Calor extremo no Sudeste e chuva torrencial no Sul: saiba o que está ocorrendo com o clima no Brasil
Enquanto termômetros rompem marcas históricas no Rio e São Paulo, enchentes e vendavais causam estragos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina
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A semana começa com um país dividido. Pelo menos no clima. Enquanto os termômetros rompem marcas históricas e a sensação térmica chega a incríveis 52ºC às 8h no sudeste do Brasil, no Sul, volumes excessivos de chuvas causam alagamentos e enxurradas e, associados a fortes temporais, destelham casas e causam destruição. Os dois eventos, contudo, apesar de causarem consequências opostas, estão relacionados.
Segundo explica a MetSul Meteorologia, um ciclone extratropical aparece nas imagens de satélite na altura das Ilhas Malvinas. “A frente fria associada a este ciclone se estende até sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul. O sistema frontal não consegue romper o bloqueio de uma massa de ar quente sobre o Brasil. Esta massa de ar é extraordinariamente quente e uma corrente de vento (jato) em baixos níveis traz ar superaquecido em altitude pelo interior do continente até o Rio Grande do Sul, garantindo a energia para a formação do sistema de tempestade”, detalha.
Estael Sias, meteorologista da MetSul, pontua que esta semana será, nas suas palavras, “memorável em eventos meteorológicos”. Em um período já marcado por muitos extremos com o El Niño, parte do Brasil sofre com uma brutal onda de calor, enquanto outra região enfrenta tempestades e volumes excessivos de chuva com enchentes.
O El Niño, que favorece bloqueios atmosféricos e calor excessivo no Centro do país, tem influência nesta onda de calor. Para a MetSul, no entanto, a sua intensidade excepcional sugere ainda uma influência de mudanças climáticas.
Em São Paulo, marcas históricas já foram superadas e calor deve se intensificar | Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil / CP
Rio 40 graus
A vida não imitou a arte, ela superou. Nesta segunda-feira a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou aos 52,7ºC às 8 horas da manhã em Guaratiba, na zona oeste da cidade, de acordo com o Sistema Alerta Rio, sendo a maior sensação de calor registrada para o horário. No começo da manhã, a temperatura mais alta registrada foi de 36,4ºC também em Guaratiba.
No domingo, 12, a temperatura no Rio de Janeiro bateu recorde no ano. Os termômetros chegaram a 42,5°C em Irajá, na zona norte. O recorde anterior havia sido observado no dia 17 de fevereiro, com 41,8°C. Segundo o Alerta Rio, a sensação térmica na estação Irajá chegou a bater 50,5°C, por volta 13h55. O calor levou cariocas e turistas às praias, que ficaram lotadas.
E vem mais por aí. A MetSul insiste que se trata de um evento de calor “histórico, singular e extraordinário” que “nesta semana vai reescrever a climatologia do Brasil com máximas sem precedentes” e possibilidade de quebra do recorde nacional de calor de 44,8ºC, do Mato Grosso, no ano de 2020.
A estação mantida pelo Instituto Nacional de Meteorologia no Mirante de Santana, na zona Norte de São Paulo, registrou no domingo uma temperatura máxima de 37,1ºC, a maior máxima já observada no mês de novembro na cidade. “Máximas ainda mais altas que as de ontem são esperadas nesta segunda-feira e nos próximos dias na cidade de São Paulo, o que ameaçará o mais importante dos recordes de calor que é o de temperatura máxima absoluta, de toda a série histórica e para qualquer mês do ano”, adverte a MetSul.
Oficialmente, a maior temperatura observada até hoje na cidade de São Paulo foi de 37,8ºC, registrada no Mirante de Santana durante uma intensa onda de calor na América do Sul em 17 de outubro de 2014.
Em Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, famílias estão fora de casa devido as enchentes | Foto: Jeferson Souza / Prefeitura de Dom Pedrito / CP
Águas de novembro no Sul
Um sistema de tempestades se formou sobre o Rio Grande do Sul na madrugada desta segunda-feira com chuva localmente torrencial, muitos raios e temporais localizados. Imagens de satélite da madrugada desta segunda-feira mostravam nuvens de grande desenvolvimento vertical sobre o estado, ou seja, muito carregadas e com potencial de gerar elevados acumulados de chuva e tempestades localizadas de vento ou granizo.
“A temperatura no topo das nuvens em alguns pontos do território gaúcho em horas da madrugada desta segunda atingia valores entre -80ºC e -90ºC, ou seja, as partes mais altas das nuvens atingiam grandes alturas na atmosfera e apresentavam um potencial elevado de temporais e chuva intensa”, explica a MetSul.
A Defesa Civil estadual alertou para a ocorrência de temporais em todo o Rio Grande do Sul, entre 13 e 17 de novembro. São esperadas chuvas intensas em todas as regiões do Estado. Além disso, não se descarta a ocorrência de rajadas intensas de vento e a queda de granizo. Na terça-feira, as fortes chuvas vão ficar mais restritas à metade norte do RS, abrangendo Fronteira Oeste, Missões, Norte, Região dos Vales, Serra, Litoral Norte e Região Metropolitana.