Mulheres são as que mais sofrem com o envelhecimento
Adriana Haas conta como pressão estética e “lógica do cuidado” podem abalar a sensação de plenitude na maturidade
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Na semana passada, escrevi sobre a Teoria U da Felicidade, pesquisa que demonstrou que, mesmo em diferentes culturas, somos mais infelizes quando chegamos na metade da vida, atingindo o pico da infelicidade entre os 47 e os 48 anos. Ainda que seja revelador, o levantamento não tem recorte de gênero, o que nos impede de ver uma camada mais profunda: a que mostra que a chegada da maturidade é mais difícil para as mulheres.
Existem dois motivos para isso. O primeiro é a cobrança estética que sofremos durante toda a vida e que aumenta com a passagem do tempo. Quando a gente começa a aparentar os sinais do envelhecimento, além de todas aquelas cobranças de sempre, ainda precisamos parecer mais jovens (ou seremos chamadas de “desleixadas”, enquanto homens na mesma situação são definidos como “charmosos”). Ah, mas não pode exagerar nos procedimentos estéticos para não ser chamada de “velha ridícula”. Sempre há um padrão ao qual devemos nos ajustar.
O segundo fator é que somos programadas desde pequenas para cuidar: do marido, dos filhos, da casa, dos pais etc. Isso torna extenuante a vida das mulheres, fazendo com que cheguem na maturidade exaustas. É ainda pior para as que se encontram na “geração sanduíche”, cuidando ao mesmo tempo de filhos pequenos e de pais adoecidos – além de dar conta de todo o resto. Difícil manter a peteca no ar.
Mas essa “lógica do cuidado” vai além do cansaço. Por causa dela, a maioria das mulheres acaba abrindo mão de desejos ou projetos pessoais e deixando a si mesmas em segundo plano. Então, quando chegam na maturidade percebendo que não têm mais toda a vida pela frente, vem o questionamento: “onde é que eu fiquei para trás?”. E lá vão elas, escorregar para o fundo do U da felicidade…
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Esses dois fatores são culturais, mas estão presentes em muitos países além do Brasil. Em outubro, participei de uma imersão na Modern Elder Academy, a primeira escola de preparação para o envelhecimento do mundo, nos Estados Unidos. Lá, a cultura é diferente, mas no dia em que falei sobre isso durante um café da manhã, vi as caras de perplexidade das outras participantes dizendo que vivem os mesmos dilemas.
Então elas me perguntaram o que dava pra fazer a respeito agora, aos 40, 50, 60 anos. Na minha opinião, a primeira coisa a fazer é ter consciência e se preparar para a atribulada fase da maturidade: buscar informações, distribuir responsabilidades, equilibrar as finanças para que o dinheiro não seja um fardo, formar uma rede de amizade e apoio entre mulheres, selecionar as batalhas que valem ser enfrentadas, reservar tempo para si, buscar apoio profissional quando necessário, entre outras que variam de acordo com as individualidades. Como escutei de uma professora, “criar estrutura” para aguentar o tranco.
A segunda providência é investir em projetos de vida: resgatar os que ficaram para trás, criar novos, começar pelos pequenos e ir ganhando coragem para os maiores. O que eu acho mais legal sobre criar projetos de vida na maturidade é que a gente não precisa mais agradar os outros – e ele pode, enfim, ser autoral. Já sabemos o que não serve para nós e isso é um ótimo ponto de partida para buscarmos o que serve. Encontrando leveza e prazer pelo caminho – porque esse processo é o que chamamos de vida.
Adriana Haas é jornalista, escritora e tradutora da maturidade. Tem dois livros e uma newsletter semanal sobre o assunto, e adora reunir mulheres para conversar sobre ele – porque acredita que, juntas, as maduras são revolucionárias.