Clientes lotam postos de combustíveis em Porto Alegre

Clientes lotam postos de combustíveis em Porto Alegre

Apesar do aumento da demanda, Sulpetro diz que não há desabastecimento

Felipe Samuel

Carros formavam filas em um posto localizado na avenida Ipiranga, na Azenha

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Os bloqueios realizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas principais rodovias gaúchas geraram preocupação na população quanto à possibilidade de desabastecimento em postos de combustíveis. Diante desse cenário, muita gente correu ao postos de combustíveis de Porto Alegre, nesta terça-feira, para encher o tanque. A alta demanda por gasolina provocou filas desde o começo do dia. No cruzamento das avenidas Ipiranga e Erico Veríssimo, dezenas de veículos aguardavam para abastecer. À tarde, a fila se alastrava pelas duas vias do bairro Azenha.

Em alguns locais, o preço do combustível apresentou aumento. Em postos da avenida Farrapos e da rua Voluntários da Pátria, no Floresta, onde o litro da gasolina comum era vendido a R$4,89, o movimento também foi acentuado. Um posto localizado na avenida Anita Garibaldi comercializou todo o estoque antes do meio-dia. Em outro estabelecimento, na avenida Emílio Lúcio Esteves, no IAPI, a venda de combustível se encerrou às 14h45. Apesar do receio da população, o Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do RS (Sulpetro) esclarece que não há desabastecimento das distribuidoras.

Após ouvir relatos de que poderia ocorrer desabastecimento, a educadora infantil Paula Caroline dos Santos decidiu completar o tanque do automóvel em um posto na avenida Farrapos. “Muitos pais disseram para abastecer porque em Canoas alguns postos já não têm mais combustíveis”, afirma. Enquanto abastecia o veículo, uma fila de carros se formava no local. “Completei o tanque e coloquei R$ 150,00. Estou com medo de ficar sem combustível”, observa. A gerente do posto, que prefere não se identificar, afirma que o movimento foi intenso desde o início do dia.

A expectativa era de comercializar todo o estoque até o início da tarde. O presidente do Sulpetro, João Carlos Dal’Aqua, explica os postos foram surpreendidos desde segunda-feira pelo aumento da procura por combustível. “Isso gerou um descompasso entre o que tem nos tanques e o que a gente tem de pedido. Então não há falta de produto nas bases, as distribuidoras não estão tendo falta de produto, elas estão agora racionando, estão entregando só a cota habitual que se compra normalmente”, observa. Conforme Dal’Aqua, por conta da elevação da demanda, alguns postos comercializaram todo o estoque previsto para um dia em poucas horas.

“O descompasso que está acontecendo é por uma demanda excessiva e fora do normal. Os postos podem ter ficado sem produtos efetivamente porque a gente quando pede o combustível é de um dia para o outro. Dificilmente tu consegue para o mesmo dia um produto. Se faz uma programação e te entregam no dia seguinte. E isso foi estressado nesses dias”, ressalta.

Ele acredita que muitos motoristas correram para abastecer os veículos por conta da lembrança da greve dos caminhoneiros em 2018. “O pessoal ficou com aquilo na memória ainda de que vai faltar produtos e foi correndo. É o mesmo que todo mundo ir para o banco ao mesmo tempo, pois vai faltar dinheiro no banco”, compara. Apesar dos bloqueios nas estradas afetarem a logística das transportadoras, Dal’Aqua acredita na resolução desse conflito, mas reconhece que a situação pode ser agravar se as manifestações se prolongarem pelos próximos dias.

“Os postos tem uma 'tancagem' limitada. Todo mundo trabalha com estoque de dois a três dias normalmente. Então não consegue colocar muito produto. E tem uma questão econômica, ou seja, os postos compram à vista e vendem a prazo. De uma hora para outra, para fazer uma negociação com uma distribuidora, tem alguns que podem ter mais dificuldade, mas são questões pontuais”, ressalta. Sobre variações no preço do litro da gasolina, ele garante que diferenças de preços sempre vão existir no segmento.

“Desde a redução tributária, com uma margem muito espremida, tivemos na sequência elevações do dissídio, que entrou no meio de outubro. Essa variação de preço é possível que aconteça. E cada um tem que ter a noção da competição que ele está envolvido, porque o segmento de postos tem uma competição extremamente grande, tanto que muitas vezes a Petrobras não anuncia nada e tem redução no posto. São mercados bastante variados e nesse momento gera uma incerteza muito grande. E incerteza gera uma insegurança na administração dos negócios”, justifica.

 


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