No Brasil, mais de 11 milhões de mulheres criam seus filhos sem a presença do outro genitor, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre desafios sociais e econômicos, como a falta de rede de apoio e jornadas duplas de trabalho, muitas dessas mães encontram nos call centers e empresas de telesserviços uma porta de entrada para o mercado de trabalho — e, muitas vezes, um espaço de acolhimento e recomeço.
De acordo com a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), mais de 70% dos profissionais do setor são mulheres. Para Gustavo Faria, diretor executivo da ABT, o compromisso com a empregabilidade feminina e com a diversidade social é parte essencial do ecossistema.
“Nosso setor tem sido um verdadeiro motor de transformação na vida de milhares de mulheres. Ao oferecer oportunidades com flexibilidade, programas de apoio e possibilidades reais de crescimento, conseguimos não apenas empregar, mas acolher e impulsionar mães solo em suas jornadas. Essa sensibilidade é parte do nosso DNA”, comenta.
A trajetória de Fabiane de Farias, 36 anos, ilustra o impacto desse modelo de trabalho. Analista de Recursos Humanos na Callink e mãe solo de quatro filhos — um casal de gêmeos de 19 anos, uma menina de 12 e a caçula, de 4 —, ela iniciou sua carreira na empresa há 17 anos, quando os gêmeos tinham apenas dois
“Quando decidi entrar no mercado de trabalho, o que me atraiu na empresa foi a jornada reduzida e o auxílio-creche. Eu precisava estar presente na vida das crianças, e o setor permitia isso. Comecei como operadora de atendimento, trabalhando seis horas por dia, o que me permitia levar e buscar meus filhos na escola e ainda ter tempo com eles”, relembra.
Foram cinco anos conciliando a maternidade e o trabalho até decidir investir na própria formação: ingressou na faculdade de Recursos Humanos e conquistou uma vaga no setor da empresa.
“Eu estudava à noite e trabalhava durante o dia. Foi puxado, mas possível”, afirma.
Recomeço e acolhimento no setor
A jornada de Gleizy Del Carmen, 29 anos, também é marcada por coragem e recomeço. Gleizy Del Carmen, de 29 anos, é analista bilíngue na Foundever. Refugiada da Venezuela, ela chegou ao Brasil há quatro anos, sozinha e com a filha mais nova de poucos meses de vida nos braços.
A decisão de deixar o país de origem foi motivada pela crise econômica e pela busca de melhores condições para criar as filhas. Sem conhecer ninguém além de um irmão que vivia no país, enfrentou uma nova cultura, um idioma diferente e a solidão de ser mãe solo em um lugar completamente novo.
“Foi muito difícil no começo. Estava sozinha, com uma criança pequena, em um país novo. Mas o setor me acolheu. A empresa me ajudou com documentação, regularização e orientação para trazer minha filha mais velha e começar uma nova vida aqui.” Segundo a ABT, mais de 3% das pessoas refugiadas que vivem hoje no país estão empregadas no setor.
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Atualmente morando em São Paulo com as duas filhas, de 4 e 12 anos, Gleizy integra o projeto “Olha Elas”, iniciativa da Foundever voltada exclusivamente para mães solo. O programa promove encontros sobre temas essenciais da maternidade, como saúde mental, educação financeira, direitos sociais e gestão da rotina.
“Participei de uma reunião sobre finanças e aprendi a me organizar melhor, controlar os gastos da casa, cuidar do futuro das minhas filhas. São coisas que, para quem está sozinha, fazem muita diferença. Às vezes, pequenas informações mudam tudo. Quando você tem acesso ao conhecimento, consegue respirar um pouco mais aliviada,” explica.
A área de assistência social da empresa também foi fundamental em sua adaptação. Por meio dela, Gleizy recebeu orientação jurídica, suporte na matrícula escolar das filhas e informações sobre políticas públicas.
“Mesmo longe do meu país, aqui me sinto em casa. As colegas de trabalho se tornaram família. O setor me abraçou quando eu mais precisei”, enfatiza.
