Churrasco junta rivais e mantém a tradição

Churrasco junta rivais e mantém a tradição

Costume gaúcho é uma forma de unir familiares e amigos, mesmo aqueles que torcem por outros times

Kyane Sutelo

Professor aposentado Julio Cesar Pannebecker (de vermelho), morador da zona Norte de Porto Alegre, costuma fazer churrasco nos parques da cidade

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O churrasco é a síntese de coisas importantes para muitos gaúchos. Assar uma carne, seja ela de ave, de gado ou suína, é tradição que costuma ser aprendida de pequeno. E a mística do churrasqueiro que começa seu processo escolhendo a carne, preparando o fogo e não sai do lado da churrasqueira até estar tudo pronto. Além de comida, ele é também evento. Afinal, quem nunca foi convidado para um churrasco? E, desde o ano passado, teve a autorização oficial de ganhar as ruas.

A permissão do uso de churrasqueiras em espaços públicos em 2022 legalizou uma prática comum na Capital dos pampas: fazer um assado nos parques e praças. É o caso do professor aposentado Julio Cesar Pannebecker, morador da zona Norte de Porto Alegre. “Vamos sempre fazer churrasco no Parque Chico Mendes ou na Praça México”, conta ele.

Churrasco representa tudo isso e também economia. O Rio Grande do Sul, conforme dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), possui mais de 9 milhões de bovinos e R$ 8,07 bilhões de valor bruto da produção, com base no rebanho declarado de 2021. O gaúcho produz e também consome. Para não pesar no bolso no supermercado ou açougue, vale dividir entre o pessoal para cada um levar o seu “quilinho”.

Churrasco é goleada

Mas dividir mesmo, só a conta, porque a proposta do churrasco é unir. A polaridade da dupla GreNal é uma prova de que, ao redor do fogo, todo mundo se dá bem. “Fazemos sempre entre gremistas e colorados o churrasco”, detalha o Tricolor Pannebecker, enquanto coloca as carnes na churrasqueira e escuta aquela corneta – também tradicional dos gaúchos – sobre o seu time, do amigo colorado. 

Quem também prova que fazer um assado une rivais do futebol é o Douglas Rodrigues. O trabalhador de frigorífico de São Gabriel aproveitou o calor do domingo para um churrasco no Parque Marinha do Brasil, na Capital. Mas ele não estava sozinho. Assava carne para 40 colorados que vieram em excursão ver o jogo do Internacional no Beira Rio, logo ao lado do parque. Ele como único gremista, foi escalado para a churrasqueira, é claro. “É o segundo churrasco que eu faço. Vamos ver se vai sair tudo certinho”, conta. Acostumado a ver o pai assar, ele dificilmente iria fazer feio.

Os assados ao ar livre, segundo Douglas, são mais comuns na Capital, já que no interior ele afirma que os churrascos são feitos em casa ou nos CTGs. Mas Douglas destaca que é importante, ao utilizar praças e parques para assar uma carne, não prejudicar o meio ambiente. Ele levou sacolas para guardar o lixo sem sujar. “Tem que cuidar sempre da natureza. Ainda mais aqui, que é um lugar lindo e bem cuidado”, elogiou, se referindo ao Marinha do Brasil.


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