O que é um hair spa de beleza limpa? Saiba tudo sobre o conceito que acaba de chegar a Porto Alegre

Recém-inaugurado, o Bioma Brisa aposta na personalização do cuidado capilar por meio de tratamentos e tecnologias naturais

A equipe do Bella Mais conheceu em primeira mão a experiência que une saúde capilar e responsabilidade ambiental
A equipe do Bella Mais conheceu em primeira mão a experiência que une saúde capilar e responsabilidade ambiental Foto : Giovanna Reis / Especial / CP

Quando foi a última vez que você pensou ativamente no que estava passando no seu cabelo? Não apenas considerar se o produto é bom ou ruim, se é trend ou não, mas se perguntar de onde vêm os ingredientes da composição, como foram produzidos e para onde vão depois que escorrem pelo ralo? Essas questões estão no centro de um movimento que cresce no mundo todo e agora desembarca em Porto Alegre: a beleza limpa.

Recém-chegado à capital gaúcha, o Bioma Brisa abriu suas portas no dia 30 de outubro e é o primeiro hair spa da cidade dedicado exclusivamente a tratamentos naturais e sustentáveis. O espaço, localizado no Bourbon Carlos Gomes, traz o DNA do Grupo Laces, que é referência nacional em clean beauty e já contribuiu para passarelas da São Paulo e Paris Fashion Week, além de ser voz ativa em conferências climáticas internacionais como a COP.

Por mais que o conceito esteja super em alta agora, para Cris Dios, fundadora do Grupo Laces, o movimento é herança de família. A história começa com seu avô, um barbeiro naturalista que veio da Espanha em 1920 trazendo fórmulas de produtos naturais e uma preocupação incomum para a época com a saúde do couro cabeludo.

Se cuidar dos cabelos de forma completa ainda é revolucionário hoje em dia, você pode imaginar como era o cenário há mais de 100 anos. O avô de Cris recebia pessoas com problemas capilares e de pele e cuidava com infusões de ervas, algo que hoje é conhecido como “skinification”. Desde o início, a missão do spa para cabelos pioneiro no país foi colocar a saúde em primeiro lugar, para que a beleza fosse uma consequência.

Mantendo viva a filosofia que atravessou gerações, Cris fundou o Laces and Hair em 1987, ao lado da mãe, Mercedes Dios. Na metodologia desenvolvida por elas, o cuidado deve ser integral. Partindo de um diagnóstico atento do couro cabeludo, avança para protocolos personalizados e alcança a formulação dos próprios produtos, desenvolvidos em fábrica certificada orgânica desde 2008 por IBD e Ecocert.

Com mais de 20 profissionais treinados e atentos para compreender o estado do fio para além da aparência, o Bioma Brisa segue a proposta do grupo e promove um ecossistema de beleza onde os “hair especialistas” entendem que o cabelo é resultado de um conjunto de hábitos, desde a alimentação aos produtos escolhidos para a rotina.

🌿 Mas o que é, afinal, beleza limpa?

Para Cris, o termo vai muito além de um selo no rótulo, mesmo que a estratégia tenha ganhado força no mercado. Neste caso, é um processo completo que passa pela escolha dos ingredientes para as fórmulas e vai até as diferentes técnicas aplicadas no salão. Com a fusão entre tecnologia e saberes ancestrais, o espaço aposta em uma experiência que combina o cuidado técnico com um momento de relaxamento.

O que começou com 12 itens, hoje soma quase 300, sempre guiados pela busca da planta que entrega o benefício ideal para as necessidades do couro. Quando o alecrim aparece na fórmula, por exemplo, não é só pelo aroma.

A especialista lembra que já existem pesquisas comprovando a eficácia do ativo no controle da oleosidade e no estímulo da circulação, e até mesmo comparando a ação da planta com o minoxidil para queda de cabelo. “Hoje temos números que comprovam o que a ancestralidade já sabia”, afirma.

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A partir daí, a transparência com o cliente e educação para o consumo se torna a peça-chave para o sistema. O grupo não usa derivados de animais, não realiza testes em animais, trabalha com alto índice de naturalidade e evita fragrâncias sintéticas e parabenos.

A ideia é simples: que cada pessoa saiba o que está colocando na pele e por quê. No entanto, Cris reconhece que ainda há um longo caminho de conscientização. Ela cita levantamentos de mercado que colocam a beleza limpa com 34% de participação global e tendência de crescimento de 54% entre 2028 e 2030.

Para além dos números, a idealizadora explica que, pessoalmente, o cuidado ultrapassa o uso de produtos e se consolida como uma filosofia de vida. Trata-se de reconhecer que o ser humano é composto pelos mesmos elementos que a natureza e que, por isso, o caminho do bem-estar passa pela reconexão com o que é natural.

