A maturidade chega, a coragem sai

A maturidade chega, a coragem sai

Adriana Haas desvenda caminhos para exercitar e fortalecer a coragem durante a maturidade

Adriana Haas

A coragem vai crescendo enquanto se caminha

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De onde tirar a coragem necessária para (re)começar? É a pergunta que sempre recebo quando falo sobre criar projetos de vida na maturidade. E é uma dúvida compreensível, pois parece que na medida em que o tempo passa, nossa coragem vai minguando. Nem sinal daquela impetuosidade da juventude, que podia levar a resultados indesejados mas, pelo menos, nos tirava do lugar.

Só que muita coisa aconteceu nestes anos que nos separam daquela jovem ousada. Conquistamos vitórias, fracassamos, passamos por traumas, tivemos relacionamentos de todos os tipos e durações, formamos famílias. Construímos estruturas, externas e internas, que parecem sólidas demais para serem modificadas a essa altura do campeonato – mesmo quando sentimos que é preciso.

Mas a maturidade chega abalando essas estruturas. Ela pode ser tão avassaladora que mesmo características da nossa própria identidade são colocadas na berlinda. Deixamos de reconhecer partes nossas que sempre foram a base do que acreditávamos ser. Muitas mulheres chegam a duvidar da própria sanidade mental por não se reconhecerem mais.

E é nesse momento, quando parece que caminhamos sobre gelo fino, que a vida vem nos pedir coragem. Mas justo agora, quando já fiz tanta coisa e estou exausta? Quando minhas emoções parecem me desafiar? Quando ainda tenho tanto para dar conta? Eu vou é ficar bem quietinha e esperar esse turbilhão passar. É o que a maioria escolhe, por falta de coragem. Foi o que a pesquisadora e escritora Brené Brown escolheu quando, segundo ela, chegou na maturidade com o universo sacudindo-a pelos ombros e perguntando: “e agora, vai fazer o quê?”.

No entanto, assim como para a Brené, a transição da maturidade não “passa” enquanto você não encontra a coragem para fazer o que precisa ser feito. E o que precisa ser feito, afinal? É uma resposta individual e, para muitas, desconhecida.

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Mas ao longo de nove anos de pesquisa, eu descobri um caminho que funciona sem causar grandes desassossegos: movimentar-se suavemente na direção que lhe instiga, dando pequenos passos – mesmo que ainda não tenha certeza sobre onde deseja chegar.

Projetos de vida não precisam começar com objetivos grandes ou bem definidos. Pelo contrário: quando são pequenos, não exigem tanto esforço (e coragem) para serem colocados em prática. É muito mais fácil começar e o objetivo vai se delineando no caminho.

E enquanto estamos andando, uma coisa mágica acontece: a coragem vai crescendo. Ela é como um músculo, que se fortalece quando exercitado. Aumenta a cada movimento e faz com que pequenos projetos ganhem corpo, ressuscitando uma autoconfiança que já considerávamos perdida. A maturidade é a melhor fase para voltar a caminhar com ela.


Adriana Haas é jornalista, escritora e tradutora da maturidade. Tem dois livros e uma newsletter semanal sobre o assunto, e adora reunir mulheres para conversar sobre ele – porque acredita que, juntas, as maduras são revolucionárias.


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