Foi em uma newsletter sobre maturidade que li a carta de Elizabeth, uma mulher de 60 anos que, pela primeira vez, está apaixonada. Quero dizer, ela já se apaixonou antes, viveu outros relacionamentos, mas garante que essa é sua estreia em “um verdadeiro lugar de amor” – justamente em uma fase da vida na qual esperava já ter pendurado as chuteiras afetivas.
Seu testemunho comprova uma teoria sobre a qual escrevo há muito tempo, com base em experiências observadas e vividas: a de que a maturidade é a melhor fase para amar.
Quando somos mais jovens, a preocupação central nas relações é o outro. Fomos socializadas para o cuidado de terceiros, enquanto os meninos foram educados para a autonomia (um dos motivos pelos quais achamos que eles são de Marte). Além disso, fomos treinadas para procurar nosso valor nos olhares alheios, nos elogios que nos esforçamos tanto para conquistar, principalmente em relação à nossa aparência.
Um dos problemas dessa dinâmica é que apenas o outro é considerado como um participante digno de atenção no relacionamento. Você acaba se contentando com migalhas – não apenas as que lhe são oferecidas pelo parceiro (no caso de relacionamentos desequilibrados), mas pelas que concede a si mesma. A energia que sobra, o tempo que sobra, a atenção que sobra. O amor que, na maioria das vezes, nem sobra.
Acrescente a isso o fato de que nossa sociedade só considera “bem-sucedidas” as mulheres que têm um homem ao lado. Isso faz com que muitas de nós entrem em relações das quais fugiríamos se não fôssemos condicionadas a enxergar como fracassadas as mulheres sozinhas – especialmente à medida que os anos passam.
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Foi nesse contexto que Elizabeth viveu seus primeiros relacionamentos. Só que, a partir da segunda metade da vida, ela decidiu investir mais tempo em si em vez de procurar desesperadamente por companhia. E conta que, a partir desse convívio mais íntimo consigo, experimentou a sensação de “ser uma muda rompendo a terra compactada, transformando-se em uma flor saudável e desabrochando”.
Entendeu-se melhor com seus desejos, necessidades e contradições e começou a olhar para si com mais admiração. E, a partir desse novo lugar, atraiu um parceiro que percebia nela o mesmo valor.
Ela garante que apaixonar-se aos 60 é ainda melhor que aos 16 – porque, embora sejam diferentes, o amor próprio e o amor saudável a dois compartilham da mesma mesma raiz, e um fortalece o outro. O corpo da maturidade não tem mais o tônus do da juventude, mas torna-se ainda mais palpitante quando quem o habita sente-se à vontade ali.
Elizabeth finaliza sua carta aconselhando as mulheres maduras a não permitirem que a realidade percebida até agora mantenha seus olhos focados para baixo, onde há apenas um caminho aparente. E eu acrescento: se você levantar a cabeça e olhar para os lados, descobrirá que há outras realidades possíveis – e muitas mais aos 60 que aos 16. Na maturidade, o amor pode deixar de ser busca para se tornar encontro. Primeiro consigo, depois com o outro.
Adriana Haas é jornalista e escritora. Especialista em Neurociência e em Psicologia Positiva, está concluindo a pós-graduação em Cuidado Integral de Mulheres Maduras. Pesquisa sobre a maturidade feminina há dez anos e tem dois livros sobre o tema.