"Dá desgosto viver aqui", relata moradora de casa alagada na Ilha das Flores

"Dá desgosto viver aqui", relata moradora de casa alagada na Ilha das Flores

Vento sul frustra planos de moradores do Arquipélago, mesmo com tempo mais aberto nesta sexta-feira

Felipe Faleiro

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As ilhas de Porto Alegre continuam sofrendo com os alagamentos causados pelas chuvas, principalmente nas regiões das cabeceiras dos rios que deságuam no Guaíba e Jacuí. A régua de medição manual da Ilha da Pintada seguia acima da cota de inundação, registrando na manhã de hoje a marca de 2,28 metros. Enquanto isso, mesmo com o tempo aberto desta sexta-feira, houve o temido vento sul, fazendo com que a população seguisse severamente afetada pela permanência das águas.

Na Ilha das Flores, a desempregada Rejane Beatriz Silva mora com duas filhas e quatro netos, entre eles, um bebê que necessita se alimentar com leite especial, em uma residência simples, cuja cozinha, que fica no térreo, está há inundada há semanas. Ontem, a água fria, por causa das baixas temperaturas, estava em nível inferior do que já esteve, porém, para acessar a casa, é preciso passar pela inundação, já que a residência é uma das poucas que não tem uma ponte improvisada construída.

Além da preocupação com a água em si, Rejane se diz frustrada pela falta de ajuda à comunidade. “Nos sentimos esquecidos aqui. A Defesa Civil veio somente uma vez, e quando vêm as doações, elas são entregues no começo da rua. A gente, quando fica sabendo, já não consegue ir até lá para pegar”, conta. No Dia das Crianças, a situação foi ainda mais triste, pois seus netos, segundo ela, choravam pedindo doces e brinquedos, porém a família não tem condições de comprar.

“Tive que atacar o carro que estava passando aqui na frente e implorar para conseguir algo. Aí as pessoas desceram e entregaram balas e outros doces”, relata. Na enchente do começo de setembro, uma das maiores já registradas na história de Porto Alegre, a água alcançou a altura da cerca que fica em frente a residência, e ainda foi pior em outros pontos da ilha, onde moram as filhas, fazendo com que elas precisassem se mudar para a casa da mãe.

“Perdi a pia e o fogão, e sei que nem adianta pedir como doação. Está difícil de conseguir. O Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da Ilha da Pintada já fez contato dizendo que posso pedir auxílio na semana que vem, mas e quanto tempo vai demorar para vir? Estamos vivendo aqui entre sete pessoas, mas vamos vivendo como conseguimos. No final das contas, dá muito desgosto viver aqui. Vem a água e destrói tudo”, lamenta a desempregada.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895