A proposta é aproximar a experiência cotidiana dos ciclos da natureza, valorizar ingredientes de origem vegetal e resgatar aromas e texturas que preservam essa relação.

“Somos feitos da mesma coisa que as plantas”, ressalta. Essa afinidade biológica, segundo Dios, justifica por que o organismo tende a reagir melhor a compostos naturais. “As pessoas estão entendendo como os produtos podem intoxicar não só o corpo, mas também lençóis freáticos e solo. O que passa no banho vai para a água, chega ao mar, volta pelos peixes. É um ciclo.” Na síntese de Cris, “não existe ‘fora’”, pois o lixo que “vai para fora” continua no mesmo planeta.

Cris Dios, fundadora do Grupo Laces, apresenta sua metodologia de cuidado capilar a Porto Alegre com a inauguração da primeira franquia gaúcha, o Bioma Brisa | Foto: Giovanna Reis / Especial / CP

Por isso a mudança precisa acontecer o quanto antes, mas ela não precisa ser radical. Não é sobre acordar amanhã, jogar tudo que você tem no banheiro no lixo e recomeçar do zero (isso, inclusive, geraria ainda mais resíduo). A dica é apostar em uma transição consciente: “Vai aos poucos. O próximo shampoo, a próxima maquiagem, o próximo creme, o próximo sabonete.”

🌿 O desafio real: onde encontrar beleza limpa no mercado?

Por mais prática que possa parecer a solução no papel, produtos sustentáveis e naturais ainda enfrentam resistência do mercado de beleza convencional e o acesso persiste como o grande obstáculo. Se você já tentou comprar itens de beleza como maquiagem, skincare ou cuidados para cabelo mais naturais, conhece a dificuldade de encontrar marcas limpas em lojas tradicionais.

“É difícil porque o varejo não abre espaço. Marcas pequenas não têm o orçamento das grandes e ficam de fora dos estandes”, aponta Cris.

Ainda assim, o Laces virou referência, levou o tema ao centro das discussões de moda — da São Paulo à Paris Fashion Week — e expandiu o debate para fóruns ambientais como a COP 27, a COP 28 e a COP 16 da Biodiversidade, além de já estar confirmado na COP 30, em Belém.

O foco agora é o chamado varejo de regeneração. A proposta desloca o debate de “não causar dano” para “restaurar e criar impacto positivo”, fortalecendo cadeias produtivas que mantêm a floresta em pé e remuneram comunidades extrativistas.

Cris usa o exemplo do murumuru, ingrediente da biodiversidade amazônica presente em produtos do Laces. Por trás daquele óleo está uma comunidade inteira: pessoas que coletam os frutos de forma sustentável, formam cooperativas, comercializam a matéria-prima com preço justo.

Quando esse murumuru vira produto e chega ao Rio Grande do Sul com alto índice de naturalidade, preservando as propriedades da floresta, forma-se uma cadeia virtuosa de produção e consumo, fechando o ciclo de forma positiva.

“Não basta ser sustentável. Você tem que regenerar”, resume.

E o conceito se estende também para dentro dos salões. A diferença entre um espaço convencional e um de beleza limpa começa antes mesmo de você sentar na cadeira. Os ingredientes vêm de fornecedores certificados e chegam à fábrica própria do grupo – a primeira certificada orgânica do Brasil desde 2008, com selos do IBD e Ecocert. Ali, regra absoluta: só se produz ingredientes naturais, sem contaminação cruzada com químicos sintéticos.

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Desde o fim de outubro, Porto Alegre passou a ter um espaço que traduz, na prática, o ideal de clean beauty. Instalado no Bourbon Carlos Gomes, o Bioma Brisa propõe uma experiência sensorial que prioriza a saúde, o bem-estar e o impacto ambiental positivo.

O atendimento segue a lógica da personalização, em que cada cliente passa por uma avaliação que considera histórico, hábitos e necessidades específicas, sem protocolos genéricos. Entre os destaques de tratamentos e terapias, a ventosa capilar tem chamado atenção por estimular a circulação do couro cabeludo, além do diagnóstico detalhado do fio.

“Geralmente as pessoas têm que escolher entre ir ao salão ou ao spa. Aqui, elas têm os dois em um só lugar: o spa do cabelo”, resume Silvia Cruz Perrone, empresária à frente da unidade gaúcha.

Mais do que tendência, a beleza limpa propõe um gesto de consciência. O ponto de partida são perguntas simples: de onde vem esse ingrediente? A marca tem certificações? É transparente sobre a composição? Cris Dios acredita que o consumo consciente nasce dessa curiosidade.

Se antes a embalagem bonita era fundamental para a decisão de compra, hoje o processo mudou. “Tem que haver confiança, propósito e responsabilidade por trás”, finaliza Cris.

*Sob supervisão de Mauren Xavier