Empreendedorismo feminino: o que está por trás desse movimento?

Empreendedorismo feminino: o que está por trás desse movimento?

Lu Brito reflete sobre a romantização envolvendo o empreendedorismo feminino

Lu Brito

Brasil tem mais de 32 milhões de mulheres empreendedoras

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Olá, leitora

Minha proposta aqui é, de forma genuína, ser didática e simplificar alguns temas e movimentos que são feitos no ecossistema como um todo, tanto no ambiente corporativo quanto na parte de inovação. Primeiro, precisamos entender que empreendedorismo não é sobre ter liberdade. É sobre ter autonomia em ajustar a sua agenda. Muitas pessoas confundem e buscam no empreendedorismo, principalmente as mulheres, essa flexibilidade em gerenciar a própria agenda, por vezes sua dupla ou tripla jornada entre casa, trabalho, vida pessoal e vários outros pratos que equilibram.

Para começar o papo, é válido trazer o contexto e alguns recortes do tema. Somos mais de 32 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil representadas da seguinte forma: 51% são brancas, 47% são negras, 2% são amarelas ou indígenas. O que nos faz pensar que, sim, somos potência e estamos à frente da gestão do nosso negócio, mas por que embarcamos nessa jornada, por vezes escassa e cansativa, que é o empreendedorismo? Para nos encaixar? Por ter um valor de investimento herdado ou guardado e não saber onde aplicar?

Os motivos são muitos, mas na grande maioria tem dois pilares que servem como combustível: a vontade de apenas ser mãe e trabalhar fora. De acordo com um estudo realizado pelo portal Empregos.com.br, que ouviu 273 mães entre 18 e 45 anos, mais da metade das mulheres (56,4%) já foi demitida ou conhece outra mulher que foi desligada após voltar da licença-maternidade.

Passamos por constrangimentos diversos no ambiente de trabalho. Por vezes, a profissional é excelente até o momento de ficar grávida. Eu, Lu Brito, sou retrato dessa realidade. Não consigo lembrar quantas vezes pedi demissão das empresas onde atuei por não conseguir conciliar meus dois principais papéis. Sou mãe da Fernanda, hoje com 21 anos e universitária, e da Júlia, com 16 anos e estreante no Enem neste ano. Mas em 2015 eu era mãe de duas crianças, na época com 12 e 7 anos de idade, então, pedi demissão por não ter rede de apoio e não ter alguém para buscar e levar as meninas na escola.

Procuro no empreendedorismo, mesmo que de forma muito amadora, sem dinheiro, sem entender nada sobre administração de empresas, uma forma de me encaixar. Mulheres donas de negócios correspondem a mais de R$73 bilhões na economia. Na luta cotidiana, por dias melhores, entendemos que é através do empreendedorismo que nos tornamos menos invisíveis.

Empreender é atitude, necessidade e sobrevivência. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino em 2014. A data é comemorada em 19 de novembro para homenagear as mulheres empreendedoras e mobilizar a comunidade global para reivindicar apoio a elas.

A mensagem que fica? Não romantizar o empreendedorismo. Ele dói, tira o sono, tem gatilhos e aumenta nossa ansiedade. Às vezes não temos previsibilidade. Tiramos férias, sim, mas nas horas vagas também olhamos e-mails e mensagens. Mas, com tudo isso, ele faz valer a pena. Eu me considero uma empreendedora de sucesso, porque criar meu próprio negócio me ajudou no momento que eu mais precisei. Hoje ainda carrego as sacolas cheias de brinquedos para os eventos sociais e uma equipe incrível que acredita no meu sonho.

O empreendedorismo feminino no século XXI representa não apenas a força e a resiliência das mulheres, mas também uma transformação profunda no cenário econômico e social. Apesar dos avanços, as empreendedoras ainda enfrentam obstáculos profundos que precisam ser envolvidos para criar um mercado mais justo e inclusivo. A realidade é que, mesmo com os progressos, as mulheres ainda têm menos acesso a capital de investimento, são frequentemente sub-representadas em setores de tecnologia e inovação e enfrentam preconceitos enraizados no mercado de trabalho. E por aí, em qual papel você se identifica hoje?


Lu Brito é mãe, empreendedora há mais de nove anos e CEO do espaço kids Gurizada Faceira. Atua como gestora de projetos e comunidade no ecossistema de inovação, gestora de projetos na B2Mamy e mentora de startups. Também é líder de inovação e articulação na Odabá - Associação de Afroempreendedores do RS.

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