Os finais de semana têm sido marcados pelo excesso de ocorrências de trânsito em Porto Alegre. Dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que entre o final da tarde do dia 17 de outubro, uma sexta-feira, e 6h do dia 20, domingo seguinte, houve 112 sinistros em 60 horas na Capital, ou um a cada 32 minutos. Foram 62 acidentes com vítimas feridas, e uma com morte.
Os números não são isolados, se repetindo com frequência assustadora, e refletem uma realidade que vem acompanhando aspectos comportamentais da sociedade, os quais o órgão público busca estudar para reduzir as tragédias. Até a metade do mês, a EPTC já havia contabilizado 73 óbitos no trânsito de Porto Alegre, decorrentes de 72 ocorrências. “Temos visto nas nossas análises que o percentual de atropelamentos tem se mantido constante nos últimos três anos”, disse a engenheira Diva Mello Leite, coordenadora do Programa Vida no Trânsito (PVT) na EPTC.
O PVT, desenvolvido pelo Ministério da Saúde, entre outras ações faz a análise de dados sobre fatores de risco que afetam o trânsito em cidades de todo o país, e existe desde 2016, embora a Capital faça a análise das ocorrências de trânsito fatais desde 2012.
Além de serem mais vulneráveis fisicamente, idosos representam ainda o maior grupo de vítimas fatais, segundo a EPTC, enquanto os atropelamentos representam os sinistros com média de idade mais altas entre as vítimas na Capital, em torno de 52 anos. Historicamente, eles já chegaram a representar até 70% dos pedestres em óbito no trânsito da cidade.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) registrou 14 atropelamentos entre as 18h do dia 4 às 6h do dia 6
Mas isto não explica tudo: a distração pelo uso do celular e uso dos fones de ouvido, algo que independe da idade, e pode ser visto em pessoas mais jovens, também são apontados como fatores de altíssimo risco. “O fone impede que a pessoa ouça o barulho do veículo vindo em uma direção, e notamos que este fator de risco tem aumentado”, acrescentou Diva. “Muitos dos atropelamentos são resultado mesmo da desatenção”, salientou o gerente de Educação da Escola Pública de Mobilidade da EPTC, Leandro Coelho.
“Em um congestionamento, os pedestres acabam atravessando no meio dos carros que estão parados, em vez de ir até a faixa de pedestre. Aí vem uma moto entre os veículos e o atropela, o que é muito comum”, disse ainda ele. Por isso, a questão educacional tem sido reforçada nos grupos de maior risco, assim como nos pedestres e demais usuários de forma geral, para que cuidem um dos outros e façam um trânsito mais seguro. O fator pandemia também foi salientado. Com a quarentena e o isolamento na época da Covid-19, há a sensação de que é preciso “recuperar o tempo perdido” agora por meio da alta velocidade, o que pode causar armadilhas psicológicas perigosas.
“Houve, sim, um desrespeito maior às regras de trânsito depois de 2020, embora isto não tenha se limitado a Porto Alegre, mas outras capitais do Brasil tiveram o mesmo problema. Inclusive a alcoolemia aumentou”, comentou Diva. A EPTC trabalha individualmente com grupos de idosos, de maneira preventiva e educativa, e inclusive premia boas iniciativas do gênero, no caso dos idosos, em seu Prêmio de Educação para o Trânsito, cuja premiação da 17ª edição ocorre nesta quinta.
O órgão também afirma usar inteligência de dados e tecnologia para reduzir sinistralidades, modificando sinais e controlando o tráfego em vias perigosas. No entanto, convêm ao público boas práticas simples para um trânsito humanizado e respeitoso: olhar para os lados, ter calma e paciência; segurar firmemente a mão de crianças pedestres e, especialmente, manter atenção total em todos os momentos. “Principalmente para os idosos, mas para todos também, é preciso salientar a importância do autocuidado e, principalmente, conhecer seus limites”, disse a engenheira da EPTC.