempre foi o meu refúgio. Hoje, escrever é também uma conversa com os leitores. Quando alguém me diz que se sentiu acolhido com o meu livro, eu penso: ‘que bom, era isso que eu queria’.”

Ao final, a mesa reforçou a importância do engajamento coletivo. “A gente é uma comunidade, a gente se carrega”, disse Mayra. “Se a gente não é lido, aí sim que a gente não vai ser publicado. É um esforço conjunto de pensar no que estamos lendo e divulgando.